Homenagem no jogo com o Marselha. Eriksson fará um último estágio pelo Benfica
O Benfica vai homenagear amanhã Sven Göran Eriksson durante o jogo da primeira mão dos quartos de final da Liga Europa, com o Marselha, um adversário especial. Segundo soube o DN, o treinador sueco, que em janeiro revelou sofrer de uma doença terminal e ter apenas cerca de um ano de vida, é esperado hoje em Lisboa para dar início a um último estágio pelo Benfica, clube que levou a duas finais europeias nas duas passagens pelo banco encarnado, num total de cinco temporadas.
O tributo ao técnico já esteve previsto para o jogo com o FC Porto, mas acabou por não viajar a conselho dos médicos. Por isso, o clube liderado por Rui Costa optou por não anunciar a homenagem de amanhã não vá existir uma contra-indicação médica de última hora. De qualquer forma, o DN sabe que o roteiro da homenagem está escrito e em andamento, tendo os dirigentes encarnados pedido autorização à UEFA para Eriksson entrar em campo no intervalo do jogo.
A ideia é recriar esse estágio que precedeu o jogo de 18 de abril de 1990 diante do Marselha. O Benfica de Eriksson trazia uma desvantagem de um golo (1-2), mas o “Inferno da Luz” queimou as ambições da equipa de Gérard Gili e as águias deram a volta à eliminatória, com um golo de Vata celebrado por 120 mil espectadores no antigo Estádio da Luz, que valeu o apuramento para a final da Taça dos Clube Campeões Europeus em 1990 (que perdeu para o AC Milan, 1-0).
A homenagem consiste em simular um estágio. Por isso foram convocados os jogadores dessa época para se apresentarem para uma concentração pré-jogo num hotel, com direito a caminhada matinal, palestra e viagem para o Estádio da Luz, onde o técnico entrará em campo para uma esperada enorme ovação, enquanto os ecrãs gigantes do recinto transmitirão imagens da marcante passagem de Eriksson pelo Benfica.
Os adeptos já tinham exigido a Rui Costa “uma homenagem em vida a Sven Göran Eriksson”, e o presidente do Benfica concordou com o tributo ao técnico sueco de 76 anos, que em março, na Gala Cosme Damião, apareceu num vídeo onde revelou que gostaria de ver mais um jogo na Luz: “Boa tarde a todos os benfiquistas. Espero que tenham uma noite muito agradável no aniversário do grande Benfica. Infelizmente não pude ir desta vez, mas espero ir ver um jogo do Benfica antes do campeonato acabar. O jogo com o Marselha seria perfeito. Tenham uma boa noite e força Benfica!”
Um desejo que irá cumprir amanhã se a saúde o deixar, depois de ter concretizado um outro recentemente: o sonho de treinar o Liverpool. Jürgen Klopp deu-lhe essa possibilidade e os reds organizaram um jogo de velhas glórias para que o sueco juntasse o Liverpool a um recheado currículo, que começou com uma Taça UEFA pelo Gotemburgo. Seguiu-se uma primeira passagem pelo Benfica, entre 1982 e 1984, com dois títulos de campeão, uma Taça de Portugal e uma final europeia perdida (Taça UEFA).
Orientou ainda a AS Roma e a Fiorentina, antes de regressar à Luz, onde de 1989 até 1992 venceu mais um campeonato, uma Supertaça e esteve em mais uma final europeia perdida, a Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1990, precisamente frente ao Marselha. Regressaria a Itália, para a Sampdoria e a a Lazio - onde ganhou a Serie A com Sérgio Conceição e Fernando Couto - e seria selecionador de Inglaterra. Trabalhou ainda no México, China, Costa do Marfim e Filipinas. O último trabalho foi como diretor-desportivo do Karlstad.
Vata convidado e triste....
Vata soube pelo DN do estado de saúde de Eriksson e confessou que se soubesse e o Benfica o tivesse convidado com mais antecedência, viria ao Estádio da Luz para a homenagem. Afinal está radicado na Austrália e tem filhos menores a seu cuidado: “A última vez que fui à Luz foi em 2014, e pelo Eriksson ia de novo. Pensei que a homenagem era por ele ter sido o nosso treinador nessa época. Fico muito triste por ele e espero que os médicos se enganem.”
O angolano representou o Benfica entre 1988 e 1991. Já tinha marcado em Marselha (1-2), mas estava com problemas físicos e começou o jogo na Luz no banco. “Estava no posto médico, e lembro-me dele [Eriksson] dizer ‘quando as coisas complicarem vou precisar de você’”. E precisou. Foi dele o golo que colocou o clube na final de Viena. O tal golo marcado... com o ombro: ”Eu era malandro, mas na minha consciência é mesmo limpinho que não fiz coisa errada. O árbitro também fala a mesma coisa, ele tem a consciência dele tranquila. Eu não posso mudar uma coisa que não sei. Não tenho nada a ganhar ou a perder mantendo ou mudando a história. A pessoa que tocou na bola fui eu e não toquei com a mão.”
Uma versão que mantém há mais de três décadas: “Não posso ficar triste por as pessoas se lembrem de mim ao fim de 34 anos. Há sempre alguma coisa que nós recordamos para sempre. Eu sou essa coisa.” É assim, sem complexos e de forma despudorada, que o autor de um dos golos mais polémicos da história do futebol mundial fala do lance que lhe valeu a glória e também algumas ameaças de morte. Com C.N.
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