Cimeira do Mundo Multipolar
De 22 a 24 de outubro corrente na cidade de Kazan, a capital da República russa do Tartaristão, teve lugar a XVI Cimeira dos Chefes de Estado dos BRICS que é um dos eventos mais importantes deste ano na política global. As delegações de 36 países participaram na Cimeira, 22 dos quais (por exemplo, Índia, China e África do Sul) foram representados ao mais alto nível, bem como os dirigentes de 6 organizações internacionais. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, esteve presente entre eles.
Atualmente, os BRICS abrangem 45% da população mundial (3,6 mil milhões de pessoas) e mais de um terço da superfície terrestre. A fatia dos Estados-membros na economia global em termos da paridade do poder de compra subiu para 36,7% segundo os resultados deste ano, o que é visivelmente superior à do G7. A taxa média do crescimento do PIB da união será 3,8% em 2024 e 2025.
A partir de 1 de janeiro de 2024, os novos membros aderiram ao grupo – Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irão. A sua integração nos mecanismos dos BRISC foi uma prioridade indiscutível da presidência russa da união em 2024, no âmbito da qual Moscovo já organizou mais de 200 eventos de vários níveis e perfis: o Fórum Empresarial, a Cimeira dos Média, o Festival das Culturas, os Jogos Desportivos, еtc. O programa tão denso serviu como uma oportunidade para construir os laços horizontais fortes entre as comunidades relevantes de vários países, contribuiu para enriquecimento mútuo.
A Cimeira de Kazan foi uma culminação do nosso trabalho na presidência dos BRICS. Esta resultou na aprovação da declaração final de 134 artigos que confirma, entre outras coisas, o compromisso do grupo de “promover a paz, uma ordem internacional mais representativa e justa, um sistema multilateral renovado e reformado, o desenvolvimento sustentável e crescimento inclusivo”.
Nenhuma atividade dos BRICS é dirigida contra outros países e baseia-se numa agenda construtiva, consensual que tem em conta atitudes dos participantes e rejeita ditame, sanções unilaterais e duplicidade de critérios.
As portas do grupo estão abertas para todos que partilham os princípios de respeito mútuo, democracia e igualdade soberana. Saliento que a nossa abordagem se difere significativamente da política das alianças ocidentais. Os seus programas de parceria realizam-se em caso de contrapartes cumprirem as diretrizes neoliberais de Washington e Bruxelas. Este princípio, por exemplo, foi consagrado no recém-publicado relatório sobre a competitividade da UE redigido por Mario Draghi, o antigo chefe do Banco Central Europeu e ex-presidente do Conselho de Ministros da Itália.
A Cimeira em Kazan contribuiu significativamente para a institucionalização dos BRICS. Foi estabelecida uma nova categoria de “Estados-parceiros”. Atualmente, há 13 países cujo estatuto de parceria já foi acordado pelos membros do grupo. Entre estes, por exemplo, estão Argélia, Bielorrússia, Cazaquistão, Cuba, Indonésia e Turquia.
Ao longo da sua história, a plataforma dos BRICS tem-se afirmado como um garante do progresso económico e social dos países emergentes e instrumento de proteção dos seus interesses financeiros. Cabe destacar que no âmbito da presidência russa a atenção especial deu-se ao estabelecimento de uma infraestrutura independente de liquidação e finanças. A realização bem-sucedida deste objetivo ambicioso permitirá aos membros do grupo minimizar os riscos geopolíticos relacionados à utilização do dólar dos EUA e tornará os fluxos de comércio e investimento mais sustentáveis.
Além das reuniões multilaterais, as delegações estrangeiras tiveram dezenas das negociações bilaterais em Kazan, e o seu trabalho foi coberto por mais de 2 mil jornalistas de 59 países. O interesse genuíno na Cimeira prova com clareza que os BRICS são uma realidade geopolítica e que a Rússia não está em isolamento internacional, como o Ocidente gosta de afirmar. O mundo está a caminhar firmemente para um sistema multipolar mais justo e democrático, que é uma força a ter em conta.
O nosso grupo é um motor da economia global, e a proximidade ou coincidência das posições dos seus membros em relação aos principais pontos da agenda global, incluindo a situação no Médio Oriente e em torno da Ucrânia, serve como o fator da estabilização no sistema moderno das relações internacionais.
Na qualidade do Presidente dos BRICS em 2024, a Rússia envidou todos os esforços para desenvolver e alargar o potencial da união. O trabalho realizado neste domínio terá o impacto mais direto na construção de uma ordem mundial verdadeiramente multipolar. Estou convencido de que os nossos parceiros brasileiros, que recebem a presidência do grupo, darão também o contributo significativo para a realização deste objetivo, que é do interesse de toda a humanidade.