Carnaval nos Açores: batalha de sacos plásticos é "atentado ambiental?"

No dia do Entrudo, açorianos travam uma guerra com balões de água feitos com sacos de plástico. A tradição é considerada um "atentado ambiental" pela Associação Amigos do Calhau.
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É uma guerra de balões de água gigante. Em Ponta Delgada, Açores, no dia de Carnaval, a Avenida Infante D. Henrique transforma-se num campo de batalha, onde voam pequenos sacos de plásticos cheios de água. É a Batalha das Limas. Esta terça-feira, a tradição centenária única no país cumpriu-se novamente, apesar das criticas do Partido Ecologista `Os verdes` e da associação açoriana Amigos do Calhau sobre o impacto ambiental negativo associado à iniciativa.

A Batalha já não toma de assalto a cidade, como outrora, é antes circunscrita à Praça Gonçalo Velho e arredores, mas ainda trava o trânsito na Avenida Infante D. Henrique. Centenas de pessoas assistiram ao combate entre oito equipas de "guerreiros de água", protegidos com capacetes em cima de camiões, onde também estavam os bombeiros de Ponta Delgada, segundo o Açoriano Oriental.

Protegidos pelas nove viaturas ou sem escudo e a pé, os açorianos lançaram uns aos outros balões de água improvisados em sacos de plástico - a única água que nessa tarde caiu nas ruas de Ponta Delgada, depois de uma manhã de chuva.

No entanto, houve quem levasse a mal a brincadeira, mesmo em altura de Carnaval. No início do mês, Os Verdes chamaram a atenção para a quantidade de plástico envolvida na Batalha, acrescentando que muitos dos sacos acabam no mar e nos esgotos por causo do vento e lembrando que este material leva 400 anos a degradar-se.

"Os Verdes expressam o seu descontentamento pela forma como é permitida levar à prática a Batalha das Limas, em São Miguel. Os Verdes não se opõem à tradição, mas consideram que este festejo popular só deve ser permitido com materiais biodegradáveis ou reutilizáveis, salvaguardando os valores naturais da região e o respeito por todos", pode ler-se num comunicado no site do partido.

Também a associação de defesa do ambiente Amigos do Calhau tem denunciado esta prática. José Pedro Medeiros, um dos membros da organização com 12 anos, estima que tenham sido usados "cerca de um milhão de sacos de plástico este ano", que filmou antes de a autarquia começar a limpar a rua, por volta das 19:30.

"Os Açores são uma região que se assume como sustentável. Nós que vivemos cá todos os dias educamos os nossos filhos e dizemos-lhes que se deve reduzir o plástico e no fim chegamos a um dia - ao dia de Carnaval -, que toda a gente acha que é um dia de diversão e que ninguém leva a mal, e os próprios municípios e as juntas de freguesia incentivam algumas dezenas de foliões a fazerem uma luta de sacos de plástico, que deixa a cidade num atentado ambiental terrível, que não é compreensível para os dias de hoje", afirma José Pedro Medeiros ao DN.

Além do plástico, o açoriano chama ainda a atenção para a quantidade de água gasta no Entrudo.

A Batalha de Limas, que hoje é embrulhada em plástico, começou por ser feita com pétalas de flores. Passou ainda, durante a década de 1970, a bolas de parafina artesanais que eram enchidas com água - as Limas - feitas em casa nas semanas que antecediam o Carnaval.

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