Bastonário da Ordem dos Médicos: "Não posso garantir" que não morram doentes por causa da greve

O bastonário da Ordem dos Médicos reuniu-se esta segunda-feira com os diretores dos cinco hospitais afetados pela greve dos enfermeiros, que dura há mais de duas semanas. Voltou a apelar ao governo para resolver a situação. A greve terá já adiado cerca de cinco mil cirurgias
Publicado a
Atualizado a

À saída da reunião com os diretores clínicos dos hospitais onde está a decorrer a greve dos enfermeiros da área cirúrgica, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, manifestou preocupação com os efeitos desta paralisação. À pergunta: "pode garantir que não haja doentes a morrer por causa da greve?", respondeu: "Não posso garantir isso". "Não posso garantir que alguns doentes não possam ser prejudicados e de forma complexa", acrescentou aos jornalistas. Existiram cirurgias de doentes prioritários adiadas "porque nem todos conseguiram entrar nos chamados serviços mínimos".

Para Miguel Guimarães este é o problema que vai além dos cinco centro hospitalares afetados pela greve que começou a 22 de novembro e que deverá durar até ao final do mês. "É um problema nacional, porque envolve o Serviço Nacional de Saúde". Devido a esta paralisação, o bastonário conta que, por exemplo, o Hospital de Santa Maria já transferiu alguns doentes prioritários para outras unidades hospitalares, como o Hospital de São José e o Hospital Beatriz Ângelo. A preocupação que lhe foi transmitida pelos cinco diretores clínicas prende-se sobretudo pelos doentes prioritários ou graves, garantindo que tem sido feito tudo o que é possível para serem submetidos a cirurgias. "Os doentes prioritários estão a ser tratados ou já foram tratados", garante o bastonário, que apela ao Governo uma solução para esta situação.

"Existe também uma grande preocupação com as crianças", frisou, referindo-se ao facto de muitas cirurgias programadas e que não podem ser realizadas poderem fazê-las perder o ano letivo. Uma "greve cirúrgica", assim é denominada, que afeta também os doentes não prioritários, uma vez que "vai aumentar a lista de espera" no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"Não faz sentido" médicos operarem sem enfermeiros

O bastonário afirmou que os diretores clínicos "estão a monitorizar a situação a todo o tempo" e "a rentabilizar ao máximo os serviços mínimos". Disse não ter o número de cirurgias adiadas, mas afirmou que a Ordem dos Médicos vais ser informada de dois em dois dias sobre quantos doentes prioritários viram as suas cirurgias adiadas.

Miguel Guimarães descarta a possibilidade de os médicos realizarem cirurgias sem os enfermeiros. "Não faz sentido nenhum. Os médicos trabalham em equipa e o trabalho em equipa é fundamental. Não estamos numa situação de catástrofe ou que tenha sido declarado estado de emergência", argumentou.

Desde que começou a greve dos enfermeiros aos blocos operatórios, há mais duas semanas, já foram adiadas cerca de 5 000 cirurgias, segundo avançou fonte sindical à agência Lusa.

A Ordem dos Médicos apela ao Ministério da Saúde para que "assuma a sua responsabilidade" e entende que é fundamental que os hospitais onde decorre a greve divulguem diariamente o número de doentes não operados e a gravidade das suas situações clínicas.

"Os portugueses têm o direito a saber a verdade dos números e a gravidade das situações", considerou.

A "greve cirúrgica" dos enfermeiros, que se iniciou em 22 de novembro e termina em 31 de dezembro, está a decorrer nos blocos operatórios do Centro Hospitalar Universitário de S. João (Porto), no Centro Hospitalar Universitário do Porto, no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, no Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e no Centro Hospitalar de Setúbal.

A ministra da Saúde, Marta Temido, disse que as cirurgias adiadas devido à greve dos enfermeiros vão ser reagendadas a partir de 01 de janeiro de 2019.

Atualizado às 14:47.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt