13ª edição do LEFFEST traz Wim Wenders a Portugal
A 13ª edição do LEFFEST (a partir de hoje, até dia 24) apresenta-se sob o signo de um cineasta europeu que mantém uma ligação muito particular, profissional e afetiva, com Portugal: o alemão Wim Wenders. Mais do que isso: sendo o LEFFEST o Lisbon & Sintra Film Festival, Wenders será o convidado que, por assim dizer, irá redesenhar o arco temático e simbólico que, através do seu cinema, liga Sintra e Lisboa.
Isto porque os "filmes portugueses" de Wenders estarão em duas sessões especiais do certame: a cópia digital restaurada de O Estado das Coisas (1980), rodado na região de Sintra e, em particular, na Praia Grande, será projetada no Centro Cultural Olga Cadaval (dia 22., 22h00); em cópia também restaurada, ambas com chancela da Fundação Wim Wenders, Lisbon Story/Viagem a Lisboa (1994), terá a sua apresentação no Espaço Nimas (dia 23, 22h00). Vale a pena lembrar que Lisbon Story, centrado no encontro criativo de um engenheiro de som, interpretado por Rüdiger Vogler, com os Madredeus, contém uma emblemática participação de Manoel de Oliveira, comentando o modo como os artistas contam histórias e, de alguma maneira, desafiam o poder divino.
A presença de Wenders é sintomática de uma componente tradicional, mas essencial, no conceito fundador de um certame como o LEFFEST. Dito de outro modo: num tempo em que as formas mais poderosas de marketing promovem uma visão "tecnicista" do cinema, trata-se de continuar a defender e, mais do que isso, dar a ver as singularidades dos autores.
Entre as personalidades este ano presentes através de diversos tributos estão dois nomes do cinema português, Rita Azevedo Gomes e José Miguel Ribeiro, a par do alemão Christian Petzold ou do romeno Corneliu Porumboiu. Os exemplos "estrangeiros" de Petzold e Porumboiu são tanto mais significativos quanto o seu labor se tem distinguido pela forma metódica, para não dizer obsessiva, com que têm abordado as convulsões históricas dos respetivos países, de alguma maneira atingindo uma dimensão dramática de genuíno apelo universal.
O mais recente filme de Porumboiu, A Ilha dos Silvos, é um dos vários títulos da última edição do Festival de Cannes a ser mostrado na secção extra-competição do LEFFEST. Vale a pena citar ainda, por exemplo, O Farol, de Robert Eggers, um dos fenómenos de culto de Cannes, Os Miseráveis, de Ladj Ly, retrato oportuno e contundente das tensões do tecido social francês, e ainda o sublime Uma Vida Secreta, de Terrence Malick, tragédia íntima que refaz, com comovente serenidade, as regras do clássico filme de guerra.
E se é verdade que os filmes mais interessantes da atualidade refletem uma procura de linguagens que não se deixe enredar numa sedução beata da tecnologia, a competição do festival poderá ser uma janela aberta para a sua pluralidade (nem sempre refletida nos circuitos do mercado). Assim é Passámos por Cá, exemplo brilhante do resistente realismo britânico de Ken Loach e filme oficial de abertura (hoje, Espaço Nimas, 21h30). Vale a pena destacar ainda Violeta, do russo Kantemir Balagov (vencedor do LEFFEST/2018, com Tesnota), Tommaso, mais uma viagem introspectiva de Abel Ferrara, de novo com Willem Dafoe (uma das figuras homenageadas pelo festival), e Patrick, de Gonçalo Waddington, discreto mas fascinante diamante da mais recente produção portuguesa.