“O espaço tornou-se um domínio económico”
Na primeira fase de acesso ao Ensino Superior a nota mais alta registou-se no curso de Engenharia Aeroespacial, da Universidade do Porto. O último dos 30 alunos colocados neste curso entrou com média de 194,5 valores. Notas estratosféricas para os engenheiros do futuro.
O engenheiro Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Portuguesa (AEP), diz ao DN que os alunos que se sentem atraídos pelo curso também já perceberam que este lhes garante empregabilidade, mesmo que nem todos acabem a desenhar foguetões ou satélites espaciais. “Isto não significa que todos os alunos vão trabalhar no setor espacial. Agora, só para lhe dar um exemplo, por ano talvez tenhamos uns 230 alunos formados. Muitos deles trabalham em áreas conexas da engenharia”. Até porque, explica o presidente da AEP, “a engenharia aeroespacial não é mais do que uma evolução, muito específica, de áreas como a mecânica, a física, a engenharia eletrotécnica”. “Eu, por exemplo, sou engenheiro eletrotécnico”, exemplifica. “As engenharias sempre foram dominadas por estas engenharias clássicas. Houve foi uma especialização”.
Os novos engenheiros aeroespaciais que saem das universidades têm mercado de trabalho, não só em Portugal, como fora do país. “O nosso domínio de ação, em Portugal, é o mundo e, em particular, a Europa. Portugal é parte da Europa e, assim como há alunos nossos que depois vão para fora trabalhar, também há muita gente, de outros países, que escolhe Portugal”.
Ainda assim, reconhece Ricardo Conde, existe “uma taxa de retenção baixa, ou seja, significa que muitos alunos, de facto, vão para fora e não regressam”. O presidente da AEP vê o copo meio cheio: “É bom ir para fora. É bom trabalhar em ambientes multinacionais, em ambientes com outras culturas, criar currículo, criar especialização e depois, eventualmente, mais tarde, voltar para Portugal”.
Ricardo Conde afiança que “o espaço tornou-se um domínio económico” e que em Portugal “há cada vez mais empresas, que são empresas de nicho”. “É bom ter experiência numa multinacional, mas as pessoas não ficam muito tempo nas multinacionais. Há uma circulação muito grande neste momento. Inclusive, em Portugal, há empresas muito pequenas que são extremamente atrativas”, afiança. “Quando digo pequenas, são empresas que têm 40, 50, 60 pessoas. E que empregam, posso dizer, aproximadamente 1800 profissionais. Isto é um número considerável, na média europeia”.
Ao mesmo tempo, Ricardo Conde dá conta de que o nosso país tem vindo a “atrair muitas empresas”. “Posso dizer que duplicou o número de empresas que atraímos nos últimos cinco anos, foi impressionante”. E dá exemplos: “Temos nomes sonantes: a Airbus, a Beyond Gravity, a RFA, a OHB. Temos estas empresas que se estabeleceram em Portugal, portanto o nosso país também é atrativo, nesse aspeto”, avança.
Ao mesmo tempo, dado o grau de excelência dos alunos, Ricardo Conde apela ao “empreendedorismo”. “Se estivéssemos nos Estados Unidos, a pergunta que um estudante faz, quando acaba o curso, é: ‘como é que eu vou criar o meu negócio?’. Na Europa ainda é muito: ‘onde é que eu vou trabalhar?’. Tem de haver uma mudança nesse sentido, temos de mudar essa cultura e ser mais empreendedores”.
O presidente da EPA exemplifica vários negócios que estes futuros engenheiros aeroespaciais podem montar: “Estamos a falar nas engenharias em particular, na propulsão, na exploração espacial, na medicina espacial, nas questões do direito espacial, fazer satélites, sensores, telecomunicações. Tudo aquilo a que hoje chamamos New Space Economy, a economia do novo espaço. Quem tiver uma boa ideia e quiser criar o seu próprio negócio hoje é muitíssimo mais fácil do que no passado. Há muitos mecanismos de apoio. Nunca houve tantos instrumentos para apoiar o empreendedorismo na Europa”, conclui.
A 2ª fase de acesso ao ensino superior arranca hoje, com 4996 vagas para preencher (o número mais baixo desde 1999).