Vista aérea da Fajã do Lago de Santo Cristo só acessível por um íngreme trilho.
Vista aérea da Fajã do Lago de Santo Cristo só acessível por um íngreme trilho.FOTO: REINALDO RODRIGUES

Entre trilhos e petiscos na Ilha de São Jorge

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No Dia de Natal de 1870, os nove tripulantes do navio de três mastros Spindrift, que cruzava o Atlântico a norte da Ilha de São Jorge, não estavam no seu melhor. Depois de já ter realizado duas viagens atlânticas, o navio - que tinha partido de Liverpool - foi assolado por uma tempestade daquelas que muitas vezes surpreendem quem por estas águas navega. Entre o mau tempo e as divergências a bordo entre os oficiais, causadas pela embriaguez destes, a tragédia foi inevitável. O navio encalhou e, assolado pelo mau tempo, foi despedaçado em duas metades em minutos.

Quem nos conta esta história é António Gomes, morador da Fajã dos Vimes que é uma espécie de historiador informal da Ilha de São Jorge. Mas não tem dúvidas de que foi assim que se estabeleceu um dos produtos mais reconhecidos, e provavelmente com mais procura, da Ilha de São Jorge e único no arquipélago dos Açores: as ameijoas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo.

A história da Calheta, um dos dois municípios da ilha, é feita dos que cruzaram estes mares e por aqui ficaram, mas também das fajãs, plataformas aplanadas resultantes dos deslizamentos de terra formados pelo escoamento de lava que invadiu o mar ou pela atividade sísmica que, de tempos a tempos, assola a ilha.

Os habitantes foram encontrando nestas enseadas, férteis e abrigadas das intempéries, locais privilegiados para o cultivo e acesso ao mar.

A Ilha de São Jorge é, no seu todo, uma exibição da beleza da natureza em estado bruto. Porém, para se chegar ao recanto e às iguarias que vivem junto à Fajã do Santo Cristo - como o peixe fresco, as lapas e os bivalves descendentes do navio britânico que aqui naufragou no século XIX - é necessário fazer uma saudável caminhada ou então arranjar uma boleia numa Moto4, visto que só estes veículos motorizados conseguem percorrer o estreito e íngreme caminho que separa enseadas. Na pequena fajã, com os seus dez habitantes, respira-se calma e, com sorte, ainda se prova um petisco.

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