Redes sociais são "a maior máquina de propaganda na história" para grupos de ódio, acusa comediante
Despido das personagens que o tornaram famoso, o ator e comediante britânico arrancou gargalhadas e aplausos num discurso em que acusou Facebook, Twitter, YouTube e Google, e quem lidera estas empresas, de serem "a maior máquina de propaganda da história" de grupos de ódio.
Sacha Baron Cohen, conhecido por personagens como "Borat" ou "Ali G", discursou na quinta-feira num evento da organização não-governamental Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) e não poupou nas palavras, nem no humor, para criticar os gigantes da tecnologia. Empresas norte-americanas que, defendeu, amplificam o discurso racista e de ódio.
"Pensem nisto. Facebook, YouTube e Google, Twitter e outros chegam a bilhões de pessoas. Os algoritmos em que essas plataformas dependem amplificam deliberadamente o tipo de conteúdo que mantém os utilizadores envolvidos - histórias que apelam aos nossos instintos mais básicos e que provocam indignação e medo", afirmou o comediante, que recebeu o prémio de liderança internacional da ADL.
Perante os membros da organização norte-americana de combate ao racismo e antissemitismo, Sacha Baron Cohen afirmou que "os demagogos apelam aos nossos piores instintos" e que as teorias de conspiração", que antes estavam confinadas a uma franja da sociedade, estão a tornar-se dominantes, muito por culpa das empresas que estão por trás das redes sociais.
"Sou apenas um comediante e ator, não um académico. Mas uma coisa está bem clara para mim. Todo este ódio e violência está a ser facilitado por um punhado de empresas de internet que representam a maior máquina de propaganda da história", considerou.
Uma máquina demolidora que promove a mentira, referiu. Para o comediante, as falsas notícias, "fake news", "superam as notícias reais, porque estudos mostram que as mentiras espalham-se mais rápido do que a verdade". E dá exemplos, com a critica mordaz a que nos habituou. "Na internet, tudo pode parecer igualmente legítimo. Breitbart [site ligado à extrema-direita] assemelha-se à BBC. As queixas de um louco parecem tão credíveis quanto as descobertas de um vencedor do Prémio Nobel. Perdemos, ao que parece, um senso compartilhado dos factos básicos dos quais depende a democracia".
Descreve as redes sociais como "um esgoto de teorias fanáticas e de conspiração que ameaçam a democracia e o nosso planeta". "Não pode ser isto que os criadores da internet tinham em mente", afirmou ao mesmo tempo que critica as empresas sediadas em Silicon Valley por não retirarem, de forma ativa, os discursos de ódio das suas plataformas.
Durante o discurso considerou positivo algumas medidas que foram anunciadas para reduzir as mensagens de ódio nas redes sociais, passos que, ainda assim, diz terem sido "superficiais". As criticas de Baron Cohen atingiram especialmente o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, que apelidou de "irresponsável" e o comparou a Júlio César durante o império romano."Pelo menos isso explica o penteado dele".
Aplaudiu, no entanto, a recente medida que o Twitter anunciou. A rede social decidiu proibir toda a propaganda política paga em todo o mundo, justificando que o alcance de tais mensagens "deve ser conquistado, não comprado". A "Google também está a fazer alterações", congratula-se, sem esquecer a rede social criada por Zuckerberg. "Se pagarem, o Facebook vai exibir os anúncios políticos que quiserem, mesmo que sejam mentira. Eles até ajudam a direcionar essas mentiras", condena.
Seguindo a lógica da gigante tecnológica, "se o Facebook existisse nos anos 1930, teria permitido a Hitler publicar anúncios de 30 segundos sobre a sua 'solução' para o "problema judaico"', dispara o comediante, que aproveitou para fazer um apelo. Pede à rede social que verifique os factos nos anúncios políticos antes de os publicar e que anúncios políticos antes de executá-los, que parem de imediatamente com as "mentiras microdirecionadas" e, "quando os anúncios forem falsos, devolvam o dinheiro e não os publiquem", pede o britânico.
Perante a atual realidade, Sacha Baron Cohen tem vontade de dizer ao Facebook, Twitter e YouTube que "o vosso produto está com defeito. Têm de o corrigir, não importa quanto isso custa e quantos moderadores têm de contratar".
No final do discurso deixou uma sugestão para que haja uma sociedade melhor, sem pessoas maltratadas, assediadas, assassinadas por causa de quem são, das suas origens ou por quem amam ou como rezam. Para que tal aconteça, diz, é parecido dar prioridade à verdade e não à mentira, à tolerância e não ao preconceito, à empatia e não à indiferença. "Talvez possamos parar a maior máquina de propaganda da história e salvar a democracia".
Numa reação enviada ao DN, fonte oficial do Facebook considerou que "Sacha Baron Cohen deturpou as posições do Facebook". "O discurso de ódio é realmente proibido na nossa plataforma. Proibimos as pessoas que defendem a violência e removemos quem elogie ou apoie esse tipo de comportamento. Ninguém - incluindo políticos - pode defender ou promover o ódio, violência ou assassinato em massa através do Facebook", acrescentou.