"Epidemia". Um em cada cinco partos no mundo ocorre por cesariana

Em Portugal, a taxa de cesarianas atingiu os 35% no ano 2011. Aumento está associado a riscos para a mulher e para a criança
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Em 2015, os partos por cesariana representavam 21% do total de nascimentos a nível mundial, quase o dobro da percentagem registada no ano 2000 (12%), de acordo com os estudos publicados na revista científica The Lancet. Esta é uma prática que só se justifica em 10 a 15% dos casos, pelo que os investigadores falam numa "epidemia" a nível global.

Em Portugal, a taxa de cesarianas tem sido bastante superior às recomendações. Desde 2005 que se situa sempre acima dos 30%, e, nos 15 anos analisados, entre 2000 e 2015, o país passou de uma taxa de cesarianas de 27% para 32,3%, mas chegou a ultrapassar os 35% no ano 2011.

Segundo as investigações, há cerca de 60% dos países do mundo que têm uma sobreutilização das cesarianas enquanto 25% têm uma subutilização, o que revela que existem "significativas disparidades" face às recomendações médicas. Em 15 países do mundo, a taxa situa-se acima dos 40%, a maior parte na América do Sul (Brasil, Venezuela, Chile, Paraguai, Cuba ou Colômbia são alguns exemplos).

O Sudeste Asiático foi uma das áreas onde a taxa de cesarianas mais cresceu no período analisado: passou de 7.2% para 15.1%; por outro lado, na África Subsariana, aumentou apenas 1.5%.

Dentro dos próprios países, existem diferenças bastante significativas. É o caso da China, onde há zonas nas quais a taxa de cesarianas é de 6% e outras nas quais é superior a 60%. Dos dois a seis milhões de cesarianas desnecessárias feitas anualmente, metade ocorrem na China e no Brasil.

Se por um lado há situações em que a cesariana é essencial para salvar a vida do bebé ou da mãe, os investigadores alertam que é preocupante a sua utilização quando não é necessária, uma vez que se trata de uma cirurgia que acarreta riscos e que pode causar complicações em futuros partos. Além disso, prevê mais custos de assistência médica do que o parto normal.

Em alguns países, dizem os investigadores, tornou-se "moda" e é considerada mais segura, o que estará a contribuir para um aumento das taxas.

Os investigadores tiveram em conta dados de 169 países, que incluem 98.4% dos nascimentos a nível mundial. Com estes estudos, os autores esperam que seja feito um debate a surjam mais recomendações para diminuir o recurso à cesariana a nível mundial.

Proporções epidémicas

Publicado no início do verão, o Relatório Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) confirma que o recurso à cesariana atingiu "proporções epidémicas" nos últimos 20 anos em Portugal e não está a diminuir como seria desejável, registando-se uma prevalência de 27,6% nos hospitais públicos e o dobro nos privados.

De acordo com a publicação, houve uma "modesta descida nas prevalências", de 36,3% em 2010 para 27,6% em 2015, nos hospitais públicos. Contudo, e embora a frequência de cesarianas tenha descido ligeiramente nos privados neste período, de 67,5% para 63,4%, os valores são o dobro dos verificados em hospitais públicos.

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