18 festivais de música com menos plástico e mais painéis solares
Saem de casa, calçado confortável, roupa mais ou menos da moda, e um passe para um ou vários dias de música. São os festivaleiros e o verão é deles. Contas feitas, dizem que serão mais de dois milhões os espectadores destes eventos musicais nos próximos meses. Outras contas feitas, mostram que um festivaleiro "tem uma pegada ambiental 1,8 vezes maior do que na sua vida normal".
Quem o diz é o ministro do Ambiente, que fez estas e outras contas para avançar para o programa Sê-lo Verde. Candidataram-se 21 festivais com um total de 96 medidas propostas e 18 foram selecionados. Entre eles o Primavera Sound, que arranca já para a semana no Parque da Cidade, no Porto. Os contratos são assinados esta tarde, na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa.
Trata-se de um investimento global de milhão e meio de euros, dos quais 470 mil provenientes do Fundo Ambiental, do ministério de João Pedro Matos Fernandes, sendo o restante suportado pelos promotores dos festivais. O ministério atribui um máximo de 20 mil euros por medida aprovada.
Entre as propostas selecionadas, o ministro elenca algumas das ideias inovadoras que mereceram luz (literalmente) verde do ministério: "O NEOPOP, em Viana do Castelo, vai pegar em resíduos navais para fazer barreiras sonoras, é uma belíssima solução do ponto de vista da economia circular; O Monte Verde Festival , em São Miguel, nos Açores, vai acabar com os bilhetes de papel; o Museum Festum vai usar painéis solares para o aquecimento de água e iluminação led e o Marés Vivas, em Gaia, vai usar painéis solares fotovoltaicos."
Matos Fernandes, que assume também ser frequentador de festivais, referiu ao DN que o ministério recebeu "um conjunto muito vasto de medidas", ao nível de educação ambiental, prevenção de incêndios ou dos brindes ("boa parte vai ser ecossustentável"), mas também do ponto de vista da partilha do transporte, de instalações sanitárias ecológicas ou uso de bicicletas, referiu. Outras medidas há que já deram os primeiros passos em edições anteriores dos festivais, como os copos reutilizáveis.
Futebol e queimas na mira
No entanto, esta iniciativa do Ministério do Ambiente pode não se ficar por aqui. Matos Fernandes assume que neste processo de candidatura surgiram pedidos de informação por parte de organizações de Queimas das Fitas. Questionado pelo DN sobre outros tipos de eventos de grande público que podem ser alvo de iniciativas semelhantes, como os jogos de futebol, o governante não descarta a possibilidade: "Este conjunto de medidas tem de chegar a outros públicos e os jogos de futebol podem ser opção, sim."
Esta sensibilização para as questões ambientais em larga escala é justificada pelo governo com a necessidade da educação ambiental "sair das escolas e chegar a todos os outros públicos. As alterações climáticas já não nos permitem pensar apenas nas gerações futuras", assume o ministro.
Uma urgência que, para já, chega aos festivais de verão. E as expectativas são elevadas: "Se conseguirmos reduzir o número de resíduos na medida em que esperamos, em 25%, metade do valor que estamos a distribuir será amortizado", refere o governante, garantindo que os festivais serão acompanhados de perto para avaliar da eficácia das ações no terreno.
Os festivais com Sê-lo Verde são o Milhões de Festa, Paredes de Coura, Bons Sons, Terras sem Sombra, Alive, Marés Vivas, Primavera Sound, Med Loulé, Festival Forte, Flower Power Fest Cascais, Cale e Sangriagosto, Greenweek, OceanSpirit, Quintanilha Rock, Vagos Metal Fest, Douro Rock, Being Gathering e Rodellus Music Festival para além dos já referidos NEOPOP, Monte Verde e Museum Festum.
A continuidade do projeto será depois avaliada: "Temos consciência de que estas entidades têm capacidade financeira para assegurar este tipo de iniciativas. O Sê--lo Verde a continuar, não será por muito tempo", admitiu o ministro, que espera que seja o próprio público a tornar-se cada vez mais exigente.
Para já, as intenções. O contrato com 18 festivais é assinado hoje. A guerra ao plástico, às emissões de CO2 e ao desperdício decorre, também, ao som de música.