Cada um vai pedalar a sua bicicleta mas PSD e CDS vão continuar a disputar lado a lado a mesma corrida. Pedro Passos Coelho notou anteontem que com a queda do seu Governo "a coligação já não existe" - sem que para isso fosse necessário qualquer "ato formal" - e nas hostes sociais-democratas e centristas a declaração foi recebida com "naturalidade"..Paulo Portas e o seu inner circle não foram apanhados de surpresa e até agradecem que doravante o caminho se alargue para que cada partido se sinta livre para afirmar a sua autonomia. Tal não significará que deixem de ser "interlocutores privilegiados", como o próprio Passos referiu à margem de um lanche de Natal com os deputados do PSD..Um vice-presidente do CDS não hesita em adiantar que a proximidade continuará a ser constante e até refere que a "convergência das palmas" veio para ficar. Dito de outra forma, explica que as bancadas parlamentares vão manter a sintonia dos últimos tempos..José Matos Correia, vice-presidente do PSD, reforça a tese ao dizer que a extinção da coligação "não é um drama" e ao recordar que "as boas relações não são de agora". Contudo, salienta que será "normal" que existam mais iniciativas legislativas "em separado", visão partilhada por fonte da direção de Portas.."Esperar, esperar e esperar" é uma regra incontornável na estratégia da anterior maioria, que vê no Orçamento do Estado para o próximo ano e nas eleições presidenciais os dois momentos para inverter a estratégia. Aí, sim, PSD e CDS vão atacar as "incoerências" daquilo a que insistem chamar "geringonça" e, em simultâneo, apostar as fichas na ideia de que são uma oposição responsável e previsível..As cúpulas de Passos e Portas esperam que a estratégia expansionista de António Costa, suportada por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa, comece a ser contrariada pela crueza dos números - e pela irredutibilidade de Bruxelas -, mas vão sinalizando ao que vão. O PSD apostará mais em áreas como a educação, a saúde ou a reforma do Estado, o CDS procurará puxar dos galões e defender o seu legado no Executivo, agitando bandeiras como as pensões, a agricultura, o turismo ou as exportações..Fonte próxima de Passos revela mesmo que quando ruir a "perceção" dos portugueses de que lhes "saiu o Euromilhões" os dois partidos não vão ter contemplações. E vão atacar com estrondo a perspetiva da "austeridade saudável" do PS. Para já, caem os reiterados apelos por eleições antecipadas, que darão lugar a desejos, carregados de ironia, de "boa sorte" a António Costa. "Não sou defensor de eleições no horizonte dos próximos mandatos [de Passos e Portas]", vinca um dirigente da antiga coligação, que espera essa "lucidez" da parte dos líderes..Nervoso miudinho é algo que ninguém acusa, até porque em abril do próximo ano os dois partidos terão as suas reuniões magnas - o PSD fará o seu Congresso nos dias 1, 2 e 3; o CDS ainda não o convocou. Aí, nas respetivas moções de estratégia, Passos (que já revelou recandidatar-se) e Portas (que ainda não desfez o tabu) apresentarão um "conjunto de orientações políticas para os próximos mandatos", como assinala Matos Correia, indicando o que pretendem fazer caso o cenário de eleições volte a estar à tona..Ninguém arrisca dizer se o ex-primeiro-ministro e o antigo vice-primeiro-ministro voltarão a selar um casamento pré-eleitoral ou, em alternativa, manterão a relação aberta entre os dois partidos. O caminho é estreito, mas nada invalida que seja trilhado lado a lado..Por outro lado, a sintonia entre os dirigentes ouvidos pelo DN é total quando questionados se o ponto final na coligação servirá para responder a pressões ou críticas internas. No CDS, Portas gere os acontecimentos de cadeirão; no PSD, Rui Rio, José Eduardo Martins e demais opositores não são, até ver, temidos..Ao ex-presidente da Câmara Municipal do Porto é feito um aviso, em jeito de desafio: "Que vá ao Congresso. Até pode marcar posição mas sabe que não consegue nada. Ele e outros... bem podem pôr a cabeça de fora."