Há cada vez mais hotéis que apostam no vinho e no azeite para conquistar o gosto dos clientes, portugueses ou estrangeiros. Sim, uns fazem-no como adição ao que já tinham de oferta outros nascem com esse propósito. A Torre de Palma, em Monforte, mesmo estando neste espetro é diferente: foi erguido pela paixão de uma família de Coimbra pelo Alentejo..A família Barradas quis criar raízes onde elas já existiam, inspirando-se na terra de uma avó alentejana e decidiram dedicar-se à hotelaria. A ideia inicial era apostar para os lados de Elvas, mas ao visitarem os seis mil metros da herdade de Torre de Palma, que estava ao abandono, decidiram criar um hotel design de cinco estrelas, com projeto de autoria do arquiteto João Mendes Ribeiro. O local transborda de história, testemunha disso as ruínas romanas mesmo a uns minutos a pé - ou de bicicleta - do hotel. Mas há mais para descobrir, desde as já mencionadas vinhas aos cavalos do hotel..A estadia para os hóspedes no hotel começa, sempre que a meteorologia o permite - e sabe-se que no Alentejo ela é bastante generoso; com um brinde no cimo da torre que dá nome ao hotel, sempre ao por do sol, e com um vinho feito a escassos metros dali (já lá iremos). O hotel tem 19 quartos temáticos - duplos, superiores, suites e master suite - e todos têm acesso direto ao exterior, existem ainda uma piscina interior, e outra exterior, SPA, restaurante, um bar e uma adega. Engloba outras infraestruturas como uma sala de cinema, capela, cavalariças e picadeiro, horta biológica, pomar, vinha e olival, um pequeno bosque e ainda uma loja de produtos regionais..No dia que o DN visitou o hotel fomos recebidos por Luísa Rebelo, formada em psicologia, mas dedicada ao turismo, e que em conjunto com os irmãos e os pais dirigem o hotel. Depois de explicada a história do local e a forma como optaram por várias vertentes - como plantar uma horta biológica, e apostar numa adega digna de revista de arquitetura, leva-nos à adega ou o jovem enólogo, Duarte de Deus mostra, orgulhoso, o local onde se faz o vinho de Torre de Palma..Produção pequena, mas alguns detalhes a piscar o olho ao hóspede, como a possibilidade de, na altura das vindimas, de fazer a pisa das uvas; uma loja e provas regulares na adega, num espaço quase litúrgico. História, comida e vinho, a trilogia que Torre de Palma oferece..Anos depois de ter estado à frente da cozinha do L'and and Vineyards, em Montemor-o-Novo onde conquistou uma estrela Michelin, o chef Miguel Laffan volta ao Alentejo para liderar a cozinha do restaurante Palma, - inserido no hotel Torre de Palma. Ao contrário do que se possa imaginar, a escolha do chef não fui para uma aposta em alta gastronomia, mas sim pratos que retratem a "essência da cozinha alentejana". Exemplos? Há uma lista deles no menu pensado pelo chef natural de Cascais. Empada de pato assado no forno a lenha (11 euros), a açorda alentejana de bacalhau com piso de coentros (14 euros), ou a presa de porco de raça Alentejana com migas de espargos verde (26 euros), o lombo de novilho com molho de assinatura Miguel Laffan (25 euros), o borrego merino com estufado de ervilhas , chouriças e hortelã (30 euros) que são outras das estrelas do menu criado pelo chef tendo em conta a produção própria do hotel e da região em redor. E não se esqueceu da opção vegetariana, com três pratos na carta: Estufado de ervilhas (18 euros), Caril de batata (19 euros) e Migas com textura de espargos (20 euros)..Nas sobremesas, além de uma sopa fria de morangos da Costa Vicentina e poejo (7 euros) ) o chef vai colocando na carta alguns clássicos das sobremesas locais. Provamos a sericaia e farófias. E fica desde já a dica para o leitor: se estiverem disponíveis numa eventual visita, não se privem dos sabores típicos. Outra dica: O restaurante funciona para almoços de sexta a domingo, os outros dias da semana somente ao jantar. Como se referiu, o chef não apostou no fine dinning, mas fossem os inspetores do Guia Michelin mais ligados tipicidade da comida regional do Alentejo, e menos manietados pelos costumes da mesa francesa e talvez pudesse existir uma estrela Michelin pela herdade de Torre de Palma.