Televisão, internet e móvel. Portugal é melhor do que parece

Uma das primeiras coisas que se faz quando se chega a um país diferente é reestabelecer os canais de comunicação: televisão, internet e telemóvel. Pensei que ia ser fácil. Há várias promoções, bastante concorrência e lojas de telecomunicações em cada esquina. Não foi.
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Liguei para quase todos os fornecedores de internet e televisão disponíveis na área de Los Angeles. Num caso, estive dez minutos à espera que me atendessem. Noutro, só me davam informações se fornecesse o número de Segurança Social (não me parece, amigo). E noutro, o funcionário atendeu num inglês tão cerrado que não percebi metade das propostas (ele acabou mesmo de me oferecer 15 endereços de email? Para quê?!).

Depois de muito pesquisar, percebi que não ia conseguir ter um pacote único com tudo o que precisava. 4 Play é coisa que não existe por aqui, e internet com 100 megas de velocidade é um mito urbano. Consegue-se empacotar televisão, internet e chamadas fixas, mas o preço não é o mais apelativo - cerca de 80 euros por 200 canais, 50 megas e chamadas no fixo, e isto apenas no primeiro ano. Pior, os pacotes não têm os melhores canais. Para ter CNN, Bloomberg e outros canais noticiosos todos no mesmo pacote é preciso cavar bastante. E se tem notícias, esqueça lá as séries do momento. Se tem as séries, toca a pagar os filmes. Se quer ver desporto, então, o melhor é arranjar um segundo emprego.

Resultado: internet da Time Warner Cable (20 megas por 34 euros), televisão da DirectTV, 130 canais por 40,6 euros (com desconto nos primeiros 12 meses) e telemóvel da T-Mobile, 40 euros por 1 giga de internet, chamadas e sms. Quando a televisão foi instalada, ofereceram-me três meses de Showtime e HBO - um pacote que, sozinho, passa a custar mais 32 euros após a promoção. O que é que estes canais têm? Guerra dos Tronos, Boardwalk Empire, Segurança Nacional. A partir da Primavera, acabam-se estas séries na minha televisão. Mas pior ainda é o retrocesso no nível de serviço. Gravação automática? Reiniciar programas? Continuar a ver noutros ecrãs? Os técnicos de vendas ficam embasbacados com estas perguntas. Canais próprios? Live TV? Certamente não haverá mercado no mundo onde ofereçam isso tudo, e se oferecerem deve ter um preço proibitivo.

Ou então, é Portugal. Com todos os defeitos que se podem apontar às operadoras de televisão, internet e móvel em Portugal, a verdade é que o nível de inovação oferecido é fenomenal. A evolução que ocorreu nos últimos anos tornou o mercado português num dos mais dinâmicos do mundo.

E se os preços nos telemóveis me pareciam ainda elevados, bastou passar por três das quatro maiores operadoras dos Estados Unidos - T-Mobile, AT&T e Sprint - para me desenganar. A maioria dos planos oferecidos começavam nos 56 euros por mês, com chamadas, SMS e 1 a 3 gigas de internet (embora tenha encontrado um a 40 euros).

Sim, há operadores virtuais, como a Red Pocket e a Simple Mobile, que cobram menos 10 ou 15 euros, mas é preciso ter sorte com a zona, porque a recepção nem sempre é a melhor nestes casos. E se quiser comprar um telemóvel novo? Quanto dinheiro tem de dar à partida depende do "credit score", o perfil pessoal de crédito de qualquer consumidor nos Estados Unidos. Isso determinará a necessidade de depósitos dos pagamentos mensais e até a taxa de juro, se for caso disso. Quem não tem ainda um "credit score", como eu? Tenta desbloquear o iPhone que veio de Portugal e ler as letras miudinhas todas dos contratos. Porque há coisa que aqui funciona na perfeição: a cara de póquer dos vendedores, e a mestria em apresentar as suas ofertas como a melhor coisa desde o pão fatiado.

E agora, está na hora de ir pôr o alarme para não perder o próximo episódio de Segurança Nacional.

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