'Gisberta' sobe ao palco pela mão de Rita Ribeiro
Até ao final do mês de maio, a atriz vai ser Angelina, a mãe de Gisberta, uma transexual que foi barbaramente assassinada no Porto, em 2006. Angelina vai relatar a um jornalista (alguém no público) a história do seu "menino", desde a infância no Brasil até ao momento em que se transformou em mulher, algo que, como grande parte da sociedade, esta mãe não conseguiu aceitar.
Mas ao longo da peça são vários os sentimentos e emoções transmitidos ao espectador. Do abandono à saudade, da culpa ao arrependimento. "É um ato de contrição. Esta mãe não consegue amar um filho diferente", conta ao DN Rita Ribeiro, adiantando que Gisberta é "um espetáculo bastante atual", já que aborda um tema que ainda é tabu nos dias que correm. Para a atriz, "o sumo desta peça é saber aceitar as pessoas como elas são. E a mãe poderia ser qualquer outra pessoa que tenha preconceitos ou seja ignorante, por diversos fatores, em relação a determinados assuntos", como a transexualidade.
O autor da peça, o encenador brasileiro Eduardo Gaspar, junta-se à conversa para frisar que, "infelizmente, foi preciso acontecer um drama para que Angelina visse o tempo que perdeu sem se relacionar com o filho, só por não lhe reconhecer o direito à diferença".
Eduardo Gaspar escolheu este tema baseado em factos reais porque o mote do TR para maio - mês em que este espaço, que leva exclusivamente à cena peças de 15 minutos, faz um ano - é "Mater" (mãe). "Tinha de entregar o projeto em março. A 26 de fevereiro fez sete anos que Gisberta foi assassinada. Li a notícia num jornal e pensei: "Está aqui. É isto." Pensei nas dificuldades de aceitação e achei que seria um bom argumento para mexer com consciências."
E porque escolheu a Rita Ribeiro? "Por indicação de um amigo comum. Eu já tinha visto a Rita nos musicais do La Féria e tive algum receio que ela não aceitasse por ser algo mais humilde. Ainda bem que aceitou, porque o papel assenta-lhe na perfeição", diz o encenador.
A atriz aceitou, mas não foi logo. Outro compromisso profissional impediu-a, mas foi sobretudo o medo que se apoderou dela. "Apaixonei-me pelo texto, mas confesso que tive medo. Não é um texto fácil. Mas é muito interessante. Muito intenso. É para mexer com as pessoas, e está a ser uma grande aprendizagem pessoal e profissional", conclui Rita Ribeiro, satisfeita com a peça.