Aspirantes a estilistas fazem o público da ModaLisboa

No penúltimo dia da 60.ª edição da ModaLisboa, o público não é apenas observador, mas é também um estilista disfarçado.
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João Macedo, estudante de design de moda na faculdade de arquitetura, de 19 anos, veste orgulhosamente para a ModaLisboa a herança da sua terra, o Minho. O vestido foi um trabalho que fez para a faculdade, no qual utilizou os bordados dos lenços de namorados e umas antigas calças de ganga.

Na parte da frente do vestido pode-se ler a frase bordada: "Aqui tens meu coração e chave pró abrir" - uma frase com significado muito especial. O estudante de moda explicou ao DN que a avó enviava lenços bordados para o avô que esteve na guerra do ultramar. "Isto foi uma mensagem que ela lhe mandou".

O que João Macedo gosta mais na semana de Moda em Portugal é que não há separação de elites. "Podemos estar a conviver com toda a gente, não há muito aquela separação de vips ou seguidores. Estamos aqui e toda a gente está na boa, podemos estar a conversar com quem quisermos". A oportunidade que a ModaLisboa dá aos jovens estilistas é também importante para João Macedo. "O facto de darem oportunidade a designers mais novos como o Sangue Novo de estarem incluídos é muito bom", acrescenta.

O estilista que o jovem mais quer ver é o Luís de Carvalho por ser "um homem do Norte" e "inventar de uma maneira muito peculiar". "Ele diz que envolve a história da vida dele e acho que transparece muito bem nas coleções", explicou João Macedo.

Cássia Marceneiro, de 21 anos, também fez a balaclava prateada e futurista que está usar. "O meu look é inspirado em mim mesma", afirma.

Não é a sua primeira vez na ModaLisboa, é o segundo ano consecutivo. A estudante de moda acha que este evento é uma ótima oportunidade para os estilistas em início de carreira de promover as suas marcas e trabalhos. "É como se fosse assim uma oportunidade que temos aqui de mostrar as nossas próprias peças. As pessoas viram-se para nós e perguntam 'Wow, isto está tão lindo. De onde é que é?', ao que respondemos 'olha fui eu que fiz, é a minha marca.'"

Cássia Marceneiro gostava de ver a nova coleção de Luís Borges, mas não poderá estar presente. "Vi-o ano passado e achei incrível a criação das peças. Dos designers portugueses acompanho muito poucos, mas acho que o Luís Borges é aquele com que mais me identifico".

A jovem estudante gosta de observar os estilos das pessoas presentes, referindo que cada pessoa tem o seu próprio estilo. "Nós olhamos para isto com um propósito mais profundo e ver que cada pessoa tem uma forma diferente de se exprimir".

Corina Toderas, 31 anos, já veio várias vezes à ModaLisboa, mas desta vez trouxe uma companhia especial: a sua mãe, Elana Toderas, 50 anos, que veio ter pela primeira vez uma experiência numa semana da moda.

Naturais da Moldávia, Elana e Corina estão há 20 anos em Portugal, fazendo a sua vida num pequeno restaurante em Belém.

Com uma grande paixão pela moda, Corina Toderas é designer e stylist e não quis perder a oportunidade de vir conhecer mais uma edição da Moda Lisboa, procurando inspiração nos designers portugueses, especialmente no desfile de Béhen.

"Estou muito curiosa. Tenho amigos designers que me falaram muito bem da Béhen, então espero ficar surpreendida com a coleção", disse Corina.

Quanto à roupa que traziam vestidas, ambas decidiram jogar pelo seguro e trazer algo que "já tinham no armário". "Decidimos vir mais em cima da hora, então não tivemos muito tempo para escolher a roupa. Optámos por algo que já tínhamos e que sabemos que nos fica bem. Estamos contentes por estar aqui", admitiram.

Vaniny Alves, 30 anos, é cantora e atriz. Veio pela primeira vez à ModaLisboa em 2019 e desde aí "nunca mais parou".

Neste segundo dia do evento, veio especialmente para ver o desfile do designer Gonçalo Peixoto. "Estou muito curiosa para ver as propostas dele para este ano. No ano passado gostei muito do que vi. Gosto de ver propostas diferentes e que brinquem com o estilo", disse.

Juntamente com as ideias do stylist Rodolfo de Almeida, a roupa da cantora foi feita a partir de uma fronha de cetim. "O desenho foi feito com canetas e aproveitaram-se tecidos antigos ou estragados para fazer os adereços", explicou.

"Sempre que venho à ModaLisboa procuro trazer o conceito de upcycling. Acho que temos de reaproveitar e parar com a ideia de comprar mais roupa desnecessariamente. Vamos ser criativos e vestir qualquer coisa, inclusivamente, brincar com o que temos em casa. Vim mostrar que uma fronha também pode ser um vestido", alertou.

Quanto às próximas tendências, Vaniny acredita que "estamos a entrar numa era bastante punk e dark". "Estamos a começar a ir contra a noção de clean (limpo) e está a usar-se maquilhagens mais expressivas. É bom ir contra a onda", afirmou.

ines.dias@dn.pt

mariana.m.goncalves@dn.pt

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