Finalmente uns ténis para calçar sem mãos... mas têm uma dobradiça. Longe de O Regresso ao Futuro
A cena marcou pelo menos duas gerações, à época, e voltou a ser repetida nas redes sociais à exaustão em 2015, altura em que se passa a história:
O viajante do tempo Marty McFly (Michael J. Fox), para salvar o futuro dos filhos, veste-se à moda desse futuro imaginado e, ao calçar as botas ténis Nike que lhe passa o cientista Emmett "Doc" Brown (Christopher Lloyd), surpreende-se ao vê-las apertarem-se sozinhas.
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Se em 1989 a invenção do realizador Robert Zemeckis e do argumentista Bob Gale deixou milhões de miúdos a salivar, volvidos 26 anos a tecnologia continuava a não acompanhar a ficção. Em 2011 e 2016 a marca de artigos desportivos norte-americana ainda criou um produto semelhante em quantidades limitadas para marcar a ocasião (ler mais abaixo), mas ficou-se por aí.
Agora, a ideia de uns ténis que se fecham sozinhos volta a surgir, mas com uma abordagem totalmente diferente., que não depende de baterias ou qualquer outro sistema elétrico.
Pelo contrário. O que os designers da Nike fizeram foi regressar ao mais simples sistema de energia disponível no ato de calçar - a humana - só que arranjaram uma forma de aproveitar o movimento de enfiar o pé no sapato para apertar o mesmo.
Meteram-lhes uma dobradiça e chamaram-lhes Nike GO FlyEase.
Como pode ver no site oficial da marca (https://news.nike.com/news/nike-go-flyease-hands-free-shoe), basta calçar os ténis para que estes se "achatem" e fechem. A abertura é igualmente fácil, com a ajuda da ponta do outro pé (o calcanhar da sola é desenhado mesmo para ajudar).
A dobradiça é basicamente uma evolução das articulações, com duas posições fixas que se encontram, por exemplo, na maioria dos frascos de ketchup.
A segurar as duas partes do sapato (os dois lados da dobradiça) está um elástico -- a que a Nike chama "tensioner" --, que é o que permite dar consistência a todo o ténis.
Apesar de poder parecer um sapato para crianças, a Nike não está de todo a apontar para este mercado. "Na Ásia, é tradicional tirar os sapatos antes de entrar em casa", diz à revista Wired o diretor sénior de Inovação para Atletas, Tobie Hatfield.
Em Portugal, com a pandemia, é também algo que começa a ser uma realidade, diga-se...
O projeto dos GO FlyEase começou há três anos, com os primeiros protótipos em bruto e um desafio de design interno, conta este responsável.
"No fim, todo o sapato foi um grande desafio. Resolve-se um problema e outro detalhe pode começar a não funcionar. Estamos habituados a isso, mas aqui causa e efeito são amplificados um pouco porque estamos literalmente a partir o sapato ao meio. Nunca o tínhamos feito antes", conta.
A Nike ainda não revela a data de lançamento exata do novo produto, mas promete para "mais tarde este ano".
Em 2011 e 2016 a Nike produziu duas quantidades limitadas de botas ténis idênticas às utilizadas por Michael J. Fox em Regresso ao Futuro II, para que fossem leiloadas.
O fabricante norte-americano justificou a atitude com o facto de não ser possível produzir os ténis sem um sistema mecânico e baterias que os tornavam relativamente pesados e pouco resistentes ao uso, pelo que deveriam ser utilizados fundamentalmente para exposição ou demonstração.
Os primeiros 1500 pares, leiloados em 2011, foram vendidos a preços entre 2300 dólares (1900 euros) e os 9959 dólares (8260 euros). Houve ainda mais 10 pares vendidos em leilões privados. Ao todo, a Michael J. Fox Foundation que financia estudos para tratamentos da Doença de Parkinson recebeu daqui 4,7 milhões de dólares (3,9 milhões de euros).
O segundo lançamento, em 2016, funcionou de forma diferente. Apenas 89 pares foram produzidos, mas foi aberto ao público mundial a venda online de "rifas" no valor de 10 dólares cada, dando a possibilidade de ganhar um destes pares.
Contas feitas no fim, a Michael J. Fox Foundation arrecadou nesse ano 6,75 milhões de dólares (5,6 milhões de euros).
Nada mau para uns sapatos que, na realidade, a única coisa que fazem é sonhar. Mas afinal, não é disso que o cinema -- e o melhor da vida -- é feito?