Bombeiros sapadores reunidos esta manhã de urgência. Pedem regresso às negociações
Após os momentos de tensão nos protestos de terça-feira junto ao edifício sede do Governo, os bombeiros sapadores reúnem-se hoje em Conselho Geral para analisar as propostas apresentadas pelo Executivo relacionadas com a revisão do estatuto profissional, mas também novas formas de luta. Antes do encontro, pediram ao Governo que retome negociações.
Em declarações aos jornalistas, Fernando Curto, presidente da Associação Nacional de Bombeiros Profissionais, disse que veio "pedir ao Governo e ao secretário de Estado que reate as negociações o mais rapidamente com os sindicatos", que "são instituições credíveis e representam os trabalhadores".
Fernando Curto também pediu aos "bombeiros profissionais, nomeadamente os sapadores, que se unam, mas de maneira mais ordeira e mais organizada".
"Para que possamos manter aquilo que é a nossa postura, o nosso trabalho em relação à defesa dos bombeiros de todo o país", explicou.
Por seu turno, Sérgio Carvalho, líder do Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais, admitiu que existiram excessos "próprios de uma multidão", mas responsabilizou o executivo pela tensão, porque não está disponível para negociar. "Quem suspendeu as negociações foi o Governo, não foram os sindicatos", afirmou.
Se o Governo não valorizar os sindicatos na sua negociação, a contestação vai crescer e "vão continuar a acontecer estes movimentos", não apenas nos bombeiros.
"É transversal a toda a sociedade portuguesa e mundial", disse, numa referência a grupos inorgânicos que podem ultrapassar as estruturas tradicionais representativas.
Afirmou que as futuras formas de luta dos sapadores, caso o Governo não retome as negociações, serão decididas pela plataforma sindical, mas irão respeitar a lei.
Sérgio Carvalho acusou o Governo de não querer discutir com os sindicatos e de estar a empurrar a classe para as mãos de movimentos inorgânicos.
Recordando o que se passou na terça-feira, com uma grande manifestação de sapadores que recorreu a petardos para fazer pressão à margem da reunião, Sérgio Carvalho admitiu que são "dinâmicas das multidões" e "movimentos que os sindicatos entendem e apelam a alguma tranquilidade".
Mas para que exista essa tranquilidade, é necessária abertura do Governo, o que não tem sucedido, acusou, recordando que a tutela, no passado "aumentou em mais de dez anos a idade das reformas" e cortou salários, "sempre à revelia dos sindicatos".
Para Fernando Curto, o "Governo não pode desvalorizar os bombeiros profissionais, neste caso os sapadores, em detrimento das forças de segurança", que já chegaram a acordo com o Governo para aumentos nos subsídios de risco.
A Associação Nacional de Bombeiros Profissionais (ANBP) e o sindicato Nacional de Bombeiros Profissionais (SNBP) realizam esta reunião, que tem caráter de urgência, com a presença de dirigentes sindicais e delegados de todo o país, segundo a Lusa.
Conselho Geral acontece após os protestos de centenas de bombeiros sapadores que exigiram "respeito" e dignidade pela profissão junto ao Campus XXI. Além das palavras de ordem, foram lançados petardos e bombas de fumo em frente ao antigo edifício da Caixa Geral de Depósitos, onde decorria uma nova reunião entre sindicatos e os secretários de Estado da Administração Interna, Telmo Correia, da Administração Local, Hernâni Dias, e da Administração Pública, Marisa Garrido.
Bombeiros são "pessoas de bem que nunca falharão no socorro ao país e à população"
No caderno atual de negociações, aprovado pelos sindicatos, está prevista a discussão da tabela salarial, as aposentações, horários de trabalho, reforço de efetivos e sistema de avaliação, explicou Sérgio Carvalho, do Sindicato Nacional dos Bombeiros Profissionais.
Contudo, em cada nova ronda negocial, o "governo quer discutir coisas novas" para "não negociar o caderno" previsto.
Na revisão salarial, os sindicatos querem que a tutela mantenha as sete categorias de bombeiro sapador, mas atualizadas para o nível 14, o que iria permitir um aumento do atual salário-base de 1.075 euros para 1.280 euros.
Este aumento iria "corrigir os 22 anos de falta de aumentos salariais", explicou Sérgio Carvalho, pedindo que seja feito o reconhecimento dos "complementos remuneratórios que foram concedidos a outras forças de segurança".
Os baixos salários estão a prejudicar a renovação dos quadros nos concursos, acusa: "Não estamos a ter jovens a concorrer a bombeiro. Ninguém quer receber 1.075 euros e arriscar a vida".
Caso o Governo insista em não negociar, Sérgio Carvalho admitiu novas formas de luta, sublinhando no entanto que os bombeiros são "pessoas de bem que nunca falharão no socorro ao país e à população".
"Vamos avançar com todos os protestos que os bombeiros entendam avançar dentro da normalidade, da legalidade e do que é possível pela constituição portuguesa", disse, acrescentando: "Nós salvamos vidas e em momento algum um bombeiro vai deixar de salvar uma vida por razões sindicais, religiosas, políticas ou outra".
Contudo, a decisão será sempre dos profissionais: "Não será o nosso sindicato a decidir pelos bombeiros".
Na sequência dos protestos, o Comando Metropolitano de Lisboa (COMETLIS) da PSP informou, em comunicado, que vai elaborar um auto de notícia sobre a “manifestação não legalmente comunicada” dos bombeiros sapadores e remetê-lo ao Ministério Público (MP), “com a identificação dos diversos organizadores e participantes”.
O COMETLIS indicou que a “PSP só teve conhecimento desta manifestação através das redes sociais, tendo, com base nessa informação, estabelecido um dispositivo policial, no sentido de garantir a segurança e ordem pública”.
A PSP referiu ainda que a manifestação foi composta “em maioria, alegadamente” por bombeiros pertencentes ao Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa e que “não foi comunicada à Autoridade Administrativa competente, conforme previsto na lei”.
Esta força de segurança considerou "inadequados este tipo de protestos que vão contra as disposições legais em vigor, facto agravado pela utilização, por parte dos manifestantes, de artigos de pirotecnia (factos que serão devidamente identificados no Auto de Notícia a remeter ao MP) que colocaram em risco a integridade física dos polícias (que se encontram no local para proteger pessoas e bens), dos jornalistas que se encontram a desempenhar a sua missão de prestação de informação e demais cidadãos surpreendidos, na via pública, por esta ação”.