Filho de um milagre chamado esperança: o primeiro bebé refugiado do Fundão
Jaxon veio ao mundo com 51 centímetros e 3 quilos 380 gramas, a 21 de novembro, por volta das 22 horas. Nasceu no Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, cinco meses depois de o Fundão o ter acolhido, ainda na barriga da mãe.
É o primeiro bebé refugiado do Centro para as Migrações do Fundão e representa um milagre maior chamado esperança. Já está "em casa", com os pais e os restantes refugiados que também veem nesta nova vida um sinal para novo recomeço, a milhares de quilómetros dos seus países que não os souberam proteger.
Stanley e Blessing são um jovem casal. Ele tem 25 anos, ela 23. Ele trabalhava como mecânico. Ela estava a aprender para ser costureira. Apaixonaram-se, casaram e fugiram da Nigéria. Entre o perigo de morte e a sobrevivência, escolheram a vida. Levaram um ano até chegar a um porto de abrigo chamado Portugal, país de muitas partidas e também algumas chegadas.
Percorreram cerca de 5 mil quilómetros, passando pelo Niger e pela Líbia, de onde guardam memórias dramáticas.
Tão dramáticas como aquelas que os fizeram fugir da perseguição religiosa no país mais populoso do continente africano, onde o grupo islâmico Boko Haram espalha terror e morte.
O seu novo mundo é, desde junho, o antigo Seminário, a casa dos refugiados que o Fundão acolheu e onde o bebé Jaxon tem uma grande família para o ajudar a crescer em liberdade e segurança.
Este bebé simboliza a esperança, trazendo também com ele a dimensão de futuro, que não tinha lugar na vida dos refugiados, até serem acolhidos.
"É um novo recomeço", diz Stanley ao Jornal do Fundão, entre sorrisos e muita emoção. A mãe, Blessing, ainda não se refez da cesariana.
"O pai é inexcedível nas atenções para o filho. Nunca vi um pai igual", confirma Paula Pio, coordenadora do Centro e também ela com a emoção à flor da pele, enquanto ajuda a repórter a viajar pela história dramática deste jovem casal, que tem agora pela frente uma viagem feliz com o pequeno Jaxon.
"Esta nova vida vem também ajudar a reforçar o sentimento de família no Centro", afirma a coordenadora, sublinhando que a criança ajudou a reaproximar e a unir migrantes de diferentes latitudes do mundo.
Depois de um início de vida muito atribulado, Jaxon dorme um sono tranquilo, nos braços do pai. Estavam num campo de refugiados da Líbia, quando a mãe soube que dentro de si crescia um bebé. Houve sorrisos, mas também muitas lágrimas, conta o pai. "Não havia comida, nem médico...".
Raros foram os dias em que as lágrimas não correram pelo rosto de Blessing. Fez o trajeto de barco, desde a Líbia até Portugal, já com o bebé na barriga. Chorou muito nesta viagem que a fez mãe. Agora, sorri, na sua nova casa que é, simultaneamente, porto de abrigo para mais 23 refugiados de diferentes proveniências e culturas e cuja maior aspiração é viver em segurança, sem medo da morte e com direto a futuro.
O bebé Jaxon nasceu num país livre, que soube acolhê-lo em segurança, mesmo antes de saber da sua existência. "Agora, sou o homem mais feliz do mundo", remata o pai, desviando os olhos meigos para o filho. Um pai emocionado, a quem faltam as palavras para explicar o que sente.
Foi em Portugal que Stanley e Blessing experimentaram o sabor da liberdade e dizem que é também aqui que querem ver o filho crescer.