Turismo espacial: viagem histórica já começou
"Foram 17 anos para chegar aqui". Foi de forma emocionada que o multimilionário Elon Musk reagiu este sábado ao lançamento de uma cápsula da sua SpaceX capaz de transportar astronautas até ao espaço. Eram 2.49 no mítico Centro Espacial Kennedy, na Florida (mais cinco horas em Portugal), quando um foguetão Falcon 9 começou a sua subida para colocar em órbita a cápsula Crew Dragon, que apesar do seu nome ainda não transporta tripulação até à Estação Espacial Internacional (EEI). O que pode acontecer ainda este ano.
Ainda assim, a missão é histórica por duas grandes razões: desde logo, porque é a primeira nave espacial americana com capacidade para transportar astronautas que é lançada desde 2011, quando a NASA fez o último voo de um vaivém Atlantis; e depois porque este pode ser um primeiro e decisivo passo para as viagens comerciais ao espaço, como frisou Elon Musk.
"Ainda não enviámos ninguém, mas, se tudo correr bem, vamos fazê-lo ainda este ano", declarou o dono da SpaceX e da Tesla, numa conferência de imprensa conjunta com a Nasa, após o lançamento da cápsula. "Esse será o culminar definitivo de um grande sonho para muitas pessoas, para mim e para muitas pessoas na SpaceX". Musk fundou a companhia em 2002 e desde então que o seu grande objetivo tem sido o de conseguir colocar turistas no espaço e concretizar uma missão a Marte.
Do lado da NASA, o entusiasmo não era menor, já que nos últimos oito anos tem sido obrigada a socorrer-se das naves russas Soyuz para colocar cosmonautas na EEI. Depois de em 2014 ter contratado as companhias privadas SpaceX e Boeing para desenvolver vaivéns, uma missão bem-sucedida pode significar o regresso dos Estados Unidos às missões tripuladas e a um papel de vanguarda na corrida às viagens ao espaço. "Esta foi uma grande noite para os Estados Unidos da América, uma grande noite para a NASA", não escondeu Jim Bridenstine, administrador da NASA.
A missão experimental vai durar pouco mais de uma semana e vai testar em particular as duas fases mais sensíveis da viagem - a acoplagem à Estação Espacial e a reentrada na atmosfera terrestre. A cápsula deve chegar este domingo de manhã à EEI e vai ligar-se à parte da frente da Estação, ao contrário do que acontece com missões de carga, que chegam por baixo e são agarradas por uma espécie de braço mecânico.
Depois de cinco dias na Estação Espacial, a Crew Dragon vai voltar à Terra no dia 8. Devido às mudanças na estrutura da cápsula, que se tornou mais complexa para conseguir transportar sete pessoas, há o risco de tombar na reentrada na atmosfera, como admite o próprio Elon Musk. "Penso que é improvável, fizemos milhares de simulações. Mas há essa possibilidade".
Apesar de não levar nenhum humano a bordo, a Crew Dragon transporta um passageiro muito especial: um boneco de testes simbolicamente apelidado de Ripley (a heroína dos filmes Alien, personagem interpretada por Sigourney Weaver). O simulador vai sentado junto a uma janela e leva sensores colocados na cabeça, pescoço e coluna, para medir o impacto físico da pressão a que uma pessoa será sujeita quando viajar na nave. A cápsula transporta ainda quase 200 quilogramas de mantimentos e equipamento para a Estação.
E se é verdade que a missão é de teste e ainda sem astronautas, a NASA não deixa de lhe atribuir uma importância muito real e até crítica. É que "a Estação Espacial Internacional ainda tem três pessoas a bordo, portanto chegando esta missão pela primeira vez à EEI tem de resultar, tem mesmo de resultar", avisa o responsável pelo programa da EEI na NASA. Kirke Shireman explica que apesar de este ser um voo experimental, a agência espacial considera esta uma "missão muito real, muito crítica".
Se tudo correr bem agora e num segundo teste agendado para junho - com a simulação de uma avaria no veículo lançador Falcon 9 -, podemos ter os astronautas Robert L. Behnken e Douglas G. Hurley a viajar em direção à EEI já em julho. A Boeing também prevê começar os primeiros testes não-tripulados dentro de dois meses.