Rum, a mais doce história da Madeira
A presença de cana de açúcar na Madeira data praticamente da descoberta e início do povoamento, em 1419. Cedo vieram as primeiras canas da Sicília e o clima e a orografia únicos do novo paraíso rapidamente catapultaram a ilha para a ribalta mundial da produção de cana sacarina. Em meados do séc. XVI estava já instalada e estabelecida capacidade técnica para a transformação da planta maravilha em açúcar, mel, álcool e rum. A pureza e a fama deste último passaram por constrangimentos diversos ao longo dos tempos a que a concorrência do Brasil e a introdução da vinha não foram alheios.
Aliás, face à filoxera e outras pragas no final do séc. XVIII, houve lugar a replantação maciça de cana sacarina e à criação dos chamados engenhos de destilação. Já no séc. XX, em plena década de 80, atingiu-se o mínimo de presença da planta na ilha, de apenas cerca de 90 ha. Face aos milhares de hectares de outrora, a erosão foi quase total. Foi graças a um inteligente e bem planeado incremento que se conseguiu chegar aos cerca de 170 ha actuais, que o mundo não dispensa mais.
O rum da Madeira é rum agrícola por ser obtido exclusivamente por fermentação alcoólica e destilação do sumo de cana de açúcar. Distinguem-se por isso de todos os demais do planeta, em particular os das Caraíbas, geralmente produzidos a partir de melaço e outros sucedâneos ricos em açúcar.
Por cá é tudo mais simples, porque é também mais puro e directo. A cana de açúcar é apanhada e moída logo a seguir, criando um mosto que se decanta e filtra para garantir a maior pureza. A fermentação é o passo seguinte e pode durar vários dias. É então que acontece a destilação e o possível estágio em madeira, este por um mínimo de três anos. É assim que se distingue o Rum da Madeira Natural do Rum da Madeira Envelhecido e são esses os dois produtos base - ou categorias - do rum da Madeira. Enquanto no natural encontramos intensidade vibrante, frescura e mineralidade, no envelhecido temos corpo, estrutura e complexidade. É aqui que surgem as variantes de indicação de idade em anos: 3, 6 (Reserva), 9, 12 (Reserva Velha), 15 (Reserva Especial), 18 (Reserva Superior), 21 (Grande Reserva) ou 25. Pode ainda ter indicação do ano de produção, a profusão de referências na prateleira de uma garrafeira pode conduzir a alguma confusão junto do não iniciado, tal como acontece com o vinho do Porto.
O melhor é ir caminhando pela vereda da qualidade e ir fazendo as suas descobertas.
Sociedade de Engenhos da Calheta
Av. D. Manuel I 29
9370-133 Calheta
Tel. 291 822 264
É clássico e um dos mais antigos engenhos em laboração, iniciado em finais do séc. XIX. É imperdível a visita para ver de perto a maquinaria centenária e observar toda a azáfama da produção. Venda de rum, poncha feita com o rum da casa e bolo de mel, um dos melhores da ilha. Visita guiada e prova terça a sábado.
Vinha Alta
Estrada do Livramento
Levada do Poiso 167
9360-306 Canhas
Tel. 291 093 190
vaspirits.pt
A VA Spirits é a mais recente destilaria da ilha da Madeira. Especializada na produção de aguardentes de frutos regionais, produz também uma linha de runs especiais, marca Balancal. O sumo fresco da cana de açúcar é fermentado em pequenos lotes, para preservar ao máximo o perfil original. Envelhecimento em cascos de vinho Madeira Malvasia nas Canhas, a 500 metros de altitude,
Engenho Novo da Madeira
Parque Empresarial da Calheta, Lote 30/53
9370-221 Estreito da Calheta
williamhintonrum.com
Tel. 291 822 767
enmadeira.com
Clássica e ao mesmo tempo moderna, é uma empresa jovem que produz sob a marca William Hinton e foi criada em 2006 por um dos herdeiros da família Hinton, detentores do maior engenho de transformação de cana de açúcar da Europa dos tempos dourados, a Fábrica do Torreão. Herdou o alambique de coluna centenário, de onde ainda hoje extrai o rum.
Abel Fernandes
Rua de Nossa Senhora de Guadalupe 102
9225 - 050- Porto da Cruz - Machico
Tel. 291 562 151
É o mais pequeno produtor da Madeira e fica no Porto da Cruz, no norte da ilha. Produz desde 1982 e especializou-se em rum envelhecido. Encontramos no seu armazém dezenas de pipas de mais de 600L, rum de 15, 18, 21 e 24 anos. A prova é sempre pedagógica e deliciosa. Vale a pena ir com tempo para explorar convenientemente esta autêntica gruta de Aladino.
Engenhos do Norte - J. Faria & Filhos
Tv. do Tanque 85-97
9020-258 Funchal
Tel. 291 742 935
Fica na costa norte da Madeira, vila do Porto da Cruz, e é um dos três engenhos antigos ainda em atividade na Madeira. Construído em 1927, fruto da fusão de cerca de cinquenta existentes então na ilha, continua a produzir rum agrícola da Madeira com as máquinas da época e é o único na Europa a utilizar o vapor como força motriz. As marcas Branca, Larano e 970 são as mais antigas.
O Reizinho - Florentino Izildo Gouveia Ferreira
Rua da Levadinha 1
9100-023 Santa Cruz
Tel. 291 522 981
Criado em 1982, o engenho "O Reizinho" começou com a prática tradicional da moagem e da produção de aguardente caseira. Produz além de belíssimo rum licores, aguardentes e outras bebidas espirituosas. Personalidade magnética, Florentino Ferreira tem prazer na proximidade com os visitantes e uma prova consigo é toda uma instrução.
Nada dispensa a prova individual para perceber diferenças e encontrar o seu favorito. Apenas para ajudar na exploração, aqui ficam as características mais importantes que vai encontrar.
Cor
O Rum da Madeira é um destilado límpido e cristalino, variando na cor. O rum natural vai de incolor a amarelado; o envelhecido é mais matizado podendo apresentar-se de amarelado a topázio com reflexos dourados a esverdeados.
Cheiro
Os aromas são geralmente os característicos da cana de açúcar fermentada. No caso do rum natural, temos impresssões de fruta fresca como melão, manga e pêssego, enquanto no rum envelhecido temos mais notas adocicadas - mel e toffee de caramelo - e especiadas - canela, baunilha e pimenta. Frutos secos, tabaco e notas balsâmicas como folha de eucalipto também podem surgir.
Sabor
No caso do rum natural, o sabor é geralmente doce e leve, impondo-se no final a mineralidade e alguma secura. Quando estamos perante um rum envelhecido, podemos esperar grande complexidade e diversos escalões de impressões de boca. É a riqueza conjunta que marca a assinatura de cada um e por isso os torna inconfundíveis.