A União Europeia diz ter “informações credíveis” sobre a transferência de mísseis balísticos iranianos para a Rússia, o que é desmentido por Teerão, mas não por Moscovo. Os EUA dizem que, a confirmar-se, haverá “consequências significativas”. Há muito que se alerta para a hipótese de a Rússia, à imagem do que aconteceu com os drones de ataque Shahed há dois anos, começar a usar mísseis iranianos. Em fevereiro, a Reuters noticiou a entrega de 400 mísseis terra-terra Fateh-110, com um alcance de 300 quilómetros. A mesma agência noticiou no mês passado que dezenas de militares russos estavam a receber formação no Irão para operar o sistema de mísseis balísticos de curto alcance Fath-360, e que em breve centenas destes mísseis guiados por satélite seriam entregues à Rússia para atingir a Ucrânia. Na sexta-feira, o Wall Street Journal, com base em fontes europeias e norte-americanas, confirmou a transferência do armamento. À Sky News, uma fonte ucraniana disse que um navio russo transportou o material - mais de 200 mísseis - através do Mar Cáspio. “Se for confirmada, esta entrega representará uma intensificação material significativa do apoio do Irão à guerra ilegal de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, disse Peter Stano, porta-voz do serviço diplomático da UE. Do outro lado do Atlântico, o porta-voz do Departamento de Estado Vedant Patel usou um fraseado semelhante, ao falar de uma “intensificação dramática do apoio do Irão à guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”. Também no que respeita à resposta a Teerão e a Moscovo os porta-vozes estiveram em sintonia na ambiguidade. “Temos sido claros que estamos preparados para exercer consequências significativas”, disse Patel. “A UE responderá rapidamente e em coordenação com os seus parceiros internacionais, incluindo através da adoção de novas e significativas medidas restritivas contra o Irão”, disse Stano..O Kremlin não negou que o Irão lhe fornecesse mísseis, tendo dito que a Rússia desenvolvia as suas relações com Teerão como bem entendia, em especial nos domínios “mais sensíveis”. No entanto, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros iraniano, Nasser Kanani, reafirmou a posição do Irão, declarando que o seu país não era “parte no conflito” entre a Rússia e a Ucrânia. “Rejeitamos veementemente as alegações sobre o papel do Irão na exportação de armas para um dos lados da guerra”, disse. Teerão também não admite ter transferido os drones Shahed nem a sua tecnologia (passaram a ser fabricados na Rússia). A dúvida mantém-se sobre se a entrega de armas fará o clique para os aliados de Kiev mudarem a política de uso de armas suas na Rússia. Se dependesse do diretor da CIA, William Burns, o assunto estava resolvido. “Putin é um rufia. Vai continuar a ameaçar de vez em quando. Não nos podemos dar ao luxo de ser intimidados por esse tipo de retórica”, disse o antigo embaixador dos EUA em Moscovo..Avisos de Kara-Murza.O opositor Vladimir Kara-Murza disse à AFP que seria uma honra poder encontrar-se com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. JOEL SAGET / AFP.Quem também adverte para não ceder ao líder russo é Vladimir Kara-Murza, opositor libertado na mais recente troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente. “É muito importante que Vladimir Putin não possa ter uma saída para salvar a face desta guerra na Ucrânia”, declarou em entrevista à AFP. Kara-Murza, sobrevivente de dois envenenamentos e a meses de prisão em solitária, acusa as políticas condescendentes ocidentais de ter criado “o monstro que é hoje” Putin. “Se, Deus nos livre, o regime de Putin puder apresentar o resultado desta guerra como uma vitória e sobreviver no poder, tudo o que isso significa é que, daqui a um ano ou 18 meses, estaremos a falar de outra guerra, conflito ou outra catástrofe”, considera. cesar.avo@dn.pt