De uma vez por todas: o tamanho não importa (e sim, estamos a falar disso)
O tamanho conta mesmo? Sim, mas só se não estivermos a falar do que é considerado normal. Ou seja, a menos que tenha um micropénis [menos de 10,9 centímetros em ereção] ou um megapénis [mais de 19,5 centímetros em ereção], não há razões para alarme. "Há mais preocupação do lado dos homens do que mulheres", garante o sexólogo
Júlio Machado Vaz.
Mas essa preocupação existe apenas no sentido de não ter um pénis suficientemente grande. "Há uma preocupação que não é baseada em factos, mas na ideia de que 'quanto maior o pénis, mais prazer proporciono'", acrescenta o médico.
O único estudo realizado em Portugal sobre esta matéria, da autoria do professor Nuno Monteiro Pereira, urologista e autor do livro Pénis: Da Masculinidade ao Órgão Masculino (ed. Lidel) mostra que os pénis lusos têm em média 15,8 centímetros quando estão eretos e 9,8 centímetros quando estão flácidos.
E nem estes números ou os milhares de artigos online com dados científicos parecem descansar os homens. Já que "a identidade masculina se constrói cada vez mais na afirmação através do corpo", salienta o médico urologista Nuno Monteiro Pereira.
E como os homens heterossexuais "só veem pénis dos outros homens na pornografia ou alguém que eventualmente se exibe no ginásio, consideram que não estão à altura". Por outro lado, os homossexuais sentem também mais pressão para mostrar determinado tamanho, admite. E mesmo que o médico lhes diga que não há nada de errado, "muitas vezes eles não entendem e há sempre alguém que os opere". Em Portugal, não há dados oficiais de quantas cirurgias de aumento do pénis são feitas, "porque é uma cirurgia estética e só os privados a fazem, e aí não há estatísticas". Ainda assim, o especialista acredita que serão feitas "umas dezenas, 30 a 40 por ano".
"Da minha prática clínica posso concluir que o tamanho interessa, mas não pelas boas razões, é pelo receio de não se estar à altura", aponta Júlio Machado Vaz. Confrontada com os mesmo receios, a sexóloga Marta Crawford admite que "há muitos homens que têm essa preocupação, que os acompanha ao longo da vida. Os homens têm ideia de que um pénis grande é mais cobiçado e funciona melhor, o que é errado".
E é errado porque, do ponto de vista das "relações heterossexuais, a vagina só tem terminações nervosas nos dois três centímetros da entrada, logo, no limite, basta um pénis de dois ou três centímetros", desmistifica Marta Crawford.
"Se houvesse uma relação, seria com o diâmetro e não com o comprimento, já que é o diâmetro que dá o contacto com a parede vaginal, e esta adapta-se", acrescenta Júlio Machado Vaz. Soma-se a isto o facto de que "só 30% das mulheres conseguem ter orgasmo pela penetração", sublinha a psicóloga especializada em sexologia.
Do ponto de vista masculino, quanto maior é o pénis, maior é a dificuldade de o manter totalmente irrigado, logo, é mais difícil manter em ereção.
Mas apesar do maior conhecimento, os homens "ainda constroem o conceito de virilidade ligada ao pénis", reconhece Júlio Machado Vaz: "Entre os homens, quem tiver o pénis maior é o mais macho." E é dessa construção que vem "a síndrome do pénis pequeno e com esse medo temos homens que não entram em casas de banho públicas. Isto acontece a rapazes, mas também a homens mais velhos. Juntando-se o medo que isso traga problemas na relação, e da comparação que as mulheres podem fazer com anteriores relações. E isso pode dar cabo dos dias e das noites dos homens".
Uma preocupação que poderia ter-se dissipado com o maior acesso à informação, mas que, segundo Nuno Monteiro Pereira, se mantém porque "a independência feminina trouxe aos homens cada vez mais inseguranças".
A boa notícia para quem está numa relação heterossexual é que "o pénis é pouco importante para a sexualidade, o que é importante é o homem por detrás do pénis", garante Marta Crawford. "É interessante quando o homem pensa assim: 'Eu, homem, sou mais capaz do que o meu pénis.'" A médica acrescenta que numa relação a dois "é melhor ser esperto e habilidoso". Caso contrário, "quem só tem preocupações com o seu pénis é muito mais centrado em si, e o sexo é uma coisa a dois. Se ele está a pensar só em si, o melhor é que recorra à mão e se satisfaça sozinho, não precisa de uma relação", aponta.
Certo é que, mais do que o tamanho, "as mulheres preferem mesmo é um homem habilidoso".
Isso não quer dizer que o tamanho não interesse para algumas pessoas. "Entre dois homens se calhar há mais o culto físico e eles liguem mais ao tamanho", admite Marta Crawford. Ou até algumas mulheres "acham que maior também é melhor, porque se calhar também têm pouca formação sexual". A falta de informação credível e até mesmo de educação sexual na escola são também apontadas por Júlio Machado Vaz como algumas das razões para que este tipo de preocupação exista em casos completamente infundados.
O que não exclui que existam mulheres que também tenham a ideia de que o tamanho é o mais importante. "Se as pessoas se sentem mais estimuladas por ver um pénis maior? É possível, com a pornografia veio essa ideia do power man, de não ser suficientemente macho se não tiver o pénis enorme que aparece na pornografia, e se as pessoas consomem mais pornografia, essa ideia pode estar mais enraizada", lamenta a sexóloga.
Para Marta Crawford, o segredo para uma relação satisfatória passa por não centrar toda a relação "no pénis e na penetração". "O pénis tem de ser funcional, mas o homem tem de ter outras competências", sublinha.