AirTag. Esta medalha de 35€ é um dos produtos mais "Apple" dos últimos tempos

Entre os últimos lançamentos da marca da maçã está um pequeno produto, em dimensão e preço, que faz jus à velha máxima da marca: simplesmente funciona. Serve para encontrar qualquer objeto perdido.
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"It just works". Para muitos um mero (ainda que genial), slogan; para outros a perfeita descrição dos produtos Apple, em especial sob a batuta do mítico Steve Jobs. Facto é que a ideia de que os aparelhos eletrónicos da maçã "simplesmente funcionam" está mais ou menos enraizada na sociedade.

Independentemente da justeza ou não desta crença -- tomada por alguns de uma forma quasirreligiosa --, facto é que em muitos casos a marca de Cupertino fez história ao transformar o mercado pegando em tecnologia ou produtos que já existiam e pondo-os mais funcionais.

O melhor exemplo disso mesmo será o iPhone. Antes de Jobs tirar um do bolso, na apresentação em 2007, já existiam smartphones. A BlackBerry dominava o mercado empresarial e pessoas com aparelhos equipados com Windows CE consultavam emails na rua (e escreviam em Word...) e faziam chamadas.

Podemos voltar um pouco mais atrás e lembrar que antes do iPod havia os Walkman; ou até recuar à idade da pedra e pensar que os ratos de computador na realidade foram primeiro usados nos Xerox, não nos Apple...

O conceito da "tag Bluetooth" -- um pequeno dispositivo que se prende a qualquer objeto e ajuda o utilizador a encontrá-lo, caso o perca, avisando-o se se afasta demasiado dele ou marcando no mapa o último lugar onde foi registado -- tem mais de uma década. Até a Nokia, no tempo em que era da Microsoft, teve um modelo destes para o Windows Phone.

Hoje, o produto do género mais conhecido é o Tile (pt.tile.com). Compatíveis com iOS e Android, estas pequenas tabletes ligam-se ao smartphone via Bluetooth e fazem o seu serviço: dizem ao aparelho onde estão -- e o objeto ao qual estão agarradas -- e caso a perca poderá procurar nesse local, que fica marcado num mapa.

Através da app do Tile é possível pedir ajuda à comunidade para encontrar um objeto perdido ou, se alguém encontrar um objeto sem dono, marcar que o encontrou, tudo de forma anónima.

À primeira vista, o AirTag faz exatamente a mesma coisa. Nada de novo, aparentemente, do lado da maçã. Mas o diabo está, como sempre, nos detalhes.

A Apple tem vantagens competitivas que nenhuma marca consegue igualar, decorrente do facto de controlar todas as vertentes dos seus produtos, do hardware ao software, atualmente incluindo os microprocessadores.

No caso dos AirTags, desde logo começando pela ligação ao iPhone. Ao utilizar o chipset U1 tanto na tag como no smartphone -- o mesmo que se utiliza nos fones da marca -- a Apple consegue garantir uma ligação estável, rápida e muito mais fácil do que o processo tradicional do Bluetooth (que nesta segunda década do séc. XXI continua manifestamente deficiente e demasiado complicado para aquilo que podia ser). Logo aqui, a Tile fica a perder, sem ter qualquer culpa por isso.

Depois, o U1 tem tecnologia ultrawideband que funciona como uma espécie de GPS para o interior de uma divisão -- permite localizar com precisão, por exemplo, em que local da sala estão as chaves perdidas (caídas atrás do sofá, pois claro...)

Ainda que a Apple já tenha dito que irá licenciar esta tecnologia para terceiros, esta é uma vantagem evidente relativamente a outros tags concorrentes.

Por fim, há a questão da comunidade dos utilizadores. Com o número gigantesco de iPhones em uso e a integração simples destes acessórios no sistema, não será arriscado adivinhar que será fácil o sistema comunitário de "perdidos e achados" do AirTag funcionar melhor do que qualquer outro do género.

É um facto que por este gadget ser apenas compatível com os telefones da Apple deixa todos os Androids de fora, o que à partida parece reduzir as probabilidades de alguém reencontrar um objeto perdido. Mas na realidade as coisas nem são bem assim.

Caso perca um objeto com uma AirTag agarrado, basta colocá-lo em "lost mode". A partir daí, se um qualquer aparelho Apple passar perto dele surge-lhe imediatamente uma notificação com a localização do mesmo. O processo é feito anonimamente -- o sistema usa o iPhone do terceiro de forma a encontrar a sua posição e a enviar para a internet (depois a Apple envia-lhe a notificação).

Se um "bom samaritano" encontrar um objeto com uma AirTag e quiser fazer algo para a devolver ao dono, basta passá-la pelas "costas" do telefone. Aqui, o sistema tanto funciona em iOS como em Android: se o dono da tag tiver ativado esta opção, abrir-se-á uma página da internet com os seus contactos para que possa fazer a boa ação.

Simples, prático e funcional. Que é como se quer.

A Apple, no entanto, viu-se já obrigada a fazer um alerta: as AirTags são feitas para encontrar chaves, carteiras, malas, guarda-chuvas, brinquedos, chupetas.... Não para rastrear animais de estimação ou crianças. O comunicado oficial teve de ser emitido porque, naturalmente, previa-se que alguém imediatamente o fosse fazer.

É que, já se sabe, quando o simplesmente funciona falha, muitas vezes, não é por culpa do aparelho.

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