Portugal com 10 milhões de habitantes? Vai deixar de ser assim daqui a 15 anos

Daqui a apenas 30 anos, Portugal vai ter menos de 5 milhões de pessoas com idade para trabalhar, enquanto o número de idosos vai rondar os 3 milhões
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Ano 2033. Segundo as Estatísticas Demográficas publicadas esta semana, Portugal vai baixar da simbólica marca dos 10 milhões de habitantes já daqui a 15 anos, quando no ano passado ainda tinha 10 291 027. E daqui a apenas 30 anos, o país vai ter menos de 5 milhões de pessoas com idade para trabalhar, um cenário que será ainda mais negro em 2080, quando a população em idade ativa será de apenas 4 milhões. Para se ter a noção da pressão que será colocada sobre o sistema de Segurança Social já a meio deste século, o número de idosos vai andar na casa dos 3 milhões e o de jovens vai cair para menos de um milhão.

Exemplos práticos: As projeções do Instituto Nacional de Estatística indicam que o índice de idosos dependentes - que mede o peso dos idosos na população em idade ativa - vai mais do que duplicar entre 2017 e 2080, passando de 33 para 71 idosos por 100 pessoas potencialmente ativas. Se juntarmos o número de crianças com menos de 15 anos, o chamado índice de dependência total, percebemos que daqui a 60 anos vamos ter praticamente o mesmo número de dependentes e de pessoas com idade para trabalhar: o número de idosos e jovens por cada 100 pessoas potencialmente ativas, que em 2017 foi de 55, poderá passar para 94 em 2080.

Estes são dados que atualizam as Projeções de População Residente 2015-2080, publicadas no ano passado pelo INE, e que já têm em conta os óbitos, nascimentos e valores estimados de migrações para 2016 e 2017. Valores que traçam um retrato bem carregado para quase todas as regiões do país. A exceção é mesmo a Grande Lisboa, a única que no ano passado ganhou habitantes.

Área de Lisboa é a única a crescer

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São poucos, mas olhando para a evolução da demografia do resto país podemos dizer que são mesmo muito bons. A área metropolitana de Lisboa tinha em 2017 mais cerca de 12 mil habitantes (num total de2 833 679 pessoas) em comparação com 2016 e foi mesmo a única região do país onde a população aumentou. No total, o país perdeu 18 546 habitantes. Só a região Centro registou um défice de 12 588, a que se juntaram menos 8 370 no Norte. Os resultados no verde na capital devem-se ao facto de ter tido um crescimento do número de imigrantes - item em que só foi acompanhada pela Madeira, o que, neste caso, estará ligado ao fenómeno de imigração de lusodescendentes vindos da Venezuela - e por ter sido a única zona a apresentar uma taxa de crescimento natural (saldo entre nascimentos e mortes) positiva.

Olhemos para os municípios com melhores taxas de natalidade, também fornecidos ao DN pelo INE, para comprovar como boa parte dos concelhos com mais bebés se concentram a sul. Nos oito municípios de Portugal Continental com mais crianças nascidas em 2017, seis são da região de Lisboa: Odivelas, Lisboa, Amadora, Loures, Faro, Montijo e Sintra. Os outros dois são algarvios - Albufeira e Faro. Arquipélagos incluídos, os municípios com melhores taxas são pequenos concelhos açorianos, Madalena e Ribeira Grande (ver infografia).

Alentejo é o mais envelhecido

Em cinco anos, entre 2012 e 2017, Portugal passou a ter menos 126 305 jovens com menos de 15 anos. E se a demografia já tem estado em crise, a tendência vai agravar-se. É que se hoje ainda temos mais de 1,4 milhões de crianças, já no próximo ano vamos baixar desse patamar e em 2062 nem sequer teremos um milhão de jovens. Em sentido inverso, claro, vem o número de idosos. De um ano para o outro, o país passou a ter mais quase 181 mil pessoas com 65 ou mais anos.

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O índice de envelhecimento em Portugal era de 155,4 idosos por cada 100 jovens em 2017, sendo o Alentejo a região mais envelhecida (199,2) e a Região Autónoma dos Açores a menos envelhecida, sendo esta a única em que o número de jovens foi superior ao de idosos (89,3 idosos por cada 100 jovens). Quanto ao índice de dependência total situava-se em 54,7 jovens e idosos por cada 100 pessoas em idade ativa. O valor mais elevado do índice de dependência de jovens verificou-se na Área Metropolitana de Lisboa (25,4) e o mais baixo na região Centro (19,4). O Alentejo registou o valor mais alto de dependência de idosos (40,6) e a Região Autónoma dos Açores o mais reduzido (20,3).

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Também aqui convém olhar para os concelhos para ter exemplos práticos. Alcoutim, na fronteira entre o Alentejo e o Algarve, é de longe o município com maior número de idosos (95) por 100 pessoas em idade ativa, valores que quase se igualam. No outro extremo da tabela, sete concelhos das ilhas - Ribeira Grande, Santa Cruz, Câmara de Lobos, Lagoa, Vila Franca do Campo, Porto Santo e Ponta Delgada. Já as famílias da Grande Lisboa são as que têm mais crianças a seu cargo. No top 8 do índice de dependência de jovens, seis são da zona da capital, incluindo o próprio concelho de Lisboa.

Centro é o que tem menos jovens

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Mais quase 600 mil mulheres do que homens (elas são 5 423 335, enquanto eles são 4 867 692) e uma idade média de 44,2 anos, quando em 2012 ainda era de 42,7. Este é outro dos pontos a destacar no retrato da população portuguesa, em que 13,8% são jovens (percentagem que caiu um ponto em relação a 2012), 64,7% pessoas em idade ativa e 21,5% idosos. A região Centro detinha a menor percentagem de jovens (12,4%) e o Alentejo a maior percentagem de população idosa - um em cada quatro habitantes (25,2%) tinha mais de 64 anos.

Lisboa, Sintra, Gaia, Porto e Cascais, por esta ordem, são os concelhos mais populosos do país, enquanto Corvo, Lajes das Flores e Barrancos são os que têm menos habitantes.

Na cauda da Europa

Entre 2010 e 2016, no conjunto dos 28 países da União Europeia o número de jovens manteve-se quase igual (de 15,7% para 15,6%), o que colocou Portugal na cauda da Europa neste ponto.

Em 2016, entre os países da UE, a maior proporção de jovens na população verificou-se na Irlanda (21,1%), enquanto a percentagem mais baixa se verificou na Alemanha (13,4%). Em relação à população idosa, Itália apresentava a maior proporção (22,3%) enquanto a Irlanda detinha a menor (13,5%). A proporção de idosos em Portugal era superior à da UE, sendo o quarto país com maior percentagem de idosos, apenas ultrapassado pela Alemanha, Grécia e Itália.

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