Expedição revela que há vida no fundo de um lago da Antártida

O lago Mercer é o mais profundo que já se explorou no continente. Assemelha-se aos lagos e oceanos subglaciais de Marte, Plutão ou às luas de Júpiter e Saturno.
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"Foi como aterrar noutro planeta" disseram, citados pelo El País, vários membros de uma expedição à Antártida quando as câmaras mostraram pela primeira vez o fundo do lago Mercer, o mais profundo que se explorou com detalhe neste continente, e com uma superfície superior à da cidade de Barcelona. A expressão "noutro planeta" não será aqui, aliás, aleatória.

Existem mais de 300 lagos como este, debaixo do gelo, que são o mais parecido que há no nosso planeta aos lagos e oceanos subglaciais de Marte, Plutão ou às luas de Júpiter e Saturno, algumas com mais água que toda a terra, que compõem os lugares mais prováveis para encontrar vida no sistema solar.

"Acreditamos que este lago e todos os organismos que os habitam estiveram completamente isolados do exterior durante pelo menos 100 mil anos", explicou John Priscu, líder científico da expedição Acesso Científico aos Lagos Subglaciais da Antártida, que conseguiu perfurar 1068 metros de gelo.

A expedição, que saiu da estação americana de McMurdo, foi levada a cabo por 50 participantes, entre cientistas, perfuradores, militares e montanhistas, e envolveu escavadoras, tratores e contentores, num total de quase 500 toneladas de material. A caravana da expedição inclui ainda habitáculos móveis acondicionados com aquecimento, beliches e cozinha.

As primeiras análises à água recolhida, que é doce e se assemelha a "leite desnatado, muito turva", mostram que em cada milímetro de água do lago há cerca de 10 mil micróbios. "O lago tem níveis de oxigénio baixos, comparados com o ar. Tal deve-se ao metabolismo destes micróbios", afirmou Priscu, que salientou "o papel a nível global" que este continente tem, e a importância de expedições como esta.

O Mercer, explorado com um robot capaz de captar imagens e recolher água e pedras, é o segundo lago na Antártida a que esta equipa acede, depois do Whillans em 2013, onde também verificaram a existência de vida.

Nos anos 1960, cientistas da União Soviética descobriram o lago Vostok, o maior da Antártida, 3400 metros sob o gelo. Desde então, Rússia e Estados Unidos têm tentado ser os primeiros a alcançar e analisar água não contaminada. Apesar de a Rússia ter alegado consegui-lo em 2012, as amostras poderiam estar contaminadas.

90% de todo o gelo da terra e 70% da água doce estão na Antártida. O ritmo do degelo do continente, recorda o El País, triplicou em três décadas. Se derretesse totalmente, o nível da água do mar subiria 60 metros.

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