"Deepfake". Pornografia e política são os principais alvos de vídeos falsos na net
A pornografia e a política são as principais áreas afetadas pela tecnologia 'deepfake', vídeos falsificados ultrarrealistas criados com recurso à inteligência artificial, refere um estudo conduzido por uma empresa especializada em cibersegurança divulgado esta semana.
Esta tecnologia tem sido usada para criar falsos vídeos de caráter sexual de celebridades, ou falsos vídeos de pornografia de vingança ("revenge porn"), por exemplo.
De acordo com estudo da empresa holandesa Deeptrace, divulgado na segunda-feira, dia 7, a grande maioria das 'deepfakes' criadas - 96% - são referentes a conteúdo pornográfico, representando a esmagadora maioria dos 14.678 vídeos identificados 'online'.
Um dos três autores do estudo, Giorgio Patrini, presidente da Deeptrace, refere que este fenómeno começa a ter repercussões também na esfera política.
"Dois casos assinaláveis do Gabão e da Malásia, que receberam fraca cobertura dos 'media' ocidentais, diziam respeito a uma alegada dissimulação governamental e a uma campanha política de difamação", acrescentou Patrini.
No caso do Gabão, o líder da Deeptrace referia-se à especulação originada pela ausência do Presidente do país, Ali Bongo, da esfera pública, por questões de saúde. Numa tentativa de pôr fim às dúvidas, o Governo gabonês publicou um vídeo em que o chefe de Estado enviava a sua tradicional mensagem de Natal.
No entanto, o vídeo foi recebido com alguma reserva pelos gaboneses, que duvidaram da sua veracidade e suspeitaram que se tratava de um 'deepfake', levando um grupo de militares a tentar um golpe de Estado, alegando algo de errado com a aparência do Presidente.
A análise forense ao vídeo não encontrou quaisquer sinais de que este tivesse sido manipulado.
No caso da Malásia, o ministro dos Assuntos Económicos, Azamin Ali viu-se no meio de um escândalo sexual, com o surgimento de um vídeo que o colocava em relações sexuais com um assessor de um político oda oposição.
O primeiro-ministro da Malásia, país onde a homossexualidade é ilegal, foi um dos que saiu em apoio de Azamin Ali, com os seus apoiantes a argumentarem que se tratava de um 'deepfake' com o objetivo de destruir a sua carreira política.
De acordo com a Deeptrace, especialistas na análise de vídeos e de identificação de 'deepfakes' não conseguiram confirmar que se trata de uma falsificação.
"O crescimento dos 'media' sintéticos e de 'deepfakes' está a empurrar-nos para uma importante e perturbadora conclusão: a nossa crença histórica de que o vídeo e o áudio são registos fiáveis da realidade já não é sustentável", sublinhou o presidente da empresa holandesa.
O relatório identificou 14.678 'deepfakes' nos últimos sete meses, quase o dobro face aos 7.694 identificados em dezembro de 2018.
Os vídeos falsificados, que por vezes utilizam vozes sintetizadas e imagens criadas de origem, "têm sido usados para influenciar a opinião pública contra empresas e governos", referem os autores do estudo.