Tesouros chineses, o que já foi o edifício mais alto do mundo e o whisky taiwanês
Com os seus 2,5 milhões de habitantes, a capital de Taiwan é muito mais do que as ameaças de Pequim. Junta modernidade e tradição: aprecie a vista sobre a cidade a partir do Taipei 101, mas não deixe de visitar as banquinhas de um dos mercados noturnos.
Poucos minutos antes de bater a hora certa, quem estiver de frente para a enorme estátua no topo da escadaria do memorial a Chiang Kai-shek, no centro de Taipé, pode ver os soldados de uniforme branco aproximar-se com os seus gestos mecânicos. É o render da guarda no edifício que presta homenagem ao líder que em 1949 se refugiou na ilha após perder a guerra civil chinesa para os comunistas de Mao. Uma figura hoje divisiva, com os apoiantes a considerar o líder dos nacionalistas como um herói e os detratores a denunciá-lo como um ditador. Mas apesar da tensa relação com Pequim - que vê Taiwan como província rebelde e tem reafirmado nos últimos meses estar disposta a recorrer à força para obter a reunificação - a sua capital é uma cidade vibrante, onde a preocupação com uma possível invasão chinesa existe mas pouco se sente no dia-a-dia e com muito a oferecer a quem a visita - do Museu do Palácio Nacional, onde tantos dos artefactos imperiais chineses foram trazidos por Chiang, até ao Taipei 101, que com os seus 101 andares já foi o edifício mais alto do mundo, passando pelos mercados noturnos ou ainda por um desvio até à destilaria do whisky taiwanês, o Kavalan.
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O memorial a Chiang Kai-shek é visita obrigatória: da estátua do líder às exposições.
A cidade merece mais, mas se só tiver 48 horas para lhe dedicar, o Memorial a Chiang Kai-shek é um bom sítio por onde começar. O enorme edifício branco de telhado azul destaca-se na praça da Liberdade, bem no centro de Taipé. E depois de subir os 89 degraus (um por cada ano de Chiang quando morreu) da escadaria que leva à estátua do líder guardada pelos militares de uniforme imaculado e de se maravilhar com a sua habilidade a manejar as espingardas que fazem dançar nas suas mãos, pode apanhar o elevador para visitar as exposições gratuitas no andar de baixo. A principal conta a história de Chiang, exibindo fotos do líder ao lado de outras grandes figuras, desde Franklin Roosevelt a Churchill, até às suas duas limusinas.
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No exterior, tempo para um passeio pelo parque que rodeia o memorial, onde é frequente ver grupos a fazer tai chi. Na mesma praça fica ainda o Teatro Nacional e o National Concert Hall.

Se a fome começar a apertar, tempo de seguir até ao Huasan 1914 Creative Park.
Se a fome começar a apertar, tempo de seguir até ao Huasan 1914 Creative Park. Esta antiga adega, que data do tempo da ocupação japonesa da ilha (1895-1945) e produzia sake e vinho de ginseng é hoje local de encontro para as famílias de Taipé e para turistas, com uma enorme oferta de restaurantes, lojas e até cinema, abrigando artistas que ali podem mostrar as suas obras e oferecendo a ONG um local para desenvolver as suas atividades.

Vista sobre Taipé desde o Taipei 101.
Repostas as energias, se gosta de caminhar é seguir a silhueta inconfundível do Taipei 101. Aquele que, com os seus 509 metros, já foi o mais alto edifício do mundo - até ser destronado pelo Burj Khalifa em 2009 - oferece também a quem o visita restaurantes e lojas de luxo, mas a grande atração é a visita aos 89 andar, com uma vista ímpar sobre a cidade. Subir não é barato, com os preços a andar entre os 600 dólares taiwaneses (pouco menos de 20 euros) e os 3000 (cerca de 100 euros), mas logo no elevador começa a experiência, com este a levar apenas 37 segundos a subir ao 89.º andar. E quem não recear um pouco de vento, pode ir até ao exterior, dois andares acima.
Não longe dali - por muito grande que seja uma cidade com mais de 2,5 milhões de habitantes, as principais atrações concentram-se na Velha Taipé - pode ainda dar uma espreitadela à Eslite, uma livraria que não só está aberta até às 23.00 como oferece uma vasta escolha de livros em inglês.
Se caminhar não o atrai, pode sempre apanhar o metro, funciona com umas fichas, é limpíssimo e eficiente.

A ida a um mercado noturno é incontornável.
O primeiro dia não pode terminar sem uma visita a um mercado noturno. São um ex-libris da cidade, há vários e por ali encontra de tudo. Desde máquinas coloridas a vender peluches, como as das nossas feiras, até banquinhas de comida onde a dificuldade maior é escolher.
Depois de uma noite de descanso num dos inúmeros hotéis de Taipé, está na hora de visitar o Museu do Palácio Nacional. De transportes públicos, chegar lá implica uma viagem de metro e um curto transfer de autocarro. Mas vale bem a pena. Logo a começar pela imponência do próprio edifício quase incrustado na montanha. Mas é no seu interior que se escondem os tesouros imperiais chineses. Originalmente situado na Cidade Proibida, em Pequim, durante a guerra civil entre nacionalistas e comunistas, Chiang levou com ele muitos dos artefactos quando se refugiou em Taiwan após a derrota frente a Mao. Hoje muitos podem ser vistos no museu - desde cerâmicas a caligrafia, passando por pintura e bronzes - mas duas peças destacam-se como as mais emblemáticas: a Couve de jade e o Rouxingshi, uma pedra em forma de pedaço de carne, que o visitante encontra no terceiro andar do museu.

O Rouxingshi e a Couve de Jade, dois tesouros do Museu do Palácio Nacional.
De volta ao centro, tempo para se espantar com a dimensão do Mercado das Flores de Jianguo. São metros e metros e mais metros de flores de todas as cores, com muita gente a acotovelar-se para escolher as mais frescas, sobretudo se for um sábado de manhã. Atravessando a rua, chega-se ao Mercado de Jade, com as bancas a sucederem-se exibindo brincos, anéis e pulseiras feitas com aquela pedra ornamental, que se distingue pela sua dureza.

A ida à distilaria do Kavalan permite não só provar o único whisky taiwanês como atravessar as montanhas em torno de Taipé.
Estando em Taipé, é quase imperdoável não dar uma escapadinha da cidade para visitar a distilaria do Kavalan. Situada em Yuanshan, no condado de Yilan, chegar lá exige uma viagem de carro de pouco mais de uma hora, que inclui o privilégio de ver de perto as montanhas que rodeiam Taipé e são elas próprias uma atração turísticas, proporcionando contacto com a natureza, circuitos de caminhadas e vistas incomparáveis sobre a cidade. Mas o objetivo hoje é ver o local onde se fabrica o único whisky taiwanês, que deve o nome a um dos povos indígenas da ilha e já foi eleito o melhor do mundo, em 2015 nos World Whiskies Awards.

Os dim sum do Din Tai Fung valem bem as filas para entrar no restaurante no Taipei 101.
De volta a Taipé e para a despedida - junte pelo menos a visita a um dos muitos templos da capital a esta lista, se tiver essa possibilidade - é hora de regressar ao Taipei 101, mas desta vez nada de subir. O Din Tai Fung fica no rés-do-chão e vale bem a pena esperar na fila para provar os seus xiaolongbao, uns dim sum ao estilo taiwanês, com recheio diferentes, que o vão deixar com água na boca e muita vontade de voltar a Taipé.
helena.r.tecedeiro@dn.pt
O DN viajou a convite do governo de Taiwan
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