Está por dias o envio para Nova Iorque da carta em que o governo português apresentará formalmente a candidatura de António Guterres a secretário-geral das Nações Unidas. Uma carta que formalmente será apresentada no Conselho de Segurança e na Assembleia Geral da ONU..O argumentário tem sido preparado no Ministério dos Negócios Estrangeiros envolvendo o próprio António Guterres e alguns dos principais responsáveis da estrutura do ministério, sob a coordenação da secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques. Entre os diplomatas portugueses ainda no ativo, o principal pivô a preparar a candidatura será o embaixador José Freitas Ferraz, presidente do Instituto Diplomático (e que no seu currículo conta com a experiência de ter sido assessor diplomático de António Guterres, enquanto este era primeiro-ministro, nos tempos da brasa do referendo de autodeterminação em Timor-Leste..Audições pela primeira vez.Mas o MNE fez mais: procurou diplomatas portugueses com experiência no funcionamento das Nações Unidas, mesmo que reformados. Francisco Seixas da Costa, que esteve em Nova Iorque entre 2001 e 2002, já participou em reuniões nas Necessidades de preparação da candidatura. António Monteiro, que esteve também nas Nações Unidas de 1981 a 1987, também foi convocado. E o mesmo se passa com o atual embaixador em Paris, Moraes Cabral, que esteve na ONU quando Portugal integrava o Conselho de Segurança..O trabalho em curso não visa, porém, preparar apenas a carta que será enviada para Nova Iorque. Trata-se também de preparar o candidato para um passo na candidatura que nunca existiu nos anteriores processos. Para a segunda semana de abril estão convocadas para a Assembleia Geral da ONU audições prévias aos candidatos. Guterres e os restantes terão de explicar ao que vêm e o que pensam fazer da organização..O ex-alto-comissário dos Refugiados e ex-primeiro-ministro de Portugal tem um currículo nacional e internacional que lhe permite perfeitamente sonhar com o cargo, mas enfrenta dois importantes problemas: há forte pressão para que a ONU tenha pela primeira vez uma mulher a secretária-geral e a lógica regional informal determina que o(a) sucessor(a) de Ban Ki--moon venha da Europa de Leste..Sobre a questão feminina, Guterres tenciona fazer valer a sua obra na promoção dos direitos das mulheres. Já está preparado um documento que elenca tudo o que fez em prol desta causa entre 1995 e 1999, quando foi primeiro-ministro. Inclui desde alterações no Código Penal quanto à violência conjugal (passou a ser um crime público) à criação do cargo de ministro da Igualdade. Também recorda que tentou aprovar na AR uma lei que promovia a participação das mulheres na política..A candidata mais forte parece ser Irina Bokova, búlgara, chefe da UNESCO. Mas qualquer candidatura terá previamente de merecer luz verde dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e contra Irina Bokova pesa o facto de na UNESCO ter ignorado a oposição dos EUA à adesão da Palestina.