Está na hora de comprar um DAC. Não sabe o que é? Não há música digital sem ele
Digital to Analog Converter. Qualquer sistema de som digital, da mais sofisticada "aparelhagem" ao mais simples telemóvel ligado a uns fones tem de ter um, algures na cadeia. O DAC é o componente que "pega" no sinal digital da gravação e transforma-o no sinal analógico (corrente elétrica) que vai pôr os altifalantes a trabalhar.
Afinal de contas, independentemente do que diz o marketing das tecnológicas, vivemos num mundo analógico. Tudo o que chega aos nossos sentidos é o resultado de uma derradeira conversão dos zeros e uns da informática para o mundo real. Sejam as interferências das ondas de luz que produzem as imagens, sejam as ondas sonoras -- o ar em movimento -- que fazem vibrar os nosso tímpanos e os ossos do crânio quando ouvimos música ou outros sons, todas estas sensações transmitem-nos algo análogo à realidade (ao fenómeno, diria Kant).
Assim, relativamente à reprodução musical, quanto mais cuidado for o processamento do sinal, tanto do ponto de vista digital como do elétrico, melhor o resultado (o som) obtido.
Claro que um bom DAC não resolve os problemas de um mau sistema (uma má amplificação ou umas colunas pouco sensíveis), mas o contrário pode ser verdade: a introdução de um componente destes numa "aparelhagem" já boazinha pode dar-lhe uma nova vida. E mesmo nos sistemas móveis -- smartphones --, um pequeno DAC portátil pode ser a solução para quem tem de viajar muito e não quer ter de se limitar a ouvir música de qualidade medíocre.
A Cambridge Audio, histórica marca britânica, lançou este mês de março um novo membro da família DacMagic -- o 200M -- que visa ser um aparelho compatível com praticamente qualquer fonte digital que se queira ligar, capaz de descodificar qualquer formato existente.
É importante ter sempre em mente que um aparelho deste tipo faz a ponte entre dois mundos: o analógico (a que demos alguma atenção em cima) e o digital. E neste último caso, entramos num imenso universo de nomenclaturas que podem, ainda hoje, deixar baralhado quem nunca pensou muito nestes assuntos.
Grosso modo e tentando simplificar: o áudio digital define-se por frequência de amostragem --- medido em ciclos por segundo, hertz (hz) -- e pela profundidade de cada amostra do "som" gravado -- medido em bits.
Um CD tradicional grava o áudio com uma frequência de amostragem de 44,1 khz (kilohertz) e 16 bits. Acima disto o som é considerado de "alta resolução".
Isto no formato tradicional da codificação digital do áudio, o PCM (Pulse-Code Modulation), que atualmente pode chegar a definições de 32bit/768khz.
Existem, no entanto, outras formas de codificar som digitalmente em resoluções -- e consequentemente qualidade -- muito superiores ao tradicional CD.
Um deles é o DSD. Desenvolvido conjuntamente pela Sony e pela Philips (os mesmos "pais" do CD), o Direct Stream Digital comporta resoluções até 22,5792 MHz (512 vezes superiores ao CD).
Outro sistema importante para a nossa discussão é o MQA. Trata-se de um codec de compressão do sinal digital criado pela Meridian Audio em 2014 que consegue pegar em ficheiros áudio de alta definição e torná-los suficientemente pequenos para serem usados em serviços de streaming como o Tidal (que está progressivamente a adotar esta codificação em grande parte do seu catálogo).
Por que razão foi importante fazermos este desvio técnico? Porque o DacMagic 200M é capaz de descodificar todos estes formatos e resoluções, assumindo-se assim como um componente tão à prova de desatualização quanto é possível sê-lo.
Também é um amplificador de auscultadores e ainda tem ligação Bluetooth, para poder usar diretamente o seu telemóvel como fonte (com a necessária perda de qualidade comparativamente à ligação por cabo). Isto por cerca de 500 euros. Infelizmente, não traz comando à distância, pelo que para trocar de fonte ou aumentar o volume dos fones terá mesmo de se levantar e ir lá...
Um dos mais bem cotados e, acredite, musicalmente mais satisfatórios aparelhos deste género é o Chord Mojo. Trata-se de uma pequena peça que funciona também como DAC portátil, uma vez que inclui bateria, é pouco maior do que um maço de tabaco e pesa apenas 180g. E ainda assim consegue uma performance capaz de rivalizar com alguns aparelhos "de mesa".
Descodifica PCM até 32bit/768khz e DSD512. No entanto, nem tem Bluetooth nem é compatível com MQA, pelo que nestes dois aspetos fica a perder para o Cambridge.
Também por um preço equivalente poderá valer a pena considerar o Pro-Ject Pre Box S2 Digital, cujas características são semelhantes ao Cambridge e é, sem dúvida, um "overperformer". Este já descodifica MQA, mas se o Bluetooth é essencial para si, pode deixá-lo de fora da lista. No entanto, tem telecomando.
Para quem viaja muito e não passa sem a "sua" música, ficar-se limitado ao áudio do telefone -- e em especial à (falta de) qualidade da transmissão sem fios -- é demasiado limitador. Para curtos períodos ou para audição enquanto se faz outras coisas (como trabalhar, por exemplo), este tipo de som serve perfeitamente. Mas se se quer fazer uma audição perfecionista, é mesmo necessário comprar um DAC portátil.
O Chord Mojo é uma opção, como referido, mas vale a pena ter mais duas em conta: a linha Dragonfly, da Audioquest, e o recém-lançado Zorloo Ztella.
Os Dragonfly parecem umas pen USB, que se podem ligar ao smartphone mediante um cabo adaptador. Existem em três variantes, black, red e cobalt, e os preços oscilam entre os 100 e os 350 euros. Todos descodificam MQA, ainda que de forma limitada, e mesmo o mais barato já é um "upgrade" substancial relativamente à saída normal da maioria dos telemóveis (exceção feita ao LG V30, o smartphone que tem integrado um DAC perfecionista compatível com MQA).
O Zorloo é uma abordagem diferente. No fundo, trata-se de um cabo adaptador para fones com DAC integrado. Descodifica PCM até 384khz, DSD e MQA. Tudo por uns 100 euros.
Para quem gosta mesmo de música, e com serviços de streaming como o Tidal ou o Qobuz a disponibilizarem um catálogo cada vez mais vasto em alta resolução, não "testar as águas" deste tipo de aparelhos, com uns headphones razoáveis, é quase um crime. Se nunca usou nenhum, sugerimos que experimente um dos portáteis mais baratos e depois avance para o upgrade do sistema de casa. Os seus ouvidos e, acima de tudo, os neurónios que se acendem quando ouve aquela música que mais gosta vão agradecer-lhe.