Portugal com oito novas estrelas Michelin. Marlene Vieira é a primeira portuguesa do século com a distinção
Se a alta gastronomia tem hoje em dia o protagonismo e pompa que a coloca como um dos principais objetos de desejo de grande parte das pessoas, muito deve à Andre e Edouard Michelin. No longínquo ano de 1900, foram esses dois irmãos - que geriam uma empresa de pneus - os responsáveis por criar um guia que premiasse os melhores restaurantes da França.
Na noite desta terça-feira, 125 anos depois da criação do guia, foi realizada a segunda edição da Gala do Guia Michelin exclusiva para restaurantes portugueses. Em cerimónia efetivada no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, mais oito restaurantes portugueses alcançaram a tão sonhada Estrela Michelin, maior galardão da gastronomia, com destaque para o Marlene, de Marlene Vieira, em Lisboa uma das mais ovacionadas da noite e segunda chef mulher a ser distinguida com o prémio em Portugal em quase um século.
Antes de Vieira, apenas Maria Alice Marto havia atingido tal feito. Tanto em 1993 como em 1996, foi através das suas mãos que o seu Ti' Alice, em Fátima, alcançou o galardão.
Outros oito restaurantes que já detinham duas estrelas voltaram a repetir o feito, embora ainda não tenha chegado a hora da terceira estrela estar representada em Portugal.
“Um destino gastronómico excitante e em crescimento”
A cerimónia começou com intervenções de representantes do Guia Michelin. “Temos o prazer de celebrar esta gala na cidade do Porto: passear no centro da cidade, um local que é Património Histórico, é uma maravilha, assim como caminhar nas margens do Douro, um prazer sem igual. Que cada momento da gala seja um tributo à riqueza gastronómica de Portugal”, declarou Maria Paz Robina, diretora geral da Michelin Portugal/Espanha.
Gwendal Poullence, diretor do Guia Michelin, ainda destacou que “o panorama gastronómico português continua a cativar e inspirar". " Hoje estamos aqui para reconhecer e celebrar as novas conquistas: o guia é um reconhecimento à arte dos melhores profissionais da culinária portuguesa”, assinalou, acenando ainda que Portugal é “um destino gastronómico excitante e em crescimento”.
A declaração de Poullence foi de encontro ao que disse o presidente do Turismo de Portugal, Carlos Abade, que também interveio na cerimónia. Segundo Abade, “a gastronomia portuguesa é um fator que acresce muito valor à experiência turística” e que “tem capacidade de colocar Portugal num patamar de excelência e de diversidade”.
Oito novas estrelas
O primeiro prémio a ser entregue na noite desta terça-feira foi o “Prémio Michelin Sala”, entregue a Nelson Marreiros, do restaurante Ocean (II estrelas), em Porches, “pelo profissionalismo no serviço e grande conhecimento enquanto sommelier”. Segundo Marreiros, o objetivo dele e de sua equipa é que “o cliente se sinta bem no restaurante e que não queira ir-se embora”. A seguir, Fernando da Cunha Guedes, presidente da Sogrape, entregou o “Prémio Melhor Sommelier” a Marco Pinto, do 50 Seconds, em Lisboa.
Posteriormente, a categoria “Recomendados” reconheceu mais 25 restaurantes em todo o país: foram escolhidos 12 restaurantes na região Norte, apresentados por Rui Paula, 10 na região Centro, também apresentados por Rui Paula e outros 13 nas regiões de Algarve, Alentejo e Madeira. Após as distinções na categoria, André Rinnensland, CEO da Makro Portugal, foi o responsável por entregar o Prémio Jovem Chef a José Diogo Costa, do restaurante William, no Funchal.
Já a categoria que indica restaurantes que servem “cozinha de alta qualidade a preços razoáveis”, a BibGourmand, reconheceu mais cinco casas: Canalha, de João Rodrigues e Lívia Orofino, em Lisboa; Contradição, de Óscar Geadas, em Bragança; Oma, de Luís Moreira, Porto; Terruja, de Diogo Caetano, em Alvados; e Pigmeu, de Miguel Azevedo Peres, em Lisboa.
Já o restaurante Encanto, de José Avillez, foi premiado com uma Estrela Verde, que distingue estabelecimentos que se prezam por uma abordagem sustentável - “Do solo até a mesa”, como é referido no slogan da categoria.
Portugal ganhou ainda mais oito restaurantes com uma estrela Michelin - agora são 38 no total. Uma das mais ovacionadas na apresentação da categoria foi Marlene Vieira, a primeira chef mulher em Portugal a receber o prémio neste século:. “Acreditem, não é fácil”, disse emocionada a chef, que por destino ou poesia recebeu o maior galardão da gastronomia na sua cidade natal, o Porto - “A minha terra!”, como exclamou. “A todas as mães cozinheiras, não desistam”, apelou.
Rita Magro foi outra mulher chef a se destacar na noite. O seu Blind, no Porto, uma parceria com Vítor Matos e que tem o nome inspirado na consagrada obra de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira, também recebeu uma estrela. No ano passado, Magro havia recebido o "Prémio Jovem Chef".
Além do Marlene e do Blind, receberam também uma estrela o restaurante de comida vegetariana Arkhe (João Ricardo Alves, Lisboa), Grenache (Philippe Gelfi, Lisboa), Oculto (Hugo Rocha e Vítor Matos, Vila do Conde), Palatial (Rui Filipe, Braga), Vinha (Jonathan Seiller e Henrique Sá Pessoa, Vila Nova de Gaia) e Yoso (Habner Gomes, Lisboa).
Todos os restaurantes que tiveram duas estrelas na primeira edição da Gala Michelin exclusiva para Portugal repetiram o feito, sendo estes, Alma, (Henrique Sá Pessoa, Lisboa) Antiqvvm (Vítor Matos, Porto), Belcanto (José Avillez, Lisboa), Casa de Chá da Boa Nova (Rui Paula), Il Gallo D’Oro (Benôit Sinthon, Funchal), Ocean (Hans Neuer, Porches), The Yeatman (Ricardo Costa, Vila Nova de Gaia) e Vila Joya (Dieter Koschina, Albufeira).
O sentimento do público presente não deixou de ser de frustração para grande parte da plateia. A grande expetativa para este ano era de que o Belcanto, de José Avillez, finalmente conseguisse a tão sonhada terceira estrela. O saldo mesmo assim foi positivo, sendo que Portugal soma no total agora 46 restaurantes distinguidos com as estrelas mais famosas no mundo da gastronomia.
A cerimónia da Gala Michelin 2025 no Porto teve como banda sonora músicas do grupo Expresso Transatlântico, que se apresentou entre os intervalos da atribuição dos prémios. O menu servido aos convidados teve mãos e mentes dos chefs Rui Paula, Vítor Matos e Ricardo Costa, coordenadores gastronómicos do evento.
A noite na cidade do Porto promete ainda festa sem horário para acabar para os adoradores do mundo gastronómico. Como disse Pedro Pena Bastos, que recentemente trocou o premiado Cura, em Lisboa, por um novo projeto pessoal, a consolidação da cerimónia da gala Michelin exclusiva em Portugal é algo que só faz com que o reconhecimento da gastronomia e dos chefs portugueses cresça ao redor do mundo. “Esta gala tornou-se fundamental para a nossa exposição”, sublinhou.
Confira todas as distinções da Gala Michelin Portugal 2025
Duas estrelas
Alma, (Henrique Sá Pessoa, Lisboa)
Antiqvvm (Vítor Matos, Porto)
Belcanto (José Avillez, Lisboa)
Casa de Chá da Boa Nova (Rui Paula)
Il Gallo D’Oro (Benôit Sinthon, Funchal)
Ocean (Hans Neuer, Porches)
The Yeatman (Ricardo Costa, Vila Nova de Gaia)
Vila Joya (Dieter Koschina, Albufeira)
Uma estrela
Arkhe (João Ricardo Alves, Lisboa), comida vegetariana
Blind (Rita Magro e Vítor Matos, Porto), que tem o nome inspirado na consagrada obra de José Saramago, Ensaio sobre a cegueira
Grenache (Philippe Gelfi, Lisboa), francês
Marlene, (Marlene Vieira, Lisboa)
Oculto (Hugo Rocha e Vítor Matos, Vila do Conde)
Palatial (Rui Filipe, Braga)
Vinha (Jonathan Seiller e Henrique Sá Pessoa, Vila Nova de Gaia)
Yoso (Habner Gomes, Lisboa)
BibGourmand
Canalha (João Rodrigues e Lívia Orofino, Lisboa)
Contradição (Óscar Geadas, Bragança)
Oma (Luís Moreira, Porto)
Pigmeu (Miguel Azevedo Peres, Lisboa)
Terruja (Diogo Caetano, Alvados)
Prêmio Michelin Sala
Nelson Marreiros (Ocean, em Porches)
Prémio Jovem Chef
Marco Pinto (50 Seconds, Lisboa)
Prémio Estrela Verde
Encanto (José Avillez, Lisboa)
Recomendados
12 no Norte, apresentados por Rui Paula
Bistrô By Vila Foz (Arnaldo Azevedo, Matosinhos)
Cibû (Hugo Portela, Leça da Palmeira)
Culto ao Bacalhau (Américo Peneda, Porto)
Esperança Verde (Hugo Sousa, Braga)
Flor de Lis By Vila Foz (Arnaldo Azevedo, Porto)
Kaigi (Nuno Brás e Vasco Coelho, Porto)
Le Babachris (Christian Rullan, Braga)
Mito (Pedro Braga, Porto)
Filha da Mãe (Wesley Amorim, Braga)
Real By Casa da Calçada (Emiliano Silva, Porto)
Seixo (Vasco Coelho Santos, Tabuaço)
Tokkotai (Paulo César Nogueira, Porto)
10 no Centro, apresentado por Henrique Sá Pessoa
Ceia (Renato Bomfim, Lisboa)
Conceito (Daniel Estriga, Cascais)
Izakaya (Tiago Penão e Isaac Jorge Penão, Cascais)
Las dos Manos (Kiko Martins, Lisboa)
MEmórias Santar (Luís Almeida, Santar)
Omakase Ri (William Vargas, Lisboa)
Oven (Hari Chapagain, Lisboa)
Prosa (João Covas e Rui Paula, Aveiro)
Safra (Sérgio Silva, Coimbra)
Vibe (Mattia Stanchieri, Lisboa)
13 no Alentejo e Algarve e Madeira, apresentados por João Oliveira
Ákua (Júlio Pereira e Liliana Abreu, do Funchal)
Restaurante Atlântica (João Sousa, Porches)
Audax (César Vieira, Funchal)
Avista Ásia (Rui Pinto e Benoît Sinthon, Funchal)
Cavalariça Évora (Catalina Viveiros, Évora)
Gazebo (Filipe Janeiro e Grácio Gomes, Funchal)
Híbrido (João Narigueta, Évora)
Legacy Winnery (Emanuel Rodriguez, Estremoz)
Mapa (David Jesus, Montemor-o-Novo)
Oxalis (Gonçalo Bita Bota, Funchal)
Restaurante F (Luís Oliveira, Portimão)
Sublime Comporta Beach Club (Diogo Gonzaga, Carvalhal)
Vistas Monte Rei (André Simão, Vila Nova de Cacela)