"Escolhi as pessoas certas e até a Emma Thompson vem à estreia"
Como é que um rapaz de Santa Maria da Feira acaba a produzir musicais em Londres? Não tinha nenhuma ligação ao teatro, o meu sonho era o cinema. Gostava da imagem e decidi vir para Lisboa estudar realização na ETIC. Mas como precisava de dinheiro comecei a trabalhar. Sem querer, o cinema foi ficando de parte. Em 1999, nas minhas primeiras férias, fui a Londres e vi o musical Miss Saigon. Teve um enorme impacto em mim. A partir daí pensei: quero fazer parte disto.
Mas demorou a concretizá-lo…
Sim. Continuei no meu emprego, mas comecei a envolver-me. Em 2001 ofereci-me como voluntário na Porto 2001 e estive na produção de uma ópera infantil. Em 2003 participei na produção de um espectáculo, Rastos de Luz, só com gente nova - foi aí que apareceu pela primeira vez a Sofia Escobar. Foi uma experiência muito boa e muito má. Nessa altura pensei que era difícil fazer isto em Portugal.
Foi muito difícil tomar a decisão de deixar tudo e ir para Londres?
Dificílimo. Mas nesse dia senti uma sensação de liberdade. Concorri a três escolas em Londres e entrei nas três, mas optei pela Guildall School of Music and Drama em Setembro de 2007.
Esse conhecimento todo poderá ser aplicado um dia em Portugal?
É esse o objectivo. Fiz um relatório em que comparo os sistemas de produção. Aqui não há subsídios para os espectáculos. Há parcerias com empresas que investem muito dinheiro, mas que depois recebem muito dinheiro. Para as empresas é um negócio. Este modelo funcionaria em Portugal.
O mercado é bem mais pequeno.
Acredito que os portugueses querem ver teatro de qualidade. Que não querem musicais gravados. Porque o mais importante é a qualidade técnica e artística do espectáculo.
'The Last Five Years' começou por ser uma pequena produção mas está a dar que falar.
Porque escolhi as pessoas certas. O encenador Christian Burgess e os actores Lily James e Freddie Fox são muito conhecidos cá. De repente, comecei a ter muitos pedidos de bilhetes. Até a Emma Thompson vem à estreia. Fomos para a sala maior da Guildhall e tive um convite para apresentar o musical no Barbican Theatre, em Abril, algo com que nunca sonhei.
Tem planos para voltar para Portugal?
Em Outubro estreamos em Guimarães. Vai ser a apresentação da Sofia Escobar aos portugueses. Em Novembro, devemos estar em Lisboa e no Porto.
Mas vai continuar em Londres?
Nunca vou poder sair daqui. Se quiser fazer alguma coisa em Portugal tenho de ficar cá, porque é aqui que estão os grandes meios. A minha ideia é andar entre cá e lá.