Comecemos com um pequeno exercício. Quantas peças de design português tem o leitor em sua casa? À exceção de algum mobiliário feito por encomenda ali para os lados de Paços de Ferreira ou uma peça ou outra da Bordallo Pinheiro ou da Vista Alegre, a pergunta pode ficar sem resposta na maioria das vezes. As casas portuguesas estão hoje iguais às de outras geografias influenciadas pelo minimalismo nórdico normalmente adquirido em grandes superfícies..Para contrariar esta tendência, pelo menos um pouco, a arquiteta Paz Braga, depois de viver dez anos no Brasil, regressou ao país e percebeu que, por cá, os clientes pedem cada vez mais produtos com traços e identidade lusos..Talvez porque, como diz Paz, os produtos portugueses "usam técnicas muito antigas num proveito muito original", talvez por moda e pela quantidade de estrangeiros a viver em Lisboa que apreciam o design português..E depois de um ano a investigar o maior número de marcas portuguesas possível - muitas vezes pela internet e pelas redes sociais - abriu a loja Santo Infante, espécie de trocadilho da rua lisboeta onde está localizada: a Avenida Infante Santo. "Com muita pesquisa porque nem sempre é fácil chegar a quem faz o quê, conseguimos chegar tanto a marcas já estabelecidas como a algumas recém-criadas, hoje são quase cem." Fala no plural porque a aventura do novo espaço é feita a meias com o irmão Gonçalo Braga. Que nos responde sobre a possível abertura da de uma loja online para mostrar, e vender, os inúmeros produtos que não cabem na sua pequena loja: "É um negócio que necessita do contacto pessoal. É muito diferente ver um objeto num ecrã de computador . Mas vamos ter de ter online, até pelo número de objetos que as marcas que temos têm no seu portfólio é inevitável." E mais lojas? Talvez noutra zona da cidade ou mesmo no Porto? A resposta não é direta. Gonçalo Braga explica que não são um espaço de grandes massas: "A nossa localização é diferente do tipo de loja onde entra muita gente. Claro que estamos preparados para entrarem, verem os produtos e comprarem presentes, mas queremos crescer em projetos maiores.".Essa é a outra vertente do projeto, em que os responsáveis querem apostar em força. "Criar projetos de consultoria de decoração e arquitetura. A loja serve para uma amostra dos objetos lá expostos, mas pode funcionar como um princípio de conversa para outras coisas." Paz Braga explica que já é possível, com o número de marcas que representam, ter uma casa toda ela decorada com objetos portugueses..Quem são os clientes da loja, atualmente? "Os estrangeiros têm uma abertura maior para os nossos produtos. Ainda existe um preconceito de que o produto português é mais caro. Por vezes pode acontecer em algum tipo de produtos, mas não em todos.".De velas a peças de mobiliário tudo é português e com o objetivo de incentivar à escolha de peças de marcas portuguesas. Uma das marcas mais reconhecidas é a Olaio, mas há mais: a Mor Design, no mobiliário, a DAM com cadeiras com cortiça. Na cerâmica, Malga, Bisaro, Reshape, ClementinAtelier. A Musgo na iluminação ou Rita Sevilha em painéis de tecido, entre muitos outros. E o tal acervo não fica por aqui: "As marcas portuguesas estão abertas a fazer produtos personalizados e até a colaborarem entre si, , o que é ótimo. E continuamos a descobrir coisas novas como por exemplo aquilo que se vai passando na Ar.Co e onde vemos os novos talentos.".É possível uma casa portuguesa, com certeza, mas cheia de contemporaneidade e fabrico ancestral..filipe.gil@dn.pt