"Tisanas" sobem ao palco do Teatro do Bairro
"Tisanas - um antídoto contra o cinzento dos dias" é uma peça do encenador António Pires para três atores e uma tecnologia visual: Alexandra Sargento, Francisco Nascimento, Rafael Fonseca e "videomapping".
O cenário é minimal, com uma tela branca do lado esquerdo e quatro blocos brancos do lado oposto. Os três atores, vestidos de branco, servem também de tela para a projeção e manipulação de imagens.
O encenador António Pires construiu uma dramaturgia a partir de um texto não teatral, a partir dos pequenos poemas em forma de prosa que a artista plástica Ana Hatherly tem vindo a escrever e a publicar ao longo das últimas décadas.
Em 1969 começou com "39 Tisanas". Atualmente são "463 Tisanas", curtos textos sobre temas diversos que António Pires tem à cabeceira, como explicou à agência Lusa.
"Conheço estes pequenos poemas em prosa há imenso tempo, desde o início dos anos 1990. É um livro de cabeceira" e "acho que estas tisanas têm imenso de esperança", porque Ana Hatherly constrói e descontrói o texto e cria de novo, disse António Pires.
Os três atores da peça são palhaços, mimos, que interpretam as "tisanas" que António Pires mais gosta, juntando-lhes improsivo. " interpretação do texto, o encenador juntou-lhes truques de magia e coreografias, que são reforçadas com a vertente visual.
Há um momento em que os atores estão camuflados numa parede. Noutra cena os quatro blocos brancos do palco tornam-se em dados de jogar e num baralho de cartas.
"Formalmente [os textos de Hatherly] não são teatro. Eu gosto muito de pegar em textos não teatrais e construir espetáculos. Há uma grande liberdade, posso fazer tudo o que me apetece", disse António Pires, entre risos.
Com tamanha quantidade de tisanas, "a história é infinita, podemos interceptá-la em qualquer ponto", diz a personagem de Rafael Fonseca.
Para António Pires, estas tisanas contra o cinzento dos dias têm como ideia central a desconstrução, abordando os "sentimentos, a construção de um mundo de emoções, de impressões".
"Mesmo quando [Ana Hatherly] pinta um quadro mais negro ou triste, parece que há sempre uma esperança, volta a construir", elogiou António Pires.
Ana Hatherly, 82 anos, tem um percurso transversal pelo cinema, artes plásticas, poesia e prosa, cruzando quase sempre as diferentes expressões artísticas. Tem o nome inscrito na vanguarda da poesia e na forma como este é escrito no papel, tornando-se uma obra visual.
A peça "Tisanas - um antídoto contra o cinzento dos dias" estará em cena no Teatro do Bairro até 31 de março e integra o programa de comemoração de um ano de existência deste espaço do Bairro Alto, em Lisboa.