A criatura "fantasma" que sobreviveu a 30 eras glaciais
Uma equipa internacional de investigadores passou os últimos 20 anos a recolher amostras de seis espécies diferentes de microartrópodes em 91 locais da Antártida. Estes minúsculos animais que vivem no solo são designados de colêmbolos. Um deles, Tullbergia mediantarctica, recebeu uma alcunha pouco científica: colêmbolo fantasma.
"Chamamos-lhe colêmbolo fantasma porque é branco, como um fantasma, mas, como não o tínhamos encontrado após anos e anos e anos de procura, começámos a interrogar-nos se ele realmente existia", comentou Byron Adams, professor de Biologia da Brigham Young University, no Utah, EUA.
Estes pequenos organismos têm uma mobilidade muito limitada e só podem colonizar áreas sem gelo. Ao analisar a sua distribuição geográfica e características genéticas, Adams e os restantes investigadores confirmaram a diversidade de eras glaciais e de períodos mais quentes nos quais houve ausência de placas de gelo na região do mar de Ross, na Antártida.
As conclusões do estudo, que envolveram investigadores da Universidade Complutense de Madrid, Universidade de Waikato (Nova Zelândia), Polar Knowledge Canada, o British Antarctic Survey, a Universidade de Pretória, a Universidade Estatal de Ohio e a Universidade Estatal do Colorado, foram publicadas no Proceedings of the National Academy of Sciences.
"A história evolutiva dos organismos biológicos pode corroborar o que deduzimos da glaciologia e geologia sobre as alterações climáticas no passado", disse Adams. "Ao fazê-lo, somos mais capazes de prever como a vida na Terra poderá responder agora a estas mudanças", afirmou o investigador ao site da sua universidade.
Ao estudar as suas atuais localizações e padrões de divergência genealógica e evolutiva, Adams e a sua equipa são capazes de compreender melhor como o manto de gelo da Antártida Ocidental mudou ao longo do tempo.
"Se queremos realmente compreender como as alterações climáticas irão atingir-nos no futuro, é importante compreender como elas afetaram a vida no passado", afirma Adams, que há 17 anos viaja para a plataforma de gelo Ross para recolher amostras.
Os investigadores encontraram quatro espécies das criaturas que apresentavam populações geneticamente distintas em locais que poderão ter estado isolados durante milhões de anos. As outras duas espécies eram menos diversificadas geneticamente, embora o seu raio geográfico fosse restrito.
As informações recolhidas permitem o estabelecimento de padrões que dão uma estimativa do tempo e magnitude dos avanços e recuos da camada de gelo na Antártida.
"A biologia pode ser uma ferramenta poderosa para tirar conclusões sobre a história da Terra", disse Adams. "Ficámos entusiasmados ao ver que a história evolutiva dos organismos é consistente com os atuais modelos e estimativas geológicas e glaciológicas da dinâmica das placas de gelo da Antártida Ocidental."