EPA/HAITHAM IMAD
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Maioria dos portugueses (79%) quer um cessar-fogo em Gaza

Não há justificação para ataques do Hamas (83%), nem para a ofensiva militar de Israel (66%). Mas há um pouco mais de simpatia pelo lado israelita (23%) do que pelo palestiniano (21%).
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Um pouco mais de três meses depois do início do conflito, a maioria dos portugueses não encontra justificação para o ataque terrorista do Hamas a Israel (83%), nem para a subsequente ofensiva militar israelita em Gaza (66%). E pede, por isso, um cessar-fogo (79%), de acordo com uma sondagem da Aximage para o DN,  JN e TSF. Ainda assim, é evidente a divisão quando se pergunta por qual dos lados têm mais simpatia: 23% inclinam-se para os israelitas e 21% para os palestinianos.

Foi a 7 de outubro que os militantes do Hamas invadiram o sul de Israel, matando cerca de 1300 pessoas, a maioria civis, e fazendo cerca de 240 reféns, incluindo crianças e mulheres. Os israelitas responderam de imediato com um intenso bombardeamento e invadiram Gaza no final desse mês, dando início a uma guerra que já terá provocado cerca de 25 mil mortos palestinianos (a maioria crianças e mulheres) e mais de duas centenas de mortes entre os militares de Israel.

Simpatia e compreensão

Quando se pergunta aos portugueses por qual dos lados do conflito tem mais simpatia, a maioria (56%) refugia-se na ambiguidade: ou não tem a certeza (32%), ou opta por ambos os lados (24%). Em linha, aliás, com as respostas de cidadãos de sete países europeus, em sondagens da YouGov divulgadas no final do ano passado. Mas, entre os que tomam partido (44%), há uma ligeira preponderância pelo lado israelita (23%), tal como acontece entre os alemães (os mais pró-israelitas, com 29%), suecos, dinamarqueses e franceses. O lado palestiniano (com 21% em Portugal) é o que recolhe mais simpatias no caso dos espanhóis (os mais pró-palestinianos, com 27%), britânicos e italianos.

Ao contrário, quando se pergunta aos portugueses se compreendem as atitudes de cada um dos lados relativamente ao conflito, mesmo que não concordem, a compreensão tende a ser maior com os palestinianos (49%) do que com os israelitas (46%), tal como acontece entre os espanhóis, os italianos e os britânicos. Os alemães voltam a ser, também nesta questão, os que pendem mais para o lado israelita, sendo acompanhados, ainda que em menor grau, por suecos, dinamarqueses e franceses.

Violência injustificada

Compreensão com atitudes não significa, no entanto, que os inquiridos encontrem uma justificação para o nível de violência a que todos assistimos desde 7 de outubro. E essa censura é claramente maioritária, quer no caso do ataque militar israelita a Gaza (66%), quer, sobretudo, na ação terrorista do Hamas em Israel (83%).

Ainda assim, 7% dos cidadãos encontram justificação para a barbárie dos fundamentalistas islâmicos palestinianos (destacando-se, por estarem acima da média, os mais jovens, os que vivem nas regiões Norte e Sul e os que votam no PAN e na CDU).

Tal como há 24% que encontram justificação na política de terra queimada das forças armadas israelitas em Gaza (destacando-se, de novo acima da média, os mais velhos, os que vivem na região de Lisboa e os que votam no Chega, PSD e Iniciativa Liberal).

Mulheres pacifistas

Da mesma forma que é clara a maioria que recusa uma justificação para a violência de qualquer dos lados, é também elevada a percentagem dos que pedem a Israel que pare a guerra e aceite um cessar-fogo (79%), como vem sendo repetido, há vários meses ,por António Guterres. Um apelo em que se destacam os mais velhos (87%), as mulheres (mais sete pontos do que os homens) e os que votam na CDU, Iniciativa Liberal e Livre (todos acima dos 90%).

Os portugueses destacam-se, aliás, dos cidadãos dos outros sete países europeus onde se fez a mesma pergunta, em que o apelo ao cessar-fogo oscila entre os 55% (suecos) e os 73% (italianos). Ainda assim, pelo menos um em cada dez inquiridos em Portugal defende a continuação da guerra em Gaza. Os segmentos mais belicistas são os homens (mais 12 pontos do que entre as mulheres) e os que votam no Chega (cerca de um quarto).

Melhor solução é a dos dois Estados lado a lado

A maioria dos líderes políticos ocidentais tem insistido que há apenas uma solução para resolver o conflito entre israelitas e palestinianos: a formação de dois Estados lado a lado. De acordo com a sondagem da Aximage para o DN,  JN e TSF, os portugueses estão alinhados com esse objetivo (74%). A manutenção do atual estado de coisas (uma Autoridade Palestiniana com poderes limitados face a um Israel dominante) é rejeitada, ainda que por escassa margem (41% contra, 38% a favor). Menos apoio ainda recolhe a ideia de um único Estado que inclua os dois povos: 51% discordam.

Refira-se que os portugueses têm uma opinião muito semelhante à que foi percebida por uma sondagem do YouGov, no final do ano passado. Nos sete países em que se fez a mesma pergunta (Alemanha, Suécia, Dinamarca, França, Espanha, Itália e Reino Unido), a solução dos dois Estados foi a que recolheu mais apoio: entre os 60% dos franceses e os 70% dos espanhóis. No caso português, e analisando os diferentes segmentos da amostra, percebe-se que aquela que é a política oficial da ONU recebe mais apoios quanto mais velhos os inquiridos, mas também quanto maior o rendimento. No que diz respeito à forma como votam, é particularmente elevado entre os eleitores do Livre, da CDU, da Iniciativa Liberal e do PS (por esta ordem).

Manter o statu quo
Esta não foi, no entanto, a única solução testada nas sondagens. E os portugueses distinguem-se dos restantes europeus, no que diz respeito à manutenção do statu quo (um Estado de Israel e uma Autoridade Palestiniana). Mesmo que haja mais inquiridos a rejeitar essa possibilidade (41%), há uma percentagem significativa que a admite (38%). No caso dos espanhóis, os mais críticos, 81% rejeitam essa solução.

Uma terceira hipótese, a de avançar com um único Estado, que acolhesse israelitas e palestinianos, os portugueses aproximam-se dos restantes europeus: 51% rejeitam (com destaque para os mais velhos e os que votam mais à Esquerda), enquanto 30% concordam (com destaque para os que vivem no Centro e os que votam no Chega). Nos sete países já referidos, a adesão a esta possibilidade oscila entre os 20% e os 30%.

FICHA TÉCNICA
Sondagem de opinião realizada pela Aximage para DN/JN/TSF. Universo: Indivíduos maiores de 18 anos residentes em Portugal. Amostragem por quotas, obtida a partir de uma matriz cruzando sexo, idade e região. A amostra teve 801 entrevistas efetivas: 671 entrevistas online e 130 entrevistas telefónicas; 383 homens e 418 mulheres; 173 entre os 18 e os 34 anos, 209 entre os 35 e os 49 anos, 211 entre os 50 e os 64 anos e 208 para os 65 e mais anos; Norte 273, Centro 177, Sul e Ilhas 124, A. M. Lisboa 227. Técnica: aplicação online (CAWI) de um questionário estruturado a um painel de indivíduos que preenchem as quotas pré-determinadas para pessoas com 18 ou mais anos; entrevistas telefónicas (CATI) do mesmo questionário ao subuniverso utilizado pela Aximage, com preenchimento das mesmas quotas para os indivíduos com 50 e mais anos e outros. O trabalho de campo decorreu entre 16 e 20 de janeiro de 2024. Taxa de resposta: 71,04%. O erro máximo de amostragem deste estudo, para um intervalo de confiança de 95%, é de +/- 3,5%. Responsabilidade do estudo: Aximage, sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

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