"Mata para poupar do sofrimento quem ama"
O que leva uma mãe a agir assim tentando matar-se e ao próprio filho?
Isso acontece num quadro em que um indivíduo tem uma perturbação tipo major (aguda), sem qualquer expectativa relativamente ao futuro. Isso leva-o a perspectivar a vida de uma forma negativa e a cometer um suicídio ou o homicídio de um filho numa perspectiva altruísta, mata para poupar ao outro o sofrimento. É o designado homicídio altruísta. Habitualmente o filicida (progenitor que mata o filho) age num quadro de grande perturbação e com alguma frequência num contexto delirante em que fantasia um quadro muito mais grave do que aquilo que vai acontecer. A morte acaba por ter uma função libertadora.
O amor obsessivo por um filho contribui para um acto destes?
O altruísmo implica que se ama o outro. É preferível que esse outro sofra agora e não sofra para sempre.
A família fala numa depressão pós-parto. Mas a criança nasceu há seis anos...
Esta doença não depende da vontade do indivíduo, mas é algo biológico. Tem um antecedente pós-parto que evoluiu para uma depressão major. E depois trata-se de um filho único a quem se tem tanto amor e em quem é depositada toda a esperança. Só se mata um filho único num quadro de grande perturbação.
O facto de o Outono agravar as depressões pode ter contribuído para este acto?
Pode. As grandes depressões major são mais propícios na Primavera e no Outono. E pode ter tido influência sim.
Que acompanhamento deverá agora ser feito a esta doente?
Vai precisar de psicofarmoterapia e também de psicoterapia, num acompanhamento muito próximo. Pelo facto de o objectivo ter falhado, esta mulher pode sentir sentimento de culpa ou julgar que os outros a culpabilizam pelo que aconteceu. Por isso é importante o apoio da família, que tem de ser esclarecida sobre o estado clínico da doente que deu origem a este acto. Caso contrário pode haver uma recaída e nova tentativa de suicídio.