Flower Power, o chá que cresce em Portugal e que Ljubomir Stanisic bebe
Nina Gruntkowski, 45 anos, atende o telefone na sua plantação de chá. "Apanhámos o dia perfeito" para conversar. "Está a chover e não temos colheita", diz esta alemã, antiga jornalista e agora produtora da camélia sinensis, a planta a partir da qual se faz uma das bebidas mais populares e apreciadas do globo, mas que não se produz na Europa.
O dia anterior, seco, tinha sido de grande trabalho. Apanham as folhas à mão, primeiro de sete passos para chegar até ao chá, que pode então ser preto, branco ou verde. O local da plantação, única na Europa continental, é o Minho Litoral, e o chá Flower Power que acaba de lançar, em parceria com o chef Ljubomir Stanisic é o motivo da conversa.
Neste chá usam a folhas da planta da colheita do verão - chá verde e "flores das mesmas plantas do chá camelia sinensis" - com menos cafeína. À medida do chef protagonista de "Pesadelo na Cozinha", conhecido pelas suas fúrias? Não, antes porque o agora famoso cozinheiro foi "uma das primeiras pessoas a provar o chá verde quando tínhamos só um mini lote", conta Nina Gruntkowski ao DN. Sabia que ele tinha "uma língua fina". Depois de ter provado, foi uma das pessoas que o começou a consumir. Mais: começou a usar as flores, cristalizadas, nas suas sobremesas, conta Nina. Assim que surgiu a ideia de fazer uma blend, "pensei logo nas flores". Chamaram-lhe Flower Power Bio (caixa de madeira, 70 gramas, 28,90 €). Para degustar, é preciso água a 90ºC, durante 2 minutos.
Flower Power Bio, caixa de madeira, 70 gramas, 28,90 €. Para degustar, água a 90ºC, durante 2 minutos.
Apesar da parceria no chá, foi por causa do vinho que se cruzaram. Nina Gruntkowski é casada com Dirk Niepoort, Ljubomir Stanisic era chef do restaurante Six Senses quando se conheceram. "As pessoas do mundo dos vinhos e da cozinha cruzam-se". O conhecimento tornou-se "uma grande amizade, com ele e a mulher, Mónica".
E foi por não querer fazer um vinho mais, mas algo diferente, que Nina decidiu avançar com a plantação de chá.
"Trabalhei como jornalista freelancer, sempre para a Alemanha. Pensei introduzir os programas de rádio aqui mas são muito caros. O jornalismo vai ficar sempre comigo, mas pensei que tinha de fazer outra coisa. Sempre sonhei um dia produzir uma coisa que ficasse e não sabia o quê. O vinho está à minha frente, mas não vou fazer a mesma coisa que o meu marido faz com tanto sucesso. Quero fazer uma coisa própria", diz, relatando os passos que deu até decidir plantar as camélias sinensis. "Sempre adorei chá tanto como vinho. Adoramos chá, nunca bebemos café".
"Quando decidimos produzir chá, vimos um projeto na Suíça, há uma plantação mais de museu que fica no sul da Suíça, fronteira com Itália", conta a produtora. "As primeiras plantas também trouxemos de lá". Por lá, as tentativas nunca passaram da experiência, nunca foi comercializado, ao contrário do que acontece com o Chá Camélia.
"A nossa plantação tem um hectare e ainda nem todos atingiram os cinco anos de maturidade para a colheita", explica Nina. "A partir do quinto ano e até ao décimo produz sempre mais, depois fica estável". A primeira colheita aconteceu em 2019 - foram 12 quilos. "O ano passado já foram 50 quilos e este ano esperamos dobrar". E, alerta, a proprietária "50 gramas dá para fazer muitos bules".
As primeiras tentativas, em 2011, foram na horta de casa, no Porto, eram 200 plantas, o espaço não chegava para mais. "A primeira planta ficou com muitos rebentos na primavera." O hectare que cultivam hoje fica em Fornelo, Vila do Conde, onde os pais de Dirk Niepoort viviam e que então estava livre. "Para o chá é espectacular", diz Nina. "Este terreno nunca foi usado para vinha, não foi tratado com muita coisa e ficou parado muito tempo, é espetacular para fazer chá, a localização é certa."
Nos primeiros tempos, Nina trabalhou apenas com um jardineiro. "Convenci-o a fazer cultivar mais biológico e fizemos milagres aqui. Quase tudo à mão, porque não quero máquinas pesadas". Cinco anos depois, provaram o resultado.
"Foi muito desafiante, porque eu estava tão concentrada no cultivo que nunca tnha pensado no sabor e qualidade", começa. "Na noite anterior fiquei uma pilha de nervos. que faço se não for bom? Mas ficou muito bom. Revelou um carácter autêntico e próprio", diz Nina. O plano é produzir um chá "de excelência" mas "que não seja uma cópia"
Pensam crescer e produzir mais. "Estamos na fase de decidir, porque um hectare já dá muito trabalho. Talvez mais uma experiência, agora no Dão, onde têm uma quinta de vinho. Atualmente, vendem em Portugal e Espanha (info@chacamelia.com), trabalham com restaurantes de toda a Europa e estão a abrir a mercados nos EUA, Brasil e Ásia.