O Ministério Público está a analisar o Banif. Numa resposta à agência Lusa, a Procuradoria-Geral da República disse estar a "analisar os elementos que têm vindo a público relacionados com a situação do Banif", sublinhando que "não recebeu qualquer participação específica sobre a questão"..A notícia chegou no mesmo dia em que Mário Centeno defendeu um novo modelo de supervisão em que as instituições sejam efetivamente responsabilizadas, para evitar casos idênticos ao do Banif no futuro. Numa audição a pedido do governo na Comissão de Orçamento e Finanças e Modernização Administrativa, o ministro das Finanças antecipou os dois objetivos centrais da proposta que ainda será trabalhada. "O governo vai promover uma reflexão alargada para que a arquitetura das instituições garanta que a supervisão bancária não gere mais Banifs e que a necessidade de responsabilizar as instituições intervenientes no sistema financeiro possa ser mais efetiva." O primeiro-ministro também referiu na comunicação ao país, no domingo, que o processo do Banif suscita a necessidade de refletir com o Banco de Portugal (BdP) e demais reguladores sobre o quadro de supervisão necessária para garantir a estabilidade do sistema financeiro. A garantia de que o modelo de supervisão mudará na legislatura surge acompanhada de críticas à atuação do BdP..Sob ataque cerrado do anterior e do atual executivo, o governador apresentou a sua versão dos factos num comunicado com 11 pontos. Remetendo a responsabilidade da elaboração do plano de reestruturação do Banif para o conselho de administração liderado por Jorge Tomé e o ónus da aprovação dos planos para a Comissão Europeia, Carlos Costa refere que só interveio no sábado. "No dia 19 de dezembro, o Ministério das Finanças informou o BdP de que não tinha sido possível concretizar a venda de ativos e passivos do Banif [...] porque todas as propostas apresentadas pelos potenciais compradores implicavam auxílio do Estado adicional, o que por sua vez implicava que a alienação apenas poderia ocorrer no contexto de resolução", lê-se no ponto seis do comunicado. A afirmação esbarra nas declarações de Mário Centeno no Conselho de Ministros de segunda-feira: "Isto foi um processo liderado pelo BdP.".O governador, que "está disponível para colaborar com a comissão parlamentar de inquérito no apuramento de todos os factos", diz que "o modelo do processo de alienação resultou das negociações entre o governo, o BdP e a Comissão Europeia, das quais resultaram condicionalismos diversos, nomeadamente quanto ao perfil dos potenciais compradores da atividade do Banif". E garante que "atuou no quadro do seu mandato e das suas competências"..Governo queria fusão com CGD .Mário Centeno revelou que o governo pretendia adotar outra solução para o Banif. "O governo preferia a recapitalização do Banif, seguida de uma fusão com a Caixa Geral de Depósitos, mas foi impossível devido às ajudas estatais." A injeção de capitais públicos no Banif e na CGD impediram, de acordo com as regrais europeias, de adotar esta solução..O Banif estava em "em rota de liquidação", e o Eurosistema reduziu as opções disponíveis. "No dia 16 foi rejeitada a licença para um banco de transição" e o "BCE anunciou retirar o estatuto de contraparte a partir de dia 21". A liquidação seria inevitável e teria um custo de sete mil milhões para o erário público. Neste momento, a fatura potencial para o Estado é de três mil milhões..Desde final de 2012, altura em que o Banif recebeu 1,1 mil milhões de euros de ajuda pública, a Comissão Europeia considerava o Banif inviável, o que justificou a rejeição de vários planos de reestruturação. Face ao agravar da situação nas últimas semanas, o Banif não escapou à fuga de depósitos, perdendo mais de mil milhões de euros. Já sobre as garantias dos 1600 trabalhadores do Banif, dos quais cerca de metade passa para o veículo Naviget, Centeno não deu muitos esclarecimentos, garantindo apenas que os direitos dos trabalhadores foram assegurados.