Fyre: a história do festival de sonho que não aconteceu
Em 2016, em Lisboa, Billy McFarland foi apresentado na Web Summit como jovem empresário visionário por ter criado uma plataforma "revolucionária" de agenciamento de artistas, chamada Fyre. Neste momento, Billy tem 28 anos, está numa prisão de Nova Iorque, já não conduz Ferraris, já não usa roupa de marca e já não brinda com champanhe ao seu sonho: "Viver como estrelas de cinema, festejar como estrelas de rock e f***r como estrelas de pornografia."
A maioria dos portugueses provavelmente nunca tinha ouvido falar de McFarland até há duas semanas, quando estreou na Netflix o documentário Fyre, que conta como McFarland teve a ideia de fazer "o maior festival do mundo", contratou trabalhadores, anunciou bandas e vendeu bilhetes para um evento que nunca aconteceu. Não pagou a ninguém e foi condenando por fraude.
Tudo aconteceu pouco depois dessa Web Summit. McFarland e o sócio, o rapper Ja Rule, viajavam num avião privado que aterrou numa ilha das Bahamas para reabastecer. Fascinados com as praias de água transparente, decidiram que aquele seria o local ideal para um festival de música. A etapa seguinte foi contratar um grupo de supermodelos para filmar um vídeo na ilha e começar a promover o evento antes mesmo de terem qualquer ideia de como se poderia pôr de pé um festival numa ilha praticamente deserta, sem esgotos nem água potável. Pagaram 250 mil dólares a Kendall Jenner para fazer uma publicação nas redes sociais a dizer que ia ao festival, puseram online esboços de "cabanas de luxo" e os quase cinco mil bilhetes esgotaram em 24 horas.
O modo como McFarland convenceu os investidores e a sua equipa de que era possível organizar um festival naquelas condições em pouco mais de três meses é um mistério. Assim como perceber como é que tantas pessoas pagaram 1300 euros (ou mais) não para ir a um festival de música (os nomes anunciados eram irrelevantes) ou para passar um fim de semana nas Bahamas (poderiam fazê-lo de outra forma), mas apenas para estarem in. Para poderem pôr uma foto no Instagram com a tag #fyrefestival e mostrar ao mundo que também poderiam "viver como estrelas de cinema". E conseguiram: afinal, no cinema também tudo não passa de uma ilusão.