Viagra chegou há 20 anos mas portugueses já têm outro favorito

Já não é líder no combate à disfunção erétil mas o papel de pioneiro ninguém lhe tira, pela "revolução científica" e "cultural"

Lançado nos Estados Unidos em abril de 1998 - a Portugal chegou alguns meses depois, sendo aprovado em setembro e lançado no mercado em outubro - , o Viagra continua a ser, 20 anos depois, um dos campeões de vendas da Pfizera nível mundial, tendo dado à multinacional receitas globais de 1035 milhões de euros em 2017, segundo o portal statista.com. No nosso país, no entanto, há mais de uma década que a sua principal substância ativa, o sildenafil, perdeu a liderança para outro fármaco destinado à disfunção erétil: o taladafil (ou taladafila).

De acordo com os dados oficiais das vendas de embalagens de medicamentos para a disfunção erétil, fornecidos pelo Infarmed, o taladafil, originalmente desenvolvido pelo laboratório Eli Lilly e comercializado desde 2004 com o nome de Cialis, lidera o mercado português desde pelo menos 2007, tendo mesmo chegado a registar mais do dobro das caixas vendidas do que o principal concorrente, entre 2009 e 2013.

Com a perda da patente, em janeiro de 2014, o Viagra passou a ter no país a concorrência de nove genéricos à base do Sildenafil. E terá sido sobretudo a introdução desses produtos, vendidos a 50% ou menos do medicamento de marca, a explicar o salto dado nesse ano nas vendas de Sildenafil, que passou de 115 mil caixas, em 2013, para as 262 mil, em 2014. O certo é que, mesmo assim, o Taladafil (que continuou protegido por patente até ao ano passado) foi o mais vendido naquele ano.

No primeiro semestre de 2018, as vendas deSildenafil fixaram-se nas 11 905 caixas. O DN tentou saber, junto da Pfizer Portugal, nesta sexta-feira à tarde, quantas destas eram de Viagra. Mas não foi possível, para já obter esses dados.

Impotência "deixou de ser uma maldição"

Mas se o Viagra já não é o mais popular medicamento para a disfunção erétil, o estatuto de pioneiro - com as repercussões nas vidas de milhões de homens de todo o mundo - já ninguém lhe tira. Nuno Monteiro Pereira, urologista e sexólogo clínico, era vice-presidente da Sociedade Portuguesa de Andrologia, que viria a liderar, quando o produto entrou no mercado português, em outubro de 1998. E conta que o interesse gerado era tal "que foi necessário organizar uma videoconferência, com eu próprio e o presidente em dois locais diferentes, para apresentar o produto. Foi de facto um grande impacto, e rapidamente começou a ter grande procura nas farmácias", recorda.

Para o urologista, o Viagra "trouxe uma revolução farmacológica", por ser "um medicamento com pouquíssimos efeitos secundários", capaz de "resolver, em termos gerais, a maioria dos problemas de disfunção erétil. Mas mais do que essa revolução farmacológica", acrescenta, "é sobretudo uma revolução cultural. Se antes a impotência era uma vergonha para os homens que a escondiam, às vezes da própria parceira, que os afetava na vida familiar e até profissional, de repente descobriu-se que era uma doença, com tratamento. Deixou de ser uma maldição".

Em rigor, explica, a impotência "não é uma doença. Antes uma manifestação de doença, que pode ter várias causas". Mas este produto, "a que se seguiram outros" com o mesmo fim, teve a virtude de eliminar este sintoma particularmente complexo. O que não significa, como também recorda, que a sua aceitação tenha sido universal. "Ao princípio foi um período particularmente complicado. Caíram-lhe logo em cima, dizendo que fazia mal ao coração", recorda. "Na realidade não faz mal, a não ser quando é tomado com medicamentos que os cardíacos na altura tomavam muito, nomeadamente os nitratos".

Concebido para tratar hipertensos

A fama de ser pouco indicado para hipertensos não deixa de ter a sua dose de ironia, tendo em conta que o fármaco começou por ser desenvolvido, nos laboratórios da Pfizer em Kent, no Reino Unido, como um medicamento para problemas de hipertensão e angina peitoral. De resto, seu principal princípio ativo, o Sildenafil, é de facto utilizado, com o nome de Revatio, num medicamento para a hipertensão arterial pulmonar.

O que o Viagra faz é relaxar os músculos do pénis, que assim podem receber mais sangue, permitindo a ereção. Tal como o Revatio relaxa a parede arterial, reduzindo a resistência e pressão arterial pulmonar.

"O Viagra não provoca ereções de horas, nem enormes", garante Nuno Monteiro Pereira, desmontando assim outro mito em relação a este medicamento. "O que ele faz é criar as condições para que a ereção aconteça em condições normais. Mas ela só surge quando há excitação. Por isso se diz que é um medicamento inteligente".

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