A casa no topo da montanha

Projeto de recuperação de património que junta o "luxo com a natureza", o hotel Casa de São Lourenço aposta nos seus argumentos para que se volte à serra da Estrela várias vezes ao ano.

Há poucos hotéis que têm a sorte da Casa de São Lourenço. Não só pela sua localização geográfica, a 1250 metros de altitude, que até poderia funcionar como uma contrariedade, mas porque é um hotel sem "épocas baixas" para o turismo. Seja na primavera ou no verão, com a natureza em todo o esplendor, ou no inverno, sobretudo com neve, a envolvência natural desta antiga pousada é sempre diferente.

Antes de explicarmos o que se pode fazer por lá, há que contar a história daquela que foi uma das primeiras Pousadas de Portugal, projetada nos anos 40 pelo arquiteto Rogério de Azevedo em pleno Parque Natural da Serra da Estrela.

Isabel Costa e João Tomás, os fundadores responsáveis pelo projeto Burel Mountain Hotels - que inclui também o hotel Casa das Penhas Douradas e a fábrica Burel, ou Burel Factory -, adquiriram a pousada em 2018. Depois de obras de remodelação e ampliação, abriram a "Casa", que está hoje inserida na rede mundial de design hotels.

Uma das grandes preocupações nas alterações foi a recuperação do património. Assim, reutilizaram desenhos originais e recuperaram muitas das peças do edificado original, como peças de Maria Keil (umas das mais influentes designers portuguesas do século XX). Mas há mais por lá: peças de Nuno Gusmão, Marco Sousa Santos, Vicara, Util, Grestel, Bordallo Pinheiro, Bartolomeu Gusmão, Vanda Guerreiro e, claro, muitas peças da fábrica do Burel. Aliás, o hotel é um verdadeiro showroom da utilização desse material têxtil. Da entrada aos quartos, até mesmo ao restaurante, há burel aplicado nas mais variadas situações.

A localização da Casa, a 1250 metros de altitude, permite uma vista panorâmica para a montanha, onde se inclui o Vale Glaciar do Zêzere, e para a vila de Manteigas, onde está a fábrica do burel. Sentados no terraço mesmo ao lado do restaurante São Lourenço, com vista e sons da natureza, que, felizmente, os incêndios deste verão não conseguiram destruir, o diretor, Nuno Almeida Leite, confirma as várias facetas do hotel. "As estações na serra são muito marcadas e diferentes umas das outras, por isso somos procurados por diferentes públicos ao longo do ano. Na primavera e no verão, por exemplo, a maioria são turistas vindos do Reino Unido, Bélgica e Países Baixos, especialmente os que gostam de fazer caminhadas." A eles juntam-se turistas brasileiros e norte-americanos; já os portugueses são mais assíduos quando há neve, conta.

Na direção do hotel desde o final de 2020, Almeida Leite explica que o conceito da Casa de São Lourenço, um hotel intimista com 21 quartos, é sobretudo "a recuperação do património e casar a natureza com o luxo". Aliás, a envolvência com o meio ambiente nota-se pelos jardins que crescem naturalmente e que circundam o edifício. "O jardim é tratado, mas temos a preocupação de respeitar a fauna e flora do meio onde estamos."

Tanto para caminhar

O hotel oferece uma panóplia de atividades para ajudar a conhecer a serra da Estrela. As caminhadas são as mais procuradas. Aliás, o hotel organiza duas por dia, quase todos os dias da semana. "Caminhadas simples ou com piqueniques. Temos seis percursos marcados por nós, com interpretação da fauna e das flores, nos mais de 250 quilómetros de percursos de que a serra da Estrela dispõe." Mas há mais. Expedições pelas Penhas Douradas e no Vale do Rossim, que podem ser feitas de forma autónoma para os mais experientes. Há também bicicletas, fornecidas pelo hotel, e percursos de jipe em parceria com empresas especializadas da região. E à mesa come-se a região. Com a cozinha liderada pelo chef Manuel Figueira - que esteve antes na Casa da Calçada, em Amarante (uma estrela Michelin), e, entre outros locais, também no Feitoria, em Lisboa (uma estrela Michelin) -, a aposta é na sazonalidade dos produtos de muitos pequenos produtores, o que nem sempre é fácil devido a logística de transporte. O restaurante São Lourenço funciona ao almoço e jantar.

Showroom do burel

"A Casa de São Lourenço nasceu na mesma altura em que a Burel Factory começou a aplicar o burel à arquitetura, dada as suas características, por ser resistente à água, ao fogo, isolante térmico e acústico. Temos paredes em burel, cortinas em burel. Aliás, 90% dos nossos hóspedes visitam a fábrica do burel", explica Nuno Almeida Leite.

Depois dos tempos difíceis durante a pandemia, os turistas estão a voltar, nota o diretor do hotel, sem deixar de sublinhar que, mesmo assim, ainda há tanto por descobrir na serra da Estrela: "Ainda é um sítio para descobrir, tanto para estrangeiros como para os turistas nacionais, que devem conhecer a serra para além do cliché da neve."

filipe.gil@dn.pt

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