A Organização Internacional do Trabalho (OIT) quis saber o que pensam as empresas da equiparidade entre homens e mulheres no mercado laboral, sobretudo nas chefias. Realizou um estudo em 70 países que envolveu 12 940 mil empresas. Concluíram que "a diversidade de género melhora os resultados das empresas e facilita a atração de talento", o que contrasta com a realidade..As conclusões acabam de ser apresentadas em Genebra..A maior parte das empresas envolvidas no estudo são locais mas 27 % são internacionais. Independentemente do seu tamanho: 57,4 % dizem que a diversidade de género melhora o resultado das empresas. Os benefícios não se ficam por aqui, 60,2% registou melhorias e uma subida dos lucros entre 5 e 20%, sendo que a maioria revela ganhos entre 10 e 15%..Outra das vantagens para 56,8 % dos inquiridos é a captação e manutenção de talentos. Para 54,1 % traduz-se numa melhoria na criatividade e inovação, tantos como os que dizem ter aumentado a reputação empresarial. E, para 36,5 %, ajuda a perceber as necessidades do consumidores..O relatório, intitulado "Women in Business and Management: the business case for change", é da responsabilidade da agência para as Atividades dos Empregadores (ACTEMP) da Agência Internacional do Trabalho (BIT)..Os técnicos fizeram, também, a comparação entre a economia de cada país e o envolvimento das mulheres no mercado laboral. Analisaram o produto interno bruto de 186 países, entre 1991 e 2017, concluindo que a força de trabalho feminina impulsiona a economia.."Esperávamos ver uma correlação positiva entre a diversidade de género e o sucesso nas empresas, mas estes resultados são surpreendentes", afirmou Deborah France-Massin, diretora da ACTEMP. E chama a atenção das empresas para as medidas que tomam para aumentar os lucros em 2 ou 3 % quando uma medida não discriminatória teria maior sucesso. "As empresas devem olhar para o equilíbrio de género como uma questão de fundo, não apenas como uma questão de recursos humanos"..Aquelas conclusões batem numa parede quando os dados são comparados com a realidade, nomeadamente em Portugal, onde a diferença salarial entre homens e as mulheres é de 17,5 % - mais 1,3 pontos percentuais do que a média da UE (16,2 %, Eurostat). A maior disparidade reside na Estónia (25,3%), na República Checa (21,8 %) e na Alemanha (21,5 %), em contraste com a Roménia (5,2 %) e a Itália (5,3 %), onde se regista o menor nível de desigualdade salarial..O estudo da ACTEMP divide os 186 países em zonas geográficas. Ao nível dos 34 países da Europa e Ásia Central analisados, Portugal detém a 4. º maior taxa de emprego no feminino (48,7%), fica numa posição intermédia quando se fala nas mulheres em órgãos de gestão (34%) e desce para 23.º lugar no que diz respeito a dirigentes de nível intermédio e superior do sexo feminino (30%)..E há um indicador em que Portugal é destacado: a oscilação da representação feminina em órgãos de chefia. "Os EUA e a Alemanha, por exemplo, registam um aumento no número de mulheres em cargos de chefia de nível intermédio e superior nas últimas duas décadas. Em Espanha, as mulheres ocupam gradualmente um maior número destes cargos desde 2003. No entanto, a situação é desigual em Portugal e na Grécia, onde se registam períodos de crescimento e de contração. Na América do Sul, entre 2012 e 2017, as mulheres progrediram mais substancialmente no Brasil do que no Uruguai e Equador. Na Ásia e no Pacífico, observam-se tendências opostas: na Austrália quase não houve progresso nos últimos anos; nas Filipinas caiu consideravelmente, enquanto na Tailândia a percentagem de mulheres em cargos de gestão alcançou os 30% em 2016"..Analisando o perfil dos entrevistados, os técnicas da OIT concluíram que há mais 3,7 % de probabilidades de uma mulher ocupar um lugar na direção quando é contratada por uma empresa nacional contrariamente às internacionais; e quanto maior for a proporção de mulheres contratadas, a probabilidade de ocuparem posições de chefia aumenta em 10 %..Porque é que persistem as desigualdades?.Um dos fatores enumerado no relatório que impede as mulheres de alcançar a liderança é a cultura de algumas empresas ao exigirem disponibilidade "a qualquer hora, em qualquer lugar". E, quando se analisa a divisão das tarefas domésticas, ainda são elas a ter a maior fatia do trabalho bem como no cuidar da família, Outra das dificuldades apontadas reside nas políticas da conciliação entre a vida profissional e familiar, que "devem ser melhoradas, como é o caso dos horários flexíveis e as licenças de paternidade"..Verifica-se, também, uma "tendência para diminuir o número de mulheres quando o grau de responsabilidade aumenta", a que os estudiosos classificam como o fenómeno do "teto de vidro". Significa isso que a proporção de ambos os sexos em órgãos de gestão varia de acordo com as áreas da empresa. Há mais mulheres na direção nos recursos humanos, finanças e administrativas, acontecendo o oposto nos setores operacionais, desenvolvimento e contabilidade, "que são consideradas áreas mais estratégicas e que podem ser um trampolim para uma posição de diretor geral ou para outros cargos no conselho de administração..Estereótipos na base da segregação.A socióloga Sara Falcão Casaca explica que há barreiras sistémicas, desde logo os estereótipos de género e que estão na base da segregação sexual. Fala na "associação simbólica entre os atributos socialmente atribuídos aos homens, como independência, objetividade, orientação para o poder, ambição, competitividade, secundarização da vida familiar, precisamente as características que mais se colam à representação social em torno de um gestor eficiente e de um bom líder, enquanto as mulheres continuam a ser vistas como tendo como as principais cuidadoras, com uma menor orientação para o poder e para a competitividade, «naturalmente» menos vocacionadas para ocupar posições estratégicas e de liderança na vida económica e empresarial"..Existem, depois, "constrangimentos em termos de modelos de organização do trabalho e de culturas organizacionais pouco inclusivas e amigas de quem não se encaixe no modelo dominante na norma ideal de trabalhador isento de responsabilidades familiares", sublinha. Além dos "constrangimentos que se prende com a organização ainda tradicional das responsabilidades domésticas e familiares"..Portugal tem vindo a tomar algumas medidas para diminuir as desigualdades de género no trabalho, sendo a mais recente a lei nº 60/2018, que visa combater as desigualdades salariais. Compete à entidade empregadora "assegurar a existência de uma política remuneratória transparente, assente na avaliação das componentes das funções, com base em critérios objetivos, comuns a homens e mulheres, nos termos do artigo 31.º do Código do Trabalho)"..É um dos temas de estudo da investigadora, que diz ser cedo para uma avaliação. Mas considera a medida "um passo importante", salientando: "Os valores do diferencial salarial entre mulheres e homens não são compatíveis com uma sociedade socialmente justa. No entanto, recai sobre um número restrito de empresas. É preciso, complementarmente, incentivar os parceiros sociais a trabalhar conjuntamente nesse sentido. Não é por acaso que as ferramentas mais robustas, testadas pela OIT, assentam em metodologias de avaliação dos postos de trabalho".