O que (não) se deve fazer na Internet e como ganhar com isso
Há uma adolescente que é vigiada sempre que publica algum conteúdo nas redes sociais. Acontece quando se senta sozinha no banco do jardim, quando partilha uma foto dentro da sala de aula, ou até mesmo quando está deitada na cama. "Todos te observam" é a mensagem que Sofia Santos e Leonardo Viegas quiseram passar com o vídeo "Os que tudo vigiam", premiado pela DECO - Associação de Defesa do Consumidor e pela Google, em 2018, no âmbito da 1ª edição do concurso Net Viva e Segura. Uma iniciativa que se repete este ano, com inscrições abertas até sexta-feira.
"É uma metáfora de como tudo o que publicamos nas redes sociais é visto pelas outras pessoas. É uma forma de tentar alertar para a responsabilidade de os utilizadores controlarem o que publicam", explicou ao DN Leonardo Viegas, de 17 anos, aluno do 12º ano da Escola Profissional de Educação para o Desenvolvimento - EPED, que desenvolveu o projeto com Sofia, sob a orientação de João Silva, professor de Programação.
Sofia e Leonardo sabem que devem ter cuidado com o que partilham nas redes sociais. "Na base, todos sabemos, mas, na prática, achamos que as coisas más só acontecem aos outros, o que faz com que não se preste atenção aos conselhos básicos de segurança que todos devemos seguir", reconhecem. E foi precisamente para chamar a atenção dos consumidores digitais para os perigos da internet que surgiu a iniciativa da DECO Jovem, desenvolvida com o apoio da Google, e que, entre outros prémios, têm computadores portáteis para oferecer.
Depois de uma primeira edição dedicada à internet, privacidade e segurança de uma forma geral - para a qual foram realizados 67 vídeos -, a segunda edição será direcionada para as redes sociais. "Como passam muito tempo nestas plataformas, há trabalho a fazer para dar informação, conselhos úteis e que os possam fazer tomar consciência do melhor uso que podem fazer destas plataformas. Por isso, o lema é 'Navega em boas marés'", explica ao DN Fernanda Santos, coordenadora do departamento de Formação e Educação da DECO.
Com este desafio, que decorre em todas as escolas da rede DECO Jovem, as duas entidades querem "incentivar os mais novos a ser influencers pelas boas práticas", ou seja, a fazer "vídeos criativos e originais", que alertem para o cuidado na informação que é partilhada, a necessidade de serem corteses nas publicações, as melhores formas de fazer publicações com mais segurança. Que "reconheçam os benefícios que as redes têm, mas também os perigos e riscos para os devemos estar alerta".
As categorias nas quais os jovens podem concorrer dizem respeito aos principais conselhos que as duas entidades procuram transmitir:
1. Partilha com cuidado - engloba os conteúdos que são publicados, a importância da privacidade, a existência de perfis falsos. Quanto mais dados são partilhados nas redes sociais, mais vulnerável a pessoa fica, já que se expõe perante pessoas que conhece, mas também perante quem não conhece. "Não aceitem na rede quem não se conhece - também não abres a porta da tua casa, pois não!", alerta a DECO. Não precisa de dizer onde está à noite, onde vai passar férias ou onde faz as compras. "E antes de publicar pensa se é bom para ti, que consequências pode ter, no presente, no futuro".
2. Ligações seguras - esta categoria diz respeito aos cuidados a ter na proteção das contas, do router - que é imprescindível proteger para garantir a privacidade, e à importância de saber escolher a melhor palavra-passe (que deve ser longa, complexa e com diferentes carateres). Além disso, a iniciativa convida a refletir sobre o phishing - prática fraudulenta que resulta na obtenção de dados pessoais das vítimas.
3. Cortesia - "É preciso ter cuidado com a comunicação, as palavras e o tom. Cada vez mais na internet e nas redes circulam mensagens negativas e de incentivo à maldade e ao ódio. É importante usar o tom certo numa comunicação global, que muitos leem, ser positivo e simpático, sem reagir a quente", referem as duas entidades.
"Os mais novos, os que designamos como nativos digitais, têm as melhores apetências para utilizar a internet, têm muita facilidade em usar qualquer dispositivo ou plataforma, mas não são acompanhados pelos mais velhos - pais e professores -, que não têm estas competências", sublinha Fernanda Santos. De acordo com a responsável, existe, de alguma forma, "falta de orientação e falta de experiência para lidar com determinadas situações que no mundo digital têm uma proporção diferente da vida real". E este é um dos alertas que a DECO quer deixar: "Como não o percecionam, muitas vezes veem-se envolvidos em problemas com dimensões com as quais não sabem lidar. Não sabem as consequências no futuro do que está a acontecer agora".
A ideia é que cada grupo a concurso seja orientado por um professor, para que a abordagem seja integrada no currículo e no espaço escolar. Ao DN, o professor João Silva, coordenador da equipa Walk Alone, diz que o projeto "foi uma oportunidade de trabalhar o módulo de vídeo". Na disciplina de Redes de Comunicação, os alunos são alertados para os cuidados a ter com passwords, ferramentas e outros. "Esta é outra forma de perceberem que tudo o que fazem fica registado na internet, que não há maneira de voltar atrás", refere o docente, destacando que a escola prepara-se para voltar a concorrer este ano, com vídeos mais focados no cyberbullying.
No âmbito da iniciativa Net Viva e Segura, desde o ano letivo 2015/16 as duas entidades realizaram 35 debates com internautas, bloggers, influencers, youtubers e outras entidades em escolas, envolvendo mais de sete mil estudantes.