Faltam mais de 136 mil casas para suprir carências
Faltam mais de 136 mil casas em Portugal para suprir as carências habitacionais da população, revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística. No estudo O parque habitacional: análise e evolução 2011-2021, o INE esclarece que, em 2021, “as carências habitacionais quantitativas existentes em Portugal eram de 136 800 alojamentos”.
Com base nos Censos de 2021, o instituto contabiliza a necessidade “de 75 494 para suprir situações de alojamentos sobrelotados ocupados por um agregado com um núcleo familiar em coabitação com outras pessoas” e “de 55 098 para suprir situações de alojamentos sobrelotados de agregados com dois ou mais núcleos familiares”.
O retrato da crise habitacional do país dá conta ainda da necessidade de 4042 casas para responder às situações de agregados domésticos a viver em alojamentos não-clássicos (barracas, casas rudimentares de madeira, alojamentos móveis ou improvisados) e de 2166 alojamentos para colmatar as necessidades de famílias com residência habitual em alojamentos coletivos.
O estudo do INE, realizado em colaboração com o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), revela ainda que a sobrelotação registou um aumento de 17,1% na década de 2011-2021 face à anterior. Em 2021, a proporção de casas com mais habitantes do que o número para que foram concebidas representava 12,7% do total de alojamentos.
Em contraponto, o INE identifica a existência de 154 075 habitações vagas em 2021, passíveis de venda ou arrendamento e sem necessidade de reparações ou com necessidade de intervenções ligeiras. Nas contas do instituto verifica-se “uma margem de 17 275 alojamentos imediatamente disponíveis para utilização” face às carências habitacionais quantitativas.
Há também a destacar que na década em análise verificou-se um abrandamento no crescimento do parque habitacional em Portugal. De acordo com os Censos 2021, registaram-se “aumentos de apenas 0,8% para os edifícios e 1,9% para os alojamentos familiares clássicos em relação a 2011”. Um “crescimento significativamente inferior ao observado em décadas anteriores”, diz o estudo.
Em Portugal, aquando dos últimos censos, existiam 3 573 416 edifícios, dos quais 49,8% foram construídos após 1980. A maioria surgiu entre 1981 e 2000 (31,9%). Só 17,9% foram edificados neste século e apenas 110 784 nasceram entre 2011 e 2021, isto é, 3,1% do total. Em 2021, o parque habitacional materializava-se em 5 970 677 casas familiares, sendo 69,4% de residência habitual, ou seja, 4 142 581 alojamentos, correspondendo a uma média de 1,44 casas por agregado.
Dos mais de quatro milhões de casas de residência habitual, 2,9 milhões estavam ocupadas pelo proprietário (70%) e os restantes 1 242 488 encontravam-se em arrendamento ou noutras situações. No caso dos proprietários, 38,4% (1 112 875) tinham encargos mensais com a aquisição, sendo que 52,8% respondiam por obrigações mensais entre os 200 e os 399 euros. Há ainda 20,7% com mensalidades entre os 400 e os 649 euros.
Nas casas arrendadas, os censos concluíram que 61,4% estavam associados a valores de renda entre os 200 e os 649 euros, sendo o valor médio mensal de 334 euros. Com valores mensais entre os 650 e os 999 euros eram 6,3% e 2,2% pagavam uma renda acima de 1000 euros.
sonia.s.pereira@dinheirovivo.pt