A mulher por detrás do algoritmo que permitiu ver um buraco negro

Chama-se Katie Bouman e tem 29 anos. Diz que conseguir uma imagem de um buraco negro é como "fotografar uma uva na lua".

Foi há pouco menos de um ano. Estava um dia quente de junho quando Katie Bouman e três colegas se sentaram em frente aos computadores, numa sala apertada do Massachussets Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, longe de olhares curiosos. A informação sobre a qual estavam a trabalhar, uma quantidade tão massiva que não pôde ser enviada pela Internet e foi transportada em discos rígidos até à universidade, estava prestes a chegar ao resultado final. Ou não - tudo dependia do algoritmo que Katie Bouman e a sua equipa tinham criado para reunir e dar coerência aos dados recolhidos por oito radiotelescópios espalhados pelos quatro cantos do mundo. O algoritmo funcionou: naquele dia de junho aquelas quatro pessoas foram as primeiras a ver a imagem de um buraco negro maciço, a mesma que foi revelada ao mundo esta quarta-feira.

A foto desse momento, em que a imagem de um buraco negro situado no centro da galáxia Messier 87, na constelação de Virgem, a 55 milhões de anos-luz da Terra, se desenha no ecrã dos supercomputadores que foram usados neste processo, foi agora revelada por Bouman e pelo MIT. "A olhar, incrédula, enquanto a primeira imagem que fiz de um buraco negro estava em processo de reconstrução", escreve a cientista, que está esta quinta-feira em destaque em vários órgãos de comunicação internacional.

"O anel apareceu tão facilmente. Foi inacreditável", afirmou Bouman à revista Time, acrescentando que "foi difícil ficar calada" todos estes meses - "Não contei sequer à minha família".

Com 29 anos, Katie Bouman é licenciada em engenharia elétrica e ciências da computação. Atualmente, dá aulas na Universidade de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena. Quando, há seis anos, começou a colaborar no projeto internacional do Telescópio Event Horizon (EHT, na sigla em inglês)​​​​​, liderando a equipa que criou o algoritmo, estava a fazer o doutoramento em visão computacional, mas não sabia nada de buracos negros. Mas o seu objetivo de criar formas de ver ou medir coisas que não são visíveis tornou-a uma boa candidata ao lugar e, depois, uma especialista no assunto.

Em declarações ao MIT, a jovem cientista afirma que conseguir uma imagem de um buraco negro é como "fotografar uma uva na lua, mas com um radiotelescópio. Isto significa que precisaríamos de um telescópio com dez mil quilómetros de diâmetro, o que não é prático porque o diâmetro da terra não chega a 13 mil quilómetros".

No Twitter, o MIT compara Katie Bouman a Margaret Hamilton, a cientista a quem é atribuído o código de software que permitiu a missão espacial da Nasa à lua.

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