Um futuro para lá da nicotina

Mais interventiva a nível social e com uma aposta cada vez maior em produtos que nada têm a ver com tabaco. Este é o rumo que a Philip Morris International quer trilhar a médio e longo prazo.
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Atingir os mil milhões de dólares de receita líquida até 2025 a partir de projetos que nada têm a ver com nicotina. É este um dos objetivos da Philip Morris International (PMI), que apresentou a estratégia para os próximos anos em fevereiro, durante o Investors Day. Aos acionistas, a gigante da indústria tabaqueira explicou como, a partir do conhecimento e tecnologias adquiridos nos últimos anos, o grupo irá diversificar o seu portfólio de negócios estendendo-se a áreas como a botânica, os produtos de bem-estar, o lifestyle ou a medicina. "Não somos apenas uma empresa de tabaco ou nicotina, somos mais do que isso", garantiu Andre Calantzopoulos, CEO da PMI.

Para o responsável, o conhecimento que o grupo detém em áreas como as ciências da vida, tecnologia de inalação, ingredientes naturais e desenvolvimento comercial, deve ser usado para explorar novas áreas de negócio. A longo prazo, isto pode mesmo significar a alteração do caráter do grupo para uma empresa mais centrada nos segmentos de lifestyle e bem-estar do consumidor. Numa fase inicial serão alavancados os recursos que o grupo tem na área da botânica e das tecnologias relacionadas com a inalação e os aerossóis, as quais podem ser utilizadas, por exemplo, para soluções médicas na área da pneumologia, desenvolvidas em conjunto com outros parceiros de investigação. De referir que a PMI, tendo como base a estratégia de sustentabilidade que norteia o grupo, tem apoiado a investigação científica em áreas não relacionadas com o tabaco, nomeadamente na doença neurológica.

Citaçãocitacao"Não somos apenas uma empresa de tabaco ou nicotina, somos mais do que isso".

Na mesma altura, Emmanuel Babeau, CFO da PMI, explicou que o investimento no que batizou como "Iniciativa Além da Nicotina" será feito "de forma orgânica". "Tendo em conta tudo o que temos feito em termos de ciências biológicas, tecnologia, experiência do consumidor, temos legitimidade reconhecida em algumas áreas. E queremos ter a certeza que aproveitamos esse potencial com base na capacidade que conseguimos reunir", afirmou Babeau.

A saúde pública, nomeadamente na área da prevenção do tabagismo e redução tabágica é outra das áreas em que a PMI gostaria de poder ter uma postura mais ativa, nomeadamente promovendo a mudança de atitude em relação aos produtos de nicotina com risco modificado.

Os responsáveis da PMI defendem que é urgente que a lógica da redução de risco, seguida para lidar com realidades tão distintas como são as alterações climáticas ou a toxicodependência, passe também a ser utilizada no que diz respeito aos hábitos tabágicos. "Produtos desenvolvidos com base na ciência podem levar os consumidores a abandonar os cigarros muito mais rapidamente do que apenas medidas restritivas. Mas é absolutamente necessário um quadro regulatório diferenciado se queremos ter sucesso", referiu Andre Calantzopoulos. "Acreditamos que a regulação certa elimina a confusão na cabeça dos consumidores e aumenta a confiança. E mais informação dá aos consumidores o conhecimento para tomarem decisões informadas", referiu Calantzopoulos, que defende que o acesso a este tipo de produtos, no contexto de programas de saúde pública tem de ser altamente regulado.

Para o CEO da PMI, este eventual regime regulatório teria sempre de incluir notificações pré-comercialização, uma monitorização do uso depois da chegada ao mercado e a realização de estudos para aferir os efeitos epidemiológicos deste tipo de políticas.
Mas, para que esta transformação aconteça é necessário, de acordo com a PMI, mudar o modo como a comunicação sobre os produtos de risco modificado é feita.

Em 2017, a Food and Drug Administration (FDA), organismo federal que regula alimentação e medicamentos nos EUA, assumiu que, embora a nicotina não seja benigna, são os químicos libertados na combustão do tabaco os principais responsáveis pelas doenças associadas aos hábitos tabágicos, como patologias do pulmão e vários cancros. É importante que a informação seja divulgada, permitindo ao consumidor escolhas mais informadas, sublinham os responsáveis.
"Cerca de 70% dos fumadores (e a maioria dos reguladores) ainda pensa que a nicotina é o problema; não é", vinca Calantzopoulos. "A nicotina causa adição, mas é a combustão que provoca as doenças associadas ao tabagismo", conclui.




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