7 dias, 7 propostas pelo músico PZ

Músico. PZ é Paulo Zé Pimenta. Mas Paulo é também outros alter-egos e estados de de espírito alternativos, a saber: Pplectro (eletrónica); Paco Hunter; Zany Dislexic Band (banda de improviso) e mais recentemente O Vampiro Submarino, alter-ego de jazz. Estas são as suas sugestões para os próximos sete dias.

1. Comer
Croquete no Gambrinus
Domingo, 2 de abril

Pode ser no café ao lado de casa, enquanto esperamos pelo comboio, ou numa festa d"anos. O croquete está sempre presente e nunca se sabe o que esperar. É a eterna caixa de surpresas urbana, a alma penada de qualquer confeitaria, a desculpa perfeita para evitar a tábua de queijos, ou mesmo a razão de existência da carne processada. Apoderam-se das montras, e tomam o Mundo de assalto como uma rede de agentes do subconsciente disfarçados nas suas diversas formas cilíndricas. Como é que são feitos? O que é que vai para ali? Arrisco? Ou não petisco? Pela minha experiência, recomendo a degustação de croquetes no Gambrinus em Lisboa que vem acompanhado por 3 diferentes mostardas... o croquete deluxe.

2. Pensar
O Homem Universal por por Teixeira de Pascoaes
Segunda-feira, 3 de abril

Pensar na morte da bezerra. Expressão de origem hebraica que tanto consome o português. Reza a lenda de um menino que não queria sacrificar o seu bezerro como sacrifício a Deus para a remoção dos pecados, ou algo que o valha. Esse menino tornou-se homem, mas sempre melindrado com a morte do seu animal. Expressa bem o sentimento fatalista português, a nostalgia viciante que se apodera de nós, a tal saudade da qual não nos conseguimos livrar. Esse sentimento Português explorado por diversos autores ao longo dos anos do qual destaco O Homem Universal escrito por Teixeira de Pascoaes em 1937. Um guia espiritual para qualquer português com olhos de ver.

3. Boatos
Espalhar boatos
Terça-feira, 4 de abril.

Gosto da ideia de quem conta um conto acrescenta sempre um ponto. A nossa fértil imaginação gosta de plantar as sementes da discórdia, exagerar o detalhe, tratar o pormenor por pormaior, mostrar que sabemos muito mais do que o óbvio. O boato espalha-se como uma labareda até se tornar fake news onde queima a verdade de verdade. Há que usar com precaução e estancar dentro de casa, no máximo tornar-se um rumor, uma dúvida local intemporal e nunca verificável. Por isso, espalhem boatos nas ruas e nos cafés, mas estanquem as falsas verdades a ler um jornal de referência, olhem, como este que se encontra a ler neste momento. Se bem que tem um indivíduo duvidoso a incentivar outros que tais a espalhar boatos...

4. Ler
A Morte do Comendador, Murakami
Quarta-feira, 5 de abril

Não fazer nada. Expressão curiosa pois, se não fazemos nada, quer dizer que estamos a fazer alguma coisa. É uma dupla negação, mas assenta que nem uma luva quando queremos apenas sentar no sofá e não fazer a ponta de um corno. Esta sim, expressão sem rodeios ou duplas negações. Estranho também é o facto de associarmos atividades lúdicas como ler, ou ver um filme, como não fazer nada. Por isso, recomendo este dia para não fazer nada e ler um livro do Murakami, por exemplo, que tem o dom de fazer massagens ao cérebro enquanto este vagueia pelos mundos surrealistas tão peculiares, mas que não deixam de ser familiares. Acho que já li todas as obras deste autor, sendo que a maior parte li durante a pandemia. Foi remédio santo. Especialmente A Morte do Comendador.

5. Andar
Jardins de Serralves
Quinta-feira, 6 de abril

Gosto de andar por aí, e devia fazê-lo mais vezes. Sem objetivo definido, apenas sair de casa e dar no que deu, venha o que vier, custe o que custar. No entanto, quando dou por mim a andar por aí, normalmente, as minhas pernas levam-me aos Jardins de Serralves, e eu não penso muito com as pernas. É um lugar intemporal, com recantos e fugas inesperadas ao virar de cada árvore. Sinto-me em casa numa casa que não é minha, e no final, acabo sempre por ver o que há no Museu e nunca fico desiludido. Aliás, a desilusão não é para aqui chamada, mas sim uma incessante procura por um ponto de vista fora do normal que nos faz pensar sobre nós próprios. Chama-se Arte, e em vez de andarmos por aí, surrealizamos por aí. De assinalar que, em 2023, o Parque de Serralves celebra 100 anos de existência. Parabéns!

6. Ver
A Comédia de Deus, João César Monteiro
Sábado, 7 de abril

Dormir na Forma. É um bocado como não fazer nada, mas dormir na forma sugere um não fazer nada de uma forma mais inconsciente como se tudo o que se passa à nossa volta não desperte nada em nós. Pois eu gosto de dormir na forma em frente a um ecrã a ver um belo filme, alheado do meu próprio filme do qual fico muitas vezes farto de realizar. Normalmente, é mais fácil dormir na forma a ver filmes de Hollywood, em inglês, e esquecemo-nos que Portugal teve, e tem excelentes Realizadores. Mas, para mim, uma das maiores referências do Cinema Português é João Cesar Monteiro e toda a sua obra sui-generis. Recomendo A Comédia de Deus como iniciação para este Mundo paralelo.

7.Música
Ver o Vampiro Submarino no Titanic Sur Mer
Sábado, 8 de abril

Vai ser o concerto de apresentação do Vampiro Submarino, o meu novo projeto em forma de banda, que lançou recentemente o álbum "Tempo Para Nada". É um take moderno dos antigos novos 20 mergulhado na loucura dos novos anos 20. São músicas simples, corridinhas, feitas para rir, chorar, esquecer e dançar sem pensar muito. Conta com o João Salcedo no piano, o Carl Minnemann no contrabaixo, o Leandro Leonet na bateria, e Daniela Maia e Nena Barbosa nas vozes de suporte. Uma recriação de um tempo perdido entre o Jazz e o Rock n" Roll. Oportunidade única para entrarem num tempo onde não há tempo para nada.

filipe.gil@dn.pt

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