Os avós devem ir de férias com a família?
As famílias britânicas devem levar os avós quando vão de férias e inclui-los mais nas suas rotinas diárias. Quem faz o alerta é Mims Davies, a ministra britânica da Solidão, que considera os países do sul da Europa um bom exemplo para o Reino Unido nesta área.
Citada pelo Telegraph, a substituta de Tracey Crouch diz que os britânicos devem aprender com os europeus do sul como incluir os idosos nas suas vidas. Para a ministra da Solidão, que foi cuidadora dos pais, a comunidade tem a obrigação de impedir que os idosos se sintam abandonados. "Temos deveres morais enquanto comunidade... Devemos pensar na comunidade toda e nas pessoas idosas em particular quando nos estamos a divertir", afirmou.
Para o presidente do Observatório da Solidão do ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo, Adalberto Dias de Carvalho, as declarações da ministra britânica "obrigam-nos a refletir e a pensar". Confessa, contudo, que não comunga do seu otimismo em relação aos europeus do sul, mais concretamente aos portugueses, sobretudo no que diz respeito às férias.
No dia-a-dia, muitas famílias portuguesas vivem dependentes da ajuda dos avós. "Enquanto são úteis, os avós têm um papel capital nas famílias. Como não existem estruturas suficientes de apoio à infância e juventude e os pais são pessoas sobreocupadas, quem substitui os pais são os avós", diz o também investigador da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Uma relação, frisa, "tão útil como a que é estabelecida com os pais".
O problema surge nas férias, quando os avós deixam de ser vistos como úteis, e passam a ser encarados como "um estorvo para a fruição das férias". "Há uma tendência para se considerar que quando se vai de férias não se levam os idosos", lamenta. Por essa razão, adianta, muitas famílias optam por colocar os avós numa instituição quando se ausentam de casa - "o que leva a uma enorme procura nas instituições em agosto" - ou pedem a familiares que fiquem como cuidadores.
O que se passa é, segundo o coordenador do Observatório da Solidão, contraditório. "Por um lado, existe o sentido de família, que provém de uma cultura religiosa, que é efetivamente mais forte nos países do Sul do que do Norte". Mas as coisas estão a alterar-se. "Essa conceção é desrespeitada em função da apetência atual pela busca do prazer, do que é agradável. Parte-se do princípio de que os idosos são indiferentes a isso". Mas não são. "Continuam a ter corpo e espírito, atividade física e psicológica. Isso não se extingue com a idade".
Sem esquecer as capacidades do idoso, Adalberto Dias de Carvalho reconhece que há fatores válidos, mas, de uma maneira geral, "existe a ideia de que o idoso é alguém para quem a busca de prazer já não faz sentido". Outras das razões pelas quais os idosos são excluídos das férias é o facto de "as pessoas estarem pouco disponíveis para o sacrifício, pelo que, tudo o que aparenta ser uma limitação, é rejeitado".
Para o investigador da Universidade do Porto, as recomendações de Mims Davies "fazem todo o sentido". No entanto, alerta, "é necessário que, nos locais habituais de residência e de férias, a sociedade preveja formas de permitir a ocupação lúdica de pessoas de várias faixas etárias". No Algarve, por exemplo, considera que há muitos sítios para as pessoas mais novas se divertirem, mas "não há nada para os idosos". À exceção, adverte, de alguns hotéis e pousadas.
A ministra da Solidão britânica quer, ainda, que os empregadores deem aos funcionários tempo para que possam cuidar dos seus parentes solitários. "Quando somos um pouco mais ousados na forma como fazemos as coisas, encontramos muito mais alegria nisso", afirmou, em entrevista.