Voltam os alertas sobre o "desafio Momo". 'Fake news' ou há motivos para preocupação?
Renasceram nas primeiras semanas deste ano as histórias do "Momo challenge" ("desafio Momo"), que no verão de 2018 já tinha sido noticiado mas cuja preocupação em torno da situação já se tinha desvanecido. Da altura, mantém-se a personagem principal: uma mulher de cara bizarra e olhos esbugalhados, cabeça de uma estátua que esteve exposta em Tóquio.
Tal como em 2018, surgem alertas para supostas mensagens na aplicação WhatsApp, dirigidas maioritariamente a crianças e jovens. Após chegar a conversa com os mais novos, do outro lado, alegadamente, tenta-se controlar o jovem, através de mentiras e ameaças. O objetivo é levar a pessoa mais vulnerável a atos perigosos e, possivelmente, ao suicídio. Na altura, a PSP alertou para a situação.
Recorda o Guardian que o desafio Momo - considerado semelhante ao da Baleia Azul, que também gerou preocupação entre pais e autoridades - foi na altura considerado responsável pelo suicídio de 130 jovens na Rússia, algo que nunca foi efetivamente provado.
No entanto, o paradigma ganha novos contornos, com o surgimento de relatos que alegam a presença da perturbadora imagem em vídeos do YouTube, YouTube Kids e no popular jogo online Fortnite. O jornal britânico relata a preocupação dos pais, das escolas e também das autoridades, mas na qual várias organização de apoio britânicas não alinham.
Isto porque não são de facto conhecidos casos concretos de vídeos infantis em que surja a imagem e no Reino Unido, o Centro para Internet Segura chamou mesmo a estas alegações fake news (notícia falsa). A instituição de apoio Samaritans e a Sociedade para a Prevenção de Crueldade para com as Crianças (NSPCC) desvalorizam a situação, alegando que a mediatização do caso é que pode causar danos. É também dito que, no Reino Unido, há mais chamadas de meios de comunicação social do que de pais preocupados.
As instituições questionam a curiosidade que o destaque dado ao desafio Momo tem despertado e preferem alertar para a necessidade de orientar os mais novos. "O mais importante é que os pais e as pessoas que trabalham com crianças se concentrem em regras seguras para o online", afirmou um porta-voz dos Samaritans ao Guardian.
As novas alegações em torno do Momo challenge referem relatos de crianças que terão visto a estranha imagem em vídeos do YouTube, YouTube Kids e no jogo Fortnite. A plataforma de reprodução e partilha de vídeos já reagiu. "Queremos esclarecer algo relativamente ao desafio Momo. Não vimos provas recentes de vídeos que promovam o desafio Momo no YouTube. Vídeos que encorajem desafios perigosos são contra a nossa política", escreveu a empresa no Twitter.
Já na secção de ajuda e suporte da Google - o YouTube é uma empresa Google - é dito que existe "atenção aos relatos" dos muitos que partilharam "preocupações" com a empresa. "Apesar de terem aparecido relatos deste desafio, ainda não tivemos quaisquer links sinalizados ou partilhados que violem as regras da comunidade.", lê-se.
O Comissário João Moura, da PSP, esteve na SIC a falar sobre a nova vaga de preocupações em torno do "desafio Momo". Começou por referi que "a figura assustadora para os mais jovens, coage e manipula psicologicamente, primeiro através da rede WhatsApp, e leva-os a fazer um conjunto de desafios perigosos".
Falando numa "ameaça global, graças ao digital", garantiu que a PSP monitoriza e está "em redes como a Europol e a Interpol".
"Existe o efeito bola de neve, seja por brincadeira, seja um hacker. Tornou-se um assunto viral e começam a surgir os chamados copycats (imitadores), que ameaçam e coagem. É preciso acompanhar de perto as crianças e os jovens, verificar os conteúdos e apostar em software de controlo parental. Em caso de emergência, ou crime, é contactar a PSP e o 112", acrescentou.
João Moura avisou ainda que "se não houver uma comunicação direta aos pais ou à PSP, dificilmente há prevenção". Sobre o desafio, continuou: "Existe uma série de desafios para a criança fazer e mentiras iniciais para agarrar a criança. É dito que se conhece a criança, os seus trajetos e as suas rotinas. Há coação física e desafios virais perigosos. Podemos estar perante o crime de incitação ao suicídio".