EUA de olhos postos no céu lançam primeiro robô lunar em 50 anos
A contagem decrescente já começou. Esta segunda-feira, 8 de janeiro de 2024, os Estados Unidos lançaram um veículo de alunagem, com a missão Peregrine 1. Desde o fim do projeto Apollo que tal não acontece. Uma vez bem-sucedida, será assim a primeira vez em mais de 50 anos que uma missão americana chega à Lua.
O plano de viagem já está traçado: quando sair da Terra, o módulo vai dar duas voltas completas ao planeta e ruma então à órbita da Lua, onde está previsto que alune pouco depois de o sol nascer no satélite natural, no dia 23 de fevereiro. O local escolhido para a alunagem é um antigo fluxo de lava, Sinus Viscositatis, ou Baía da Viscosidade, assim conhecido devido à peculiaridade das formações, que sugerem uma lava de consistência invulgar. Se tudo correr como previsto, os instrumentos a bordo do robô vão medir os níveis de radiação, o gelo à superfície, estudar o campo magnético e a camada gasosa chamada exosfera. O objetivo é dar dados científicos mais sólidos para preparar um regresso do Homem à Lua (que não acontece desde a missão Apollo 17, em 1972).
A Peregrine 1 marca então o início dos lançamentos espaciais em 2024, um ano que se prevê bastante preenchido neste campo. Para já, o foco é a Lua, mas há planos para ir tão longe quanto Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Além dos Estados Unidos (que planeiam lançar a muito aguardada Artemis 2) e da Agência Espacial Europeia (que vai testar a sexta e mais recente versão de foguetes Ariane, na esperança de conseguir voltar autonomamente ao Espaço), também países como a Índia, a China ou o Japão têm lançamentos previstos ao longo de todo o ano.
Mas a missão desta segunda-feira é histórica também por outro fator: se conseguir alunar, será a primeira vez que uma operação comercial, conduzida por uma empresa privada, consegue um pouso em solo lunar e, em simultâneo, em qualquer corpo celeste. Ainda assim, a NASA tem instrumentos a bordo do módulo robótico que vai alunar.
Batizada em homenagem a um dos animal mais velozes na Terra (o falcão-peregrino), a missão não-tripulada é considerada arriscada. Segundo o diretor da Astrobotic, a empresa que vai conduzir a missão, “há muita coisa em jogo”. Citado pelo jornal inglês The Guardian, John Thornton confessava estar a viver uma “mistura de emoções”. “Há emoção e entusiasmo, mas também estou um pouco aterrorizado”. A contribuir para isto estará, certamente, o facto de o propulsor Vulcan, que vai levar o módulo, nunca ter voado - pese embora a United Launch Alliance, empresa que o construiu, ter uma taxa de sucesso de 100% nas missões que o antecederam.
Mudança de paradigma
Além disso, este voo marca também a entrada em funções do novo programa da NASA, o CLPS (Commercial Lunar Payload Services, Serviços Comerciais de Carga Lunar Útil), que prevê a contratação de empresas privadas para colocar equipamento científico na Lua. Neste caso, a missão Peregrine transporta cinco cargas úteis da NASA. Há também outras instituições, como a Universidade de Carnegie Mellon, que vão enviar material (no caso, um rover que, se lá chegar, será o primeiro robô americano a dar uma volta em solo lunar).
Esta estratégia vai ao encontro daquilo que Ricardo Conde, presidente da Agência Espacial Europeia, dizia ao DN (aquando da edição de aniversário, de 29 de dezembro) ser o futuro da exploração espacial: as parcerias público-privadas entre agências estatais (como a NASA) e outras empresas. Segundo disse então, este será o caminho a seguir, depois de décadas em que os países apostaram numa estratégia a solo. Até agora, a parceria mais frutífera foi entre a NASA e a Space X (do multimilionário Elon Musk), que realizam regularmento voos conjuntos.
No caso da Peregrine, há ainda a bordo carga não-científica. Por exemplo: a transportadora DHL incluiu “caixas lunares”, que carregam objetos como um livro e fotografias ou, até, um pequeno pedaço do Evereste. Ainda assim, algumas culturas indígenas, como o povo Navajo, manifestaram o seu desagrado com este tipo de voos, uma vez que a Lua é sagrada para muitas destas culturas. Numa carta à NASA, o líder do povo Navajo recordou esse facto e disse que colocar objetos na superfície lunar, “é visto como uma profanação”. A justificação da agência americana chegou na resposta, enviada por Chris Culbert, coordenador do programa CLPS: esta é uma missão privada, à qual a NASA se junta. Por isso, não tem poder para decidir o que vai, ou não, a bordo da Peregrine 1.
As principais missões de 2024
Janeiro. Vulcan Centaur: Os Estados Unidos vão lançar um novo foguete, o Vulcan Centaur, um novo propulsor construído pelo consórcio United Launch Alliance, constituído pela Boeing e pela Lockheed.
Abril. Dream Chaser: Em abril, a NASA planeia enviar, rumo à Estação Espacial Internacional, o vaivém Dream Chaser, construído pela empresa privada Sierra Space. É uma alternativa ao atual Dragon, da Space X, usado pela agência americana.
Maio. Chang’e 6: A China será o primeiro país a lançar um foguete com destino à Lua. A missão Chang’e 6 tem como objetivo recolher amostrar do lado escuro da Lua. Neste lançamento, haverá instrumentos franceses, italianos, paquistaneses e suecos a bordo.
Agosto. MMX: A agência espacial japonesa (JAXA) planeia lançar em agosto a missão Martian Moons Exploration (MMX), que vai estudar e recolher amostras na Phobos. A previsão é que dure três anos.
Outubro. Europa Clipper: Um dos destaques do programa espacial norte-americano acontece em outubro, com a missão Europa Clipper a sair rumo a Júpiter, para estudar a lua Europa.
Novembro / dezembro. Artemis 2: O ponto alto é a missão Artemis 2, que vai levar humanos a orbitar a Lua. Será a primeira vez desde 1972 que se sai da órbita baixa da Terra. Os astronautas são também destaque: é a primeira vez que uma mulher e um homem negro voam em volta da Lua.
Dezembro. Shukrayaan: Fruto de um forte investimento na indústria espacial e depois de alguns sucessos em 2023, a Índia planeia lançar, no final do ano, a missão Shukrayaan, que vai estudar a superfície e a atmosfera de Vénus.